18 de fevereiro de 2024

“Convertei-vos e crede no Evangelho”

Estamos iniciando o Tempo da Quaresma, tempo de conversão, tempo de voltar-nos para Deus e para os irmãos, tempo de preparação à Celebração da Páscoa de Nosso Senhor.

No Brasil, todos os anos, através da Campanha da Fraternidade, a Igreja propõe um tema para ser refletido e ajudar-nos a viver este tempo. É uma oportunidade de conhecer mais de perto uma determinada situação de pecado existente em nosso meio e buscar transformar nosso pensamento e atitudes em relação à mesma situação. 

Este ano o tema é Fraternidade e Amizade Social e o lema: “Vós sois todos irmãos”. Este tema é um convite para que cada um de nós abra o seu coração à humanidade que sofre com as divisões, desigualdades, indiferenças. Somos chamados, a exemplo de Jesus que amou incondicionalmente, a relacionar-nos e acolher-nos fraternalmente, por meio de atitudes concretas de abertura ao outro.

O texto da primeira leitura (Gn 9,8-15), está localizado logo após o dilúvio, quando Noé e sua família tinham deixado a arca. Deus se compromete com eles de não mais castigar a terra. É uma aliança de paz, feita a partir do compromisso de Deus com a sua criação, porque ele ama infinitamente. Como sinal dessa aliança, Deus deixará o arco-íris. A palavra hebraica para arco-íris e arco de guerra é a mesma. Assim Deus diz que vai deixar o arco de guerra pendurado nas nuvens, para não se esquecer da Aliança de paz que ele fez com toda a Criação.

Com este ato de Aliança, Deus em seu infinito amor recria o mundo destruído pelo pecado. Ele demonstra que detesta o pecado, mas ama infinitamente o pecador.

A Primeira Carta de Pedro (1Pd 3,18-22) foi escrita aos cristãos da Ásia Menor por ocasião da grande perseguição de Diocleciano aos cristãos. Não foi escrita pelo apóstolo Pedro, pois na época da redação, por volta do ano 80, este já havia morrido, na primeira perseguição aos cristãos. A carta tem o objetivo de animar e fortalecer as comunidades perseguidas por causa de sua fé e fugiam de um lado para outro.

O texto está inserido no chamado Sermão Batismal, e quer mostrar o significado do Batismo: Redenção e Inclusão. O Batismo é como a arca que salvou a família de Noé. 

O texto é uma confissão de fé: afirma a verdadeira morte de Jesus, o único Justo, que resgatou os espíritos aprisionados na “mansão dos mortos”, como rezamos no Credo; o Batismo abre a consciência humana da sua condição de pecado e à Ressurreição, afirma a Ascensão de Cristo e seu lugar à direita de Deus, a quem se subordinam os anjos, potestades e dominações. Lembra-nos que o dilúvio não é sinal de morte, mas de recriação e recomeço. Assim como o dilúvio submergiu o mal, as águas do Batismo afogam os nossos pecados e assim somos recriados novamente em Cristo. Esta imagem prepara-nos para cantarmos na liturgia batismal no Sábado Santo, o bonito canto: “Banhados em Cristo, somos uma nova criatura. As coisas antigas já se passaram. Somos nascidos de novo!”

O texto do Evangelho (Mc 1,12-15) deste Primeiro Domingo da Quaresma é bem curto, mas de grande profundidade, e pode ser dividido em duas partes. Está situado logo após o relato do Batismo de Jesus, quando Deus revela que ele é o filho amado.

Na primeira parte o mesmo Espírito, ou seja, o próprio Deus que se manifestou no momento do Batismo impele Jesus para o deserto, onde ele é tentado por Satanás por 40 dias. O verbo impelir quer dizer que foi empurrado com força.

O deserto, na teologia bíblica, é o lugar do encontro com Deus, lugar de provação e discernimento. O número 40 é frequente no AT (40 dias do dilúvio, 40 anos de caminhada do povo no deserto quando saiu do Egito, 40 dias que Moisés ficou junto de Deus no monte) é o símbolo de uma vida, de transformação e evoca um tempo de prova. O tempo no deserto também representa o deserto de nossa vida (dificuldades, solidão, angústia, incompreensões, tristezas) e de nossa sociedade.

Marcos, ao contrário de Mateus e Lucas, não descreve quais as tentações que Jesus sofreu, significando que elas estarão presentes durante toda sua vida. Satanás é o inimigo do homem que procura desviá-lo dos planos de Deus.

No deserto Jesus vivia entre as feras e Marcos provavelmente sugere que o tempo messiânico chegou, como ensinavam os profetas e mestres de Israel: quando o Messias vier a harmonia reinará como antes de Adão romper a aliança com Deus no paraíso. Jesus se mantendo fiel ao projeto de Deus restabelece a harmonia entre toda a Criação. Os anjos que servem a Jesus é o próprio Deus que o conduziu ao deserto e permanece aí com ele, protegendo-o.

A segunda parte do Evangelho inicia-se no versículo 14, depois da prisão de João Batista. Jesus decide continuar o movimento de João e vai para a Galileia, região dos pagãos, periferia invadida e explorada por vários povos. Jesus começa a proclamar a Boa notícia, aos marginalizados e excluídos, aos considerados pecadores. 

E a mensagem de Jesus traz dois anúncios e duas orientações:
Anúncios: Cumpriu-se o tempo e o Reino de Deus está próximo. O tempo é o tempo de Deus, que vem pleno de oportunidade. E o reino também é o Reino de Deus, que vem como servidor de seu povo, trazendo a justiça e a paz para todos! 

Para que este reino aconteça, Jesus dá duas orientações: “Convertei-vos e crede no Evangelho”. Converter-se é mudar de mentalidade, de comportamento, de postura diante das situações, tendo Deus como centro da vida. É aderir ao projeto que o próprio Jesus assumiu, construindo assim a nova humanidade e um novo mundo.

Converter-se é renunciar ao caminho do mal, do egoísmo, é aceitar as diferenças, acolher cada pessoa como irmão e irmã, é buscar ser coerente na vivência dos ensinamentos de Jesus. É continuar, com nossas práticas, fazer acontecer a cada dia o Reino de Deus onde estivermos.

A renúncia ao caminho do mal, neste tempo oportuno de Quaresma, nos impele a atitudes concretas de aceitação, de reconhecimento e de valorização de todos e todas, que evidenciam a proximidade do Reino, pois “Vós sois todos irmãos e irmãs”. (Mt 23,8)

Ir. Nádia RA

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