2º DOMINGO DA PÁSCOA
16 de Abril de 2023

“Meu Senhor e meu Deus!”

Os “aleluia” da Páscoa ainda continuam em nossos lábios e ressoam em nossos ouvidos… “Aleluia” é um grito que sobe do coração… É um grito de alegria e de louvor, de fé e de esperança. Ele expressa a alegria imensa daqueles que creem na vitória da vida sobre o sofrimento e a morte. Por ser expressão desta alegria, nós não pronunciamos esta palavra durante todo o período da Quaresma. Mas, desde a Vigília Pascal, ela continua ressoando em todas as nossas celebrações. De fato, toda esta semana que passou foi a Páscoa continuada. A festa é grande demais para ser celebrada em um só dia.

Hoje, continuamos esta celebração de alegria, pois nossa fé na Ressurreição de Jesus nos traz a certeza de que um dia também nós ressuscitaremos com ele. Jesus foi o Vencedor do pecado e da morte, e quer junto de si todos aqueles e aquelas que o seguiram em suas vidas. Este domingo, que encerra a Oitava da Páscoa, é chamado o Domingo da Misericórdia, pois as leituras que a liturgia nos apresenta hoje nos fazem perceber este amor misericordioso de Deus que foi por tantas vezes proclamado e vivido por Jesus ao longo de sua vida nesta nossa Terra. Vejamos:

A Primeira Leitura é tirada do livro dos Atos dos Apóstolos (At 2, 42-47) e nos mostra o que é realmente uma comunidade cristã. Como o próprio título do livro expressa, lemos nele o relato das ações, atos, de alguns dos apóstolos depois da Ressurreição e Ascensão de Jesus. É o livro que conta o início de nossa Igreja. É interessante notar as primeiras palavras do texto que é hoje proclamado: “Os que se tinham convertido”. O texto nos fala das primeiras comunidades cristãs, cujos membros viviam a alegria de terem tido uma profunda experiência de encontro com Jesus – ou por tê-lo visto pessoalmente e ouvido suas palavras, ou porque o conheceram através do testemunho dos que com ele tinham convivido. Eles viviam no entusiasmo de uma fé forte e nova, que os enchia de alegria, de entusiasmo e de generosidade. E isto a tal ponto que, como diz o texto, “viviam unidos e colocavam tudo em comum”. 

A descrição da vida destas primeiras comunidades cristãs, que encontramos no livro dos Atos, expressa o ideal para o qual deveria tender nossa sociedade. Infelizmente, vivemos numa realidade bem diferente destaque o texto da liturgia de hoje nos mostra. Em nosso país – como no restante do mundo – há aqueles que têm demais e aqueles que não têm o necessário. Em nossa sociedade há pobres e ricos, há os que esbanjam e os que passam necessidade. Mas naquela comunidade ideal da qual nos fala o texto, os cristãos “vendiam suas propriedades e seus bens e repartiam o dinheiro entre todos, conforme a necessidade de cada um”.

Há poucas semanas atrás, estávamos vivendo a Quaresma, e a Campanha da Fraternidade nos chamava a atenção para o problema da fome. A fome é sinal de que uma necessidade humana básica não está sendo atendida na vida de muitos irmãos e irmãs nossas. Quais os passos que precisariam ser dados para que nossa sociedade se torne mais justa e solidária? Qual a contribuição pessoal que cada um de nós pode dar para que este projeto de transformação social possa vir a se tornar realidade, para que os bens possam ser repartidos entre todos de modo a atender às necessidades de cada um?

O Salmo 117 (118) nos convida a nos alegrarmos e a exultar porque a misericórdia do Senhor se faz sentir: “… veio o Senhor em meu socorro. O Senhor é minha força e meu canto, e tornou-se pra mim o Salvador”. Reconhecer que a salvação nos vem dele nos leva a proclamar: “Eterna é a sua misericórdia”. Esta frase é repetida várias vezes ao longo do salmo. Que ela seja um mantra que podemos ir repetindo ao longo de nosso dia.

A Segunda Leitura, tirada da Carta de São Pedro (1Pd 1, 3-9), é um hino de louvor e de alegria pela grande misericórdia do Pai. Sim, porque – pela Ressurreição de Jesus – “ele nos fez nascer de novo para uma esperança viva”. São Pedro faz aqui alusão ao nosso Batismo. É que, nos primeiros tempos do cristianismo, o sacramento do Batismo era conferido sempre na Vigília Pascal. E, de fato, o Batismo nos faz nascer para uma vida nova: a vida da graça. O simbolismo da Ressurreição e do Batismo são próximos. Nos primeiros séculos do cristianismo este simbolismo era mais visível do que hoje, porque o Batismo era sempre feito por imersão: as pessoas mergulhavam na água, desapareciam debaixo dela, como se tivessem morrido, e depois se levantavam, como se tivessem voltado à vida. Como hoje em dia o Batismo é, na maior parte das vezes, dado a crianças pequenas, este simbolismo não é mais evidente. Mas a realidade permanece: o Batismo nos faz passar da morte do pecado para a vida da graça; é a entrada numa nova vida, é um novo nascimento. Por esta razão, ele era inicialmente conferido na festa da Páscoa. Renovemos, pois, nossa vida de batizados vivenciando o que nos diz esta carta de São Pedro: “Sem ter visto o Senhor, vós o amais. Sem o ver ainda, nele acreditais”. 

Já o Evangelho (Jo 20, 19-31) nos faz ver a cena de Jesus ressuscitado que se faz presente no meio dos seus e os chama à fé. Os discípulos estavam ainda vivendo no tempo do medo: tinham visto com seus próprios olhos os sofrimentos que tinham sido impostos a Jesus: a prisão, a flagelação, o julgamento, a condenação, a crucifixão. Eles eram conhecidos como seguidores de Jesus, e temiam ser perseguidos e mortos, como o fora o Mestre. Trancaram-se, “as portas estavam fechadas por medo dos judeus”, diz o texto. E, de repente, Jesus aparece no meio deles, como para lhes dizer que para ele não há trancas: ele estará sempre com os seus, como está conosco hoje, tantos séculos depois. Por isso respondemos na Missa: “Ele está no meio de nós”, afirmando nossa fé na sua presença contínua entre nós. Esta presença de Jesus é fonte de alegria: “os discípulos se alegraram por verem o Senhor”..

A mensagem que Jesus traz é uma mensagem que afasta o medo: “A paz esteja convosco”. E ele vem para chamar seus discípulos para a missão. Ele não quer que seus discípulos fiquem trancados só ente si… Ele quer “uma Igreja em saída”, como nos diz o Papa Francisco. Ele quer os cristãos em contínua missão: missão de testemunho, missão de anúncio da Boa Nova, missão de transformação das estruturas de nossa sociedade. Mas só seremos capazes de viver nossa Batismo e assumir a missão que o Pai nos confia se nossa fé for forte e atuante. Por isso Jesus vem reacender a fé em um dos Doze, o Apóstolo Tomé, que, reconhecendo o Senhor, faz esta profunda afirmação de fé: “Meu Senhor e meu Deus”.

Que possamos vivenciar as palavras da Oração deste domingo: “Ó Deus de eterna misericórdia, que reacendeis a fé do vosso povo na renovação da festa pascal, aumentai a graça que nos destes. E fazei que compreendamos melhor o Batismo que nos lavou, o Espírito que nos deu nova vida e o sangue que nos redimiu.”

 
Irmã Regina Maria Cavalcanti

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