Ao celebrarmos o Natal do Senhor somos convidados a contemplar o infinito amor de Deus que se manifesta na encarnação de seu filho Jesus. Ele é a luz que veio ao mundo para nos revelar o caminho da salvação e nos elevar à dignidade de filhos de Deus.
A primeira leitura anuncia a chegada do Deus libertador trazendo forte mensagem de esperança ao seu povo que ansiava pela reconstrução de Jerusalém após o fim do cativeiro da Babilônia.
A segunda leitura nos fala de Jesus como sendo a Palavra definitiva que deve ser acolhida por nós, já prenunciada pelos antigos profetas.
No evangelho, o prólogo de São João, Deus Criador se manifesta através de seu filho Jesus, sendo Ele a luz que veio tirar a humanidade das trevas.
O texto de Isaías (Is 52,7-10), descreve a situação de desesperança e descrença em que vivia o povo de Israel em função do longo período de exílio na Babilônia. Apesar do rei Ciro tê-los libertado do domínio babilônico, Jerusalém se encontrava destruída. Sentiam-se abandonados por Javeh pois este não teria agido para libertá-los,o que foi realizado por Ciro, um rei estrangeiro. É neste cenário que se dá a profecia de Isaías, através da cena onde sentinelas exultam de alegria pela chegada do Deus libertador, Príncipe da paz, que trará alegria e bem-estar ao povo de Israel. Podemos notar que o tema da libertação da opressão, seguida da alegria decorrente dela, inicia-se nesta primeira leitura e vai sendo desenvolvido nas leituras que se seguem.
O Salmo 96 (97) é um belo hino de louvor a Deus evidenciando as ações divinas de salvação, justiça e fidelidade ao seu povo.
A segunda leitura da Carta aos Hebreus (1,1-6), faz parte de um livro de autor desconhecido e que, provavelmente,teria sido dirigido a cristãos oriundos do judaísmo.Estes, viviam num ambiente hostil e eram perseguidos por causa de sua adesão ao Cristianismo; assim sendo, esmoreciam no seguimento dos ensinamentos cristãos e facilmente aderiam a outras pregações e propostas. Daí o objetivo do autor da carta em estimular a vivência da fé cristã. Se Deus falou pelos profetas nos primórdios da história da salvação, agora ele se manifesta através de Jesus Cristo.
E como se constitui a relação de Jesus com o Pai? Ambos estão identificados numa mesma essência, fazendo parte do mistério de Deus. Jesus é a manifestação de Deus Pai aqui na terra, é todo o esplendor da glória do Pai.A encarnação de Jesus demonstra sua soberania sobre os homens pois veio ao mundo para mostrar o caminho da salvação, sendo esse o desejo de Deus Pai. Fomos criados por Deus e salvos por Ele. Com isso, o autor da carta reafirma aos hebreus, e a todos nós, que ao acolhermos a mensagem de Jesus teremos condição de superarmos nossas limitações e viver em plenitude. Para os hebreus, esta era uma mensagem direta para que eles perseverassem no caminho cristão tendo Jesus como única referência de fé, deixando de adorar os anjos como se eles fossem verdadeiros deuses.Transpondo para os dias atuais, devemos nos perguntar: como posicionamos nossa fé?Jesus é nossa fonte de inspiração e modelo a ser seguido ou nos dispersamos cultuando valores como poder pessoal, prestígio e dinheiro?
O evangelho, prólogo de São João (1, 1-18), tem início com a expressão “No princípio”,referência à criação do mundo relatada em Gênesis1,1: “No princípio, Deus criou o céu e a terra”.Ao usar esta expressão, João estabelece relação entre a criação do mundo e o nascimento de Jesus.Deus é o princípio de tudo, Criador do mundo, da natureza e do homem. Jesus, que foi enviado ao mundo pelo Pai, já existia desde sempre pois comungava com o Pai da mesma identidade divina. Assim sendo, o nascimento de Jesus vem completar a obra da criação uma vez que Ele é a manifestação concreta de Deus no mundo trazendo o plano de salvação e vida plena ao homem.
Segundo João, “No princípio era a Palavra, e a Palavra estava junto de Deus e a Palavra era Deus”.Vemos aqui que “Palavra” significa a própria Sabedoria divina, existente acima e independente de qualquer tempo e espaço;encarnou-se na figura de Jesus que veio trazer vida e luz ao mundo revelando ao homem o caminho da salvação. Para João, vida e luz são conceitos intimamente ligados, pois a luz revela o caminho a ser seguido, serve de orientação em meio às trevas. Em suma, Jesus é Palavra, luz e vida, que se oferece ao homem para que ele possa ter vida em plenitude. O Natal, nascimento de Jesus, é a celebração da Luz que vem ao nosso encontro para promover a vida.
O texto nos fala que o mundo não reconheceu a Palavra e assim permaneceu nas trevas. Isto significa que só haverá iluminação se a Palavra for acolhida por cada um de nós. Isto supõe transformação em nosso modo de ser e agir, exigindo humildade, reconhecimento de nossas limitações e desejo de conversão. Em outras palavras, iluminar nossas vidas e sermos luz para nossos semelhantes, num mundo que é cheio de trevas, marcado pelo egoísmo, ganância, injustiça e opressão.
Celebrar o Natal não significa apenas recordar o nascimento de Jesus mas acolhê-lo em nosso coração e dar vida ao menino Deus em nós.É a oportunidade de contemplarmos o amor profundo de Deus para cada um de nós, fonte infinita de vida. Por isso, devemos voltar-nos para nosso interior e entrar em contato com Deus que habita dentro de nós. Só assim a centelha divina poderá nos guiar para espalharmos luz onde estivermos, com a mesma alegria das sentinelas ao avistar a chegada do Deus libertador, no livro de Isaías!
Feliz Natal!

Sandra Yazaki
São Paulo