A IMPORTÂNCIA DO PEQUENO

                                             A IMPORTÂNCIA DO PEQUENO
“Vou fazer um bolo!” Do alto de seus imponentes nove anos de idade, a menina fez esta declaração, orgulhosa que estava dos feitos culinários que estava aprendendo. Começou a juntar os ingredientes: a farinha, a manteiga, o leite, os ovos… Juntou, bateu, untou a forma, pediu ajuda à mãe para ligar o forno, colocou a massa lá dentro e esperou, feliz e contente, sonhando com um bolo bonito que ia apresentar à família como sendo a “sua obra”…

O tempo de espera para que ele fosse assado parecia uma eternidade, longo demais, enquanto, em sua imaginação, ela via um bolo dourado, crescido, fofinho, cheiroso e, certamente, muito gostoso… Por fim, chegou o momento tão ansiado de abrir o forno… E, oh, surpresa… A massa que saiu do forno estava mais escura do que quando tinha entrado lá, mas do mesmo tamanho… O bolo não tinha crescido, não estava dourado e apetitoso… Estava feinho… E uma lágrima grossa começou a rolar pela face da menina…

Juntando o tríplice papel de instrutora do bolo, consoladora das lágrimas e educadora da vida, a mãe da menina conversava com ela, refazendo as etapas da confecção do bolo, para ver o que tinha saído errado. Ela estava ensinando à filha o método para lidar com os futuros “fracassos” que ela poderia ter que enfrentar pela vida afora: examinar o que deu errado para não repetir o mesmo erro…

Chegando à lista dos ingredientes, a mãe ia dizendo o nome de cada um deles e a menina respondia: “Sim, coloquei”. Mas quando a mãe perguntou: “Fermento?”, os olhos da menina se arregalaram… Ela tinha se esquecido de colocar o fermento… “Mas era tão pouquinho que precisava pôr”, dizia ela, como que querendo consolar-se a si mesma. “Sim, disse a mãe, a quantidade era pouca, se você compara com tudo o mais que você colocou no bolo, mas era importante. Sem aquele pouquinho, o bolo não ia crescer, não ia ficar fofinho” … O pouco, o pequeno, é importante.

Exemplos de como o pequeno é importante em nossa vida diária são aquelas palavrinhas que muitas vezes são “esquecidas” em nossa fala: “bom dia” … “muito obrigada” … “por favor” … “desculpe” … Todas elas, apesar de pequenas, podem fazer muita diferença…

Todos conhecemos o ditado antigo que diz: “Os melhores perfumes vêm nos menores frascos”. O problema é que também existe um outro que diz: “Os piores venenos vêm nos menores frascos” … Sim, o que é pequeno é importante e tem consequências, seja para o bem, seja para o mal.

Há uns tempos atrás, conversando com uma amiga, ela me contava que, no supermercado onde costuma fazer suas compras, na época do Dia das Mães fizeram um sorteio com os talões de compras das freguesas. Neste sorteio, ela ganhou um jogo de panelas. Eu a felicitei pela sorte, dizendo que devia ter sido uma alegria para ela ganhar aquele sorteio. E ela me disse: “Sim, fiquei contente. Mas sabe o que me deu mais alegria naquele dia? Foi um presente que ganhei de meu filho… Sabe aquele boneco que as crianças desenham com cinco traços, um sendo o tronco, dois, as pernas e os dois outros, os braços e uma bolinha como sendo a cabeça?… Pois meu menino fez um assim, todo colorido, e me entregou dizendo: ‘Mãe, sou eu e é para você!”

Por que será que uma folha de papel com um desenho de criança deu mais alegria à minha amiga do que um jogo de panelas? Em primeiro lugar, porque um gesto é mais importante do que uma coisa. E também porque o valor, a importância do gesto, é relativo: depende do que o gesto é em si, do que ele significa e a quem ele é dirigido. Aquele gesto era o esforço feito pela criança; significava a própria criança, era seu autorretrato; e era um presente para a mãe, carregado de alegria e de amor… Sim, os nossos gestos falam, e como falam…

Há muitos anos atrás, Santa Maria Eugênia dizia às Irmãs: “Vocês acham que uma boa palavra, um exemplo, uma oração seriam sem efeito? Se tudo em sua maneira de ser transmite doçura, amor, se vocês não se impacientam, estarão fazendo um bem imenso”. Em outra ocasião, ela dizia: “É a fidelidade nas pequenas coisas que constitui a santidade”. E Irmã Teresa Emanuel, uma de nossas primeiras Irmãs, que foi a grande companheira e a “mão-direita” de Santa Maria Eugênia, chamava os pequenos gestos de “as delicadezas do amor”.

Sim, o que é pequeno é importante… E o que é pequeno pode nos levar a coisas grandes. A frase de Maria Eugênia que acabamos de citar confirma esta afirmação. Não nos assustemos quando ela define a santidade como “a fidelidade às coisas pequenas”. Ninguém chega ao grande sem passar pelo pequeno. É subindo uma escada, de degrau em degrau, que chegamos ao topo…

E, sobretudo, que ninguém se assuste com a proposta, embutida na frase de Maria Eugênia… O convite à santidade é algo que Deus faz a cada uma cada uma de seus filhos e filhas. E a primeira resposta a este convite já foi dada por cada um de nós… Sim, pois a primeira resposta a este convite foi o nosso próprio Batismo… No Batismo recebemos a graça, e o próprio Deus fez sua morada em nós. A santidade é a graça batismal guardada e desenvolvida… É continuarmos a fazer de nossa vida uma morada agradável para Deus.

Há alguns anos atrás, o Papa Francisco escreveu um texto que tem por título “Alegrai-vos e exultai” (“Gaudete et Exsultate”, no original em latim), em que ele fala do chamado à santidade no mundo atual. Santos não são só pessoas que viveram no passado. Santos também não são só pessoas que têm uma vida marcada por coisas extraordinárias. Santos não são só pessoas que fazem milagres… Santos são pessoas “normais” que levam em conta e procuram observar as palavras e os ensinamentos de Jesus em suas vidas do dia a dia.

Nosso mundo de hoje está povoado de santos e santas… O Papa Francisco fala dos “santos, nossos vizinhos” … Você já pensou que, ao entrar num ônibus, você pode talvez se sentar ao lado de uma pessoa que é santa?… Você já pensou que talvez seu vizinho mais próximo seja um santo? … Você já pensou que, talvez, em sua família haja alguém que seja santo? … Você já pensou que você, que está lendo este texto, é chamado a ser santo? …

O Papa começa este texto “Alegai-vos e exultai” citando um trecho da Carta aos Hebreus que fala de uma “nuvem de testemunhas” que nos convidam e nos incitam a caminhar para a meta de toda vida humana, que é a própria santidade. E ele diz: “Entre tais testemunhas pode estar a nossa própria mãe, ou avó, ou outras pessoas próximas de nós (…). A sua vida talvez não tenha sido sempre perfeita, mas, mesmo no meio das imperfeições e quedas, continuaram a caminhar e agradaram ao Senhor” (GE §3). 

Mais adiante neste mesmo texto, ele diz, em 2018, a mesma coisa que Maria Eugênia disse em 1875. Diz o Papa Francisco dirigindo-se a cada um de nós: “Esta santidade a que o Senhor te chama irá crescendo com pequenos gestos. Por exemplo: uma senhora vai ao mercado fazer as compras, encontra uma vizinha, começam a falar e surgem as críticas. Mas esta senhora diz para consigo: ‘Não! Não falarei mal de ninguém.’ Isso é um passo rumo à santidade. Depois, em casa, seu filho reclama a atenção dela para falar de suas fantasias e ele, embora cansada, senta-se a seu lado e escuta com paciência e carinho. Trata-se de outra oferta que santifica. Ou então atravessa um momento de angústia, mas lembra-se do amor da Virgem Maria, pega no terço e reza com fé. Este é outro caminho de santidade. Em outra ocasião, seguindo pela estrada afora, encontra um pobre e detém-se, conversando carinhosamente com ele. É mais um passo.” (GE §18).

Quais são os pequenos gestos, em minha vida do dia a dia que vão me ajudando a caminhar na direção de me tornar uma pessoa melhor?… Na direção de fazer frutificar a graça que recebi no Batismo a fim de me impulsionar a realizar o projeto que Deus tem para a minha vida?…

Estamos no mês de dezembro. Daqui a duas semanas vamos celebrar o Natal. Natal é a festa do Grande Presente, do Grande Dom que Deus fez, por amor, a toda a humanidade. Ele nos deu seu próprio Filho… “Deus tanto amou o mundo, diz São João em seu Evangelho, que lhe deu seu Filho único” (Jo 3, 16). No Natal, festejamos o mistério da Encarnação, isto é, de um Deus que assumiu nossa carne humana, que se fez um de nós. Em Jesus, Deus se fez Homem. Nascendo como nós, em Jesus Deus se fez criança, um recém-nascido, frágil, pequenino… O Grande Dom de Deus vem a nós na forma de um Pequenino…

Nas nossas casas, temos o costume de preparar a árvore de Natal. Seria importante também preparar o Presépio. Colocando diante de nossos olhos as imagens de Maria, de José e do Menino que nasce para ser o nosso Salvador, o Presépio nos ajuda a perceber o mistério do Amor. E com isto compreendemos com mais facilidade a importância dos pequenos gestos em nossos relacionamentos, portadores que são de mensagens de fraternidade, de respeito mútuo e de verdadeira amizade, capazes também de nos fazerem progredir na realização do projeto de Deus em nós: o pleno desabrochar da graça de nosso Batismo, o caminho da santidade pessoal. Como no caso do fermento no bolo, estes gestos são pequenos, mas muito, muito importantes…


Irmã Maria Regina Cavalcanti

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