CAPÍTULO DE NATAL 2023

“Paz na Terra”
O Natal como um modo de estar no mundo

Muito queridas irmãs e amigos, O Natal chegou mais uma vez, convidando-nos a celebrar o mistério da Encarnação – Emanuel: Deus conosco. Apesar de ser importante celebrar o Natal com luzes, decorações, liturgias bem-preparadas, e encontros festivos, não devemos nos esquecer de que o verdadeiro sentido do Natal se encontra na experiência do amor e da paz. E que a mensagem de Natal é anunciada pela vida de toda pessoa que tem fé. O nascimento de Jesus afirma o valor de nossa dimensão humana, pois o Natal é uma bênção dada a toda a nossa “carne” (sarx) – “a PALAVRA se fez carne e plantou sua tenda entre nós” (Jo 1, 14). O Natal nos conduz à perseverança na graça, ao dom de compartilhar nossa humanidade com todos, a cada dia, especialmente com os mais necessitados. Portanto, o Natal não pode ser apenas um dia no ano. Ele deve ser um amaneira de estar neste mundo que revela a presença amorosa de Deus através de nossa própria humanidade. É uma maneira de trazer a graça de um coração amoroso a cada encontro e de dar esperança a cada situação de vida.
Somos desafiados pelo contexto de guerra e violência, assim como pela morte de milhares de crianças em diversas partes do mundo, especialmente em Israel e na Palestina, a terra de nosso Senhor Jesus, cujo nascimento celebramos no Natal. Vi nos noticiários que as igrejas da Palestina cancelaram todas as celebrações do Natal este ano. Nesse contexto, as palavras do Reverendo Munther Isaac tocam nosso coração: “Enquanto o mundo celebra o Natal, nossas crianças estão debaixo de destroços, nossas famílias foram expulsas de seus lares, nossas casas, destruídas”. É muito simbólico que a Igreja Luterana de Belém tenha preparado o presépio e colocado o Menino Jesus debaixo de destroços, em solidariedade com as muitas crianças que estão assim soterradas na Palestina. (https://aljazeera.com/news/2023).
Perguntemo-nos: Se Jesus fosse nascer em nossos respectivos países e contextos, onde nasceria ele hoje? O que significa para nós celebrar o Natal este ano?
O amor de Deus por aqueles que sofrem e não têm nenhum poder é um tema recorrente na Bíblia. Há dois mil anos atrás, Jesus não nasceu num país rico e poderoso, que tinha poderio militar e influência política, mas numa terra que era oprimida e perseguida por seus dominadores. As narrativas do Evangelho mostram que Jesus estava, está e sempre estará em solidariedade com os que estão aflitos, os que são mansos e humildes. Vemos isso também na pessoa de Maria, a humilde serva do Senhor (Lc 1, 48); e isto se realiza na Encarnação do Verbo de Deus em Jesus, que se humilhou até a morte de cruz (Fl 2, 6-8).
A mensagem dos anjos de Natal traz esperança ao mundo: “Glória a Deus no céu e paz na terra!” (Lc 2, 14). Esta mensagem de paz irradia as graças e bênçãos do Natal e convida-nos a construir a paz em nossos contextos e a semear a esperança em um mundo melhor, que revela a glória (doxa) de Deus, a esperança de seu amor misericordioso.
A mensagem dos anjos – “paz na terra” – é a aspiração que, desde os tempos mais remotos, ecoa através da História humana, como que um sonho universal que transcende os limites culturais, religiosos e geográficos. A mensagem deixa-nos entrever um mundo diferente, onde os conflitos são resolvidos por meio de diálogos construtivos e não por reações violentas, onde as pessoas convivem harmoniosamente celebrando sua diversidade, onde a interconexão de todos os seres vivos e o planeta é respeitada e onde o bem-estar de todos os seres vivos é uma prioridade para todos.
A história do Natal deve continuar em e através de nossas vidas e compromissos. Como disse uma vez Helen Rice: “A paz na Terra virá para ficar quando vivermos o Natal a cada dia”. Como podemos viver o Natal a cada dia? Como podemos ativar a graça do Natal entre nós? Como podemos permitir que a graça de Deus se torne viva através de nossas atitudes, palavras e ações?
Em nosso mundo atual, marcado pelo conflito, pela desigualdade e injustiça, conseguir “paz na Terra” é um desafio complexo e multifacetado. Neste contexto é imperativo enfrentar situações como a violação dos direitos humanos, as divisões culturais, as tensões políticas, as disparidades econômicas e a degradação do meio-ambiente. Somos mais uma vez convidados a nos tornarmos promotores da não violência (ahimsa), o que não é inação passiva; pelo contrário, é uma força dinâmica que desafia a injustiça e a violência através de meios pacíficos (Mahatma Ghandi). É a busca de transformar tanto indivíduos quanto sociedades enfatizando a importância do amor, da compaixão e da equidade como instrumentos poderosos para criar um mundo mais justo e pacífico. É assim que eu compreendo a visão de Santa Maria Eugênia sobre “o reino social de Jesus Cristo” (nos Capítulos do Advento de 1882, por exemplo).
Enquanto chegar à “paz na Terra” parece ser uma tarefa impossível, vale a pena lembrar que pequenos atos de paz e de bondade podem ter um efeito dominó. Vamos começar colocando ordem em nossa própria casa. Abraçando o valor dos pequenos atos de paz e de bondade na vida de cada dia – tanto em nossas comunidades, quanto nas famílias ou paróquias – contribuímos para o esforço coletivo de criar um mundo mais pacífico. Todos podemos contribuir para que haja paz promovendo a bondade, a tolerância e o diálogo em nossas vidas de cada dia. Assim, o Natal se torna um modo de vida para nós.
Lembro-me de várias histórias emocionantes de bondade e generosidade em meio às situações terríveis da guerra entre Israel e o Hamas. Vejo o seguinte testemunho de uma pessoa refugiada de Gaza como sendo muito inspirador, e, ao mesmo tempo, desafiador:
“A família que nos dá guarida me surpreende. Apesar das coisas terríveis e da luta diária para conseguir pão, água potável e água para banho e para lavar a roupa; a dificuldade para lidar com o medo, o “stress” e a incerteza, eles conseguem se reunir – os avós, os filhos, a esposa do mais velho, os netos – e por uma ou duas horas, à noite, conversam, riem, se divertem com jogos… Deitada no sofá e refletindo sobre o meu dia, sinto alegria porque, no meio de tanta miséria, ainda há espaço para atos de bondade, sinais de esperança e momentos de alegria. Creio que a esperança é um sentimento interior; mas, às vezes, deveria ser uma decisão. E, esta noite, eu escolho ter esperança. Fecho os olhos, tento relaxar, e espero por um amanhã melhor”. (Texto de “Diário de Gaza”, parte 26, em www.theguardian.com).
Este é, em verdade, o espírito do Natal que nos dá a esperança de um mundo melhor. Estamos cercados por muitas experiências pessoais de atos de bondade e momentos de alegria em meio a nossos problemas, desafios e dificuldades na vida. Podemos também nos lembrar de experiências de paz apesar das circunstâncias em que vivemos. Posso convidar vocês a partilhar a história pessoal em que fizeram a experiência da “graça da paz” em meio à dor e aos turbilhões da vida.
Que a paz seja nosso presente de Natal este ano. Que nossos sacrifícios e orações possam vir a substituir a dor e a morte pela paz e esperança no mundo. Que haja paz na Terra, e que ela possa começar comigo, com minha comunidade e minha família. Que o Natal e a graça da paz possam se tornar um modo de vida para nós!
Com as nossas orações por um Natal de paz e um abençoado Ano Novo – 2024.


Ir. Rekha Chennattu, RA Superiora Geral 20 de dezembro, 2023

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