3º Domingo do Advento
11 de dezembro de 2022

Alegrai-vos! Ele está bem perto!

O tempo do Advento é o tempo litúrgico mais curto do ano: apenas quatro semanas. E já estamos na metade deste tempo…


Advento, é bom lembrar, significa “vinda, chegada”. É o tempo de preparação para a chegada de Jesus, o Filho de Deus feito homem por amor à humanidade. É o tempo de nos aprofundarmos no mistério da Encarnação – o grande mistério de Deus que se faz homem, que assume a realidade da carne, que entra em nossa História, que se aproxima tanto de nós, por amor, que se faz um de nós. Como cristãos e cristãs que somos, cremos que, em Jesus de Nazaré, Deus assume nossa realidade humana, com todo o peso inerente a ela.

Celebramos a chegada de Jesus no Natal. Mas no Advento celebramos o mistério da Encarnação já presente em nosso mundo, ainda que escondido, acontecendo no ventre de Maria, a Mulher Grávida da História, que está gerando o Esperado das Nações – ela, a quem chamamos Mãe de Deus e Mãe nossa. Maria é a grande protagonista que atravessa o Advento, carregando em si mesma a realização das profecias e dos chamados insistentes de todo um povo que acreditava nas promessas de Deus e ansiava pela chegada do Salvador.

Sim, a humanidade caminhava como que em meio às trevas de uma noite escura, esperando com sofreguidão o despontar da Luz. Um dia, já em sua vida pública, Jesus dirá: “Eu sou a luz do mundo” (Jo 9, 5). Assim como, no meio da escuridão, não conseguimos enxergar, assim caminhava a humanidade, ainda não capaz de perceber a imensidão do amor de um Deus que é Misericórdia, nem a beleza de seu projeto, que é o Reino. Jesus veio para que pudéssemos vislumbrar o rosto do Pai e conhecer o caminho para entrar em seu Reino. 

Nesta caminhada simbólica que fazemos no Advento, estamos já no seu 3º Domingo… Se compararmos o tempo do Advento ao tempo da “escuridão da humanidade” antes da plenitude da Revelação trazida a nós por Jesus, diríamos que, neste 3º domingo, uns lampejos de claridade já se fazem ver no horizonte… O alvorecer começa a se fazer presente… Começamos a ser capazes de distinguir formas, silhuetas, mas ainda sem ter a claridade da visão que a luz da Palavra e da Presença de Jesus trazem à nossa Terra. Por isso, um dos fios que tecem a unidade da liturgia deste domingo é o fato de “VER”.

Na Primeira Leitura (Is 35, 1-6a.10), o texto do profeta Isaías fala da alegria da Salvação que está para chegar. É um texto cheio de esperança, que fortalece o povo que está à espera de sua libertação. O profeta chama toda a natureza a se alegrar também, pois a salvação abarca toda a criação: “Alegrem-se o deserto e a terra seca, […] os campos e as flores…” Alegria, fertilidade e beleza se espalharão por toda a Terra… A humanidade, cansada e enfraquecida por tantas adversidades, pode levantar a cabeça: “Fortaleçam as mãos cansadas, firmem os joelhos cambaleantes, alegrem os corações desanimados: Sejam fortes! Não tenham medo! Vejam, o Deus de vocês […] vem para salvar vocês!”

Estas palavras que reconfortaram os corações do Povo de Deus no tempo de seu exílio, são reconfortadoras para nós hoje também. Sim, também hoje podemos estar com as mãos cansadas, os joelhos cambaleantes e os corações desanimados… São tantas as dificuldades que temos que enfrentar: divisões, mentiras, ódios, farsas, desigualdades, desastres naturais – são tantas as situações que nos fazem clamar ao céu por salvação… A Palavra de Deus vem hoje para nos fortalecer na esperança: “Ele vem nos salvar”…

Entre os sinais desta salvação que está por vir e, ao mesmo tempo, entre as transformações e milagres que ela vai operar, o profeta anuncia: “Então, os olhos dos cegos vão se abrir” e eles vão enxergar… E nós vamos enxergar… A Palavra de Deus usa muitas vezes o ato de “ver” como símbolo do ato de “crer”. Aquele que crê vê Deus agindo, e ele sempre age no sentido de nos salvar. Por isso, o ato final do projeto de Deus traz alegria: “Os que foram resgatados […] carregarão uma alegria sem fim, e serão acompanhados pelo prazer e pela alegria: a tristeza e o pranto fugiram”.

Por toda esta imensa esperança que a Palavra de Deus hoje nos anuncia, enchendo nossos corações de alegria e de entusiasmo, este 3ºDomingo do Advento é chamado de “o domingo da Alegria”.

O Salmo 146 (145) louva a Deus pelos seus feitos e afirma ser feliz quem se apoia nele e nele coloca sua esperança. A mesma imagem que vimos no texto de Isaías, aparece também no Salmo: “O Senhor abre os olhos dos cegos”. Sim, o olhar de fé sobre os acontecimentos nos faz perceber o sentido salvífico das ações de Deus ao longo de nossa vida e nos torna capazes de louvá-lo por tudo o que ele faz.

É verdade que esta atitude pode tornar-se difícil em determinados momentos de nossa história pessoal… Como louvar a Deus em momentos de sofrimento? Esta mesma pergunta foi feita pelo Povo de Deus do Antigo Testamento quando se encontrava longe de sua terra, de seus costumes, de suas festas e celebrações, amargando uma vida de exilados: “Como cantar a Deus em terra estranha?” Nestas situações, quando nos parece difícil louvar, Santa Maria Eugênia nos convida a uma atitude de confiança. Falando da ação de Deus, ela diz: “Não há mão mais sábia nem mais amorosa que possa conduzir nossa vida”. 

A confiança é irmã da esperança… Por meio dela também podemos alcançar esta atitude de louvar a Deus por tudo o que ele faz. E ela também nos leva anão perder a esperança na salvação que vai chegar…

A Segunda Leitura (Tg 5, 7-10) também nos chama à esperança. Diz São Tiago em sua carta: “Fiquem firmes e fortaleçam seus corações, pois a vinda do Senhor está próxima”. São Tiago, assim como os primeiros cristãos, acreditavam que a segunda vinda do Senhor no que chamamos “o final dos tempos” fosse algo já próximo. Hoje, mais de 2000 anos depois, sabemos que não é bem assim… No entanto, a vinda do Senhor continua acontecendo na vida de cada um de nós se nossa fé for viva. Por isso, podemos continuar a usar estas palavras de São Tiago para não esmorecer diante das dificuldades da vida: “a vinda do Senhor está próxima”…

Aliás, o Advento abarca estas duas dimensões: a primeira vinda de Jesus em seu nascimento no meio de nossa humanidade, e a sua segunda vinda, no fim dos tempos. Entre estas duas vindas, há a sua vinda a cada um de nós. E esta está sempre próxima…

O evangelho deste domingo (Mt 11, 2-11), coloca diante de nós João Batista e Jesus. João foi aquele que preparou o caminho de Jesus. Ele foi o grande profeta que anunciou não a vinda ainda longínqua da salvação, mas a chegada imediata do Salvador. João tinha preparado o povo, por meio da pregação e do batismo de penitência ao qual convidava seus seguidores, a acolher a pregação de Jesus. Antes de começar sua vida pública, Jesus foi até João, juntou-se à multidão que o ouvia e fez-se batizar por ele.
Na cena do evangelho de hoje, João está preso e envia alguns de seus discípulos até Jesus com uma pergunta para se certificar de que ele era realmente o Messias, o Enviado, o Ungido de Deus. Jesus responde a João mostrando aquilo que faz. E a primeira prova que Jesus dá a João é: “os cegos recuperam a vista”. Ele faz alusão aqui não somente aos milagres que operou, fazendo com que pessoas fisicamente cegas recuperassem a visão, mas também ao fato de que muitos que eram “cegos” em respeito à fé “veem” em Jesus o rosto de um Deus que é Amor, Misericórdia, Compaixão, Perdão, Pai… A resposta completa que Jesus dá a João faz menção também de outros milagres que ele operou: “Voltem e contem a João o que vocês estão ouvindo e vendo: os cegos recuperam a vista, os paralíticos andam, os leprosos são purificados, os surdos ouvem, os mortos ressuscitam e aos pobres é anunciada a Boa Notícia. É feliz aquele que não se escandaliza por causa de mim”.

Estes milagres que Jesus realizou e que os evangelhos nos contam se realizam também em nossas vidas quando nos aproximamos dele e nos deixamos “tocar” por ele: ele cura nossa cegueira quando nos fortalecemos na fé; cura nossa paralisia quando decidimos segui-lo; cura nossa lepra quando nos perdoa os pecados; cura nossa surdez quando acolhemos sua Palavra; nos ressuscita dando-nos a vida da graça. E ele nos chama a sermos continuadores e continuadoras de sua missão convidando-nos a “anunciar a Boa Nova aos pobres” trabalhando em prol de sua dignidade e inclusão social, lutando contra as desigualdades existentes em nossa sociedade e dando testemunho de nossa própria fé.

Neste Advento, coloquemo-nos na atitude de quem espera a chegada de alguém a quem amamos. Façamos de nossa oração um contínuo chamado: “Vem, Senhor, vem, abre nossos olhos, converte-nos e faze com que nos tornemos cada vez mais decididamente seguidores e seguidoras dos teus passos”.

Irmã Regina Maria Cavalcanti

 

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