“FAZEI MEU CORAÇÃO SEMELHANTE AO VOSSO”

A liturgia de hoje nos mostra onde encontrar Deus. Não é na arrogância e no orgulho, mas é na simplicidade e na humildade que Ele se revela. A primeira leitura fala do enviado de Deus que vem ao encontro dos homens nesta forma simples de ser, eliminando os instrumentos de guerra e trazendo a paz definitiva. Na segunda leitura, Paulo nos convida a viver segundo o espírito, com o coração plenamente aberto a Deus. E o Evangelho mostra que a proposta de salvação trazida por Jesus encontra abrigo no coração dos pequenos e humildes.

A profecia de Zacarias (Zc 9, 9-10) trazida na primeira leitura, é marcada por forte caráter messiânico, ou seja, trata claramente do salvador que todos esperavam e que hoje sabemos ser Jesus. Fala sobre o rei que chegará montado num jumento, animal conhecido por carregar fardos pesados, e não em um cavalo de guerra, como se esperaria de um rei que quisesse demonstrar poderio militar. Está claro que esse rei será pacífico e humilde e que terá forças para acabar com a guerra, mas não fará isso com os instrumentos de morte conhecidos, como carros e armas, ele trará elementos novos para instaurar a paz, que alcançará todo o seu reino, irá “de um mar ao outro mar” e “do rio (Eufrates) até os confins da terra”, ou seja, seu reino e sua paz cobrirão todo o mundo antigo, tudo o que era conhecido nessa época. É a paz universal.

Na segunda leitura, a Carta de São Paulo aos Romanos (Rm 8, 9.11-13), vemos uma reflexão serena de Paulo sobre a salvação. Era uma época em que se discutia muito se, para chegar à salvação, era preciso primeiro se submeter a todas as leis judaicas, mas Paulo vem dizer que Deus oferece a salvação aos homens por pura vontade de Seu coração; nós, não somos merecedores, já que somos todos pecadores, mas Deus quer nos salvar e nos oferece o caminho, Jesus Cristo, que atua em nós através do Espírito Santo. O Espírito é visto como um elemento fundamental, que dá unidade a todo o projeto de salvação de Deus.

Quando Paulo diz que para a nossa salvação devemos viver segundo o Espírito e não segundo a carne, está querendo nos mostrar que só seguindo Jesus alcançaremos a vida definitiva. Enquanto estivermos numa vida de egoísmo, de auto-suficiência, achando que nossa vontade é mais importante que os mandamentos da Lei de Deus ou que os valores dEle, estamos vivendo segundo a carne. Viver segundo o Espírito é estar aberto para escutar as propostas e sugestões do Pai, é doar nossa vida, servindo ao próximo, obedecendo aos projetos de Deus.

O Evangelho de Mateus (Mt 11, 25-30) dá sequência às leituras das últimas semanas, quando Jesus escolheu apóstolos e os enviou em missão. Hoje eles retornam e apresentam os resultados de suas obras missionárias. Num primeiro momento, então, Jesus vê o que Deus realizou nas pessoas que se converteram por obra dos apóstolos e louva a Deus por ter revelado essas verdades aos pequeninos e as ter escondido dos sábios e inteligentes. Sábios e inteligentes, aqui, representam todos os soberbos, é uma clara oposição aos pequeninos, que são as pessoas humildes. A palavra humildade tem a mesma raiz de humos, de humano, que é ligada à terra. Ter humildade é reconhecer-se humano, é saber-se pequeno, muito abaixo de Deus, é ter consciência de que sua condição é absolutamente igual à de qualquer outro ser humano, e agir sempre de acordo com isso.

Se quisermos entender Deus não será com a compreensão humana, precisamos ser pequenos e nos aproximar dEle. Estamos mais próximos de Deus sempre que imitamos Jesus, sempre que fazemos o bem, que abrirmos os braços aos cansados, aos doentes, sempre que ajudamos a aliviar as dores e angústias de quem sofre.

Fé e humildade são duas virtudes básicas, que caminham de mãos dadas. Jesus é o exemplo, manso e humilde de coração, ou seja, sua alma humana reconhece a grandeza de Deus e o abismo que existe entre Ele e as realidades humanas. Manso, Jesus aprendeu a carregar o peso da cruz, seguindo a vontade de Deus. Nós precisamos aprender a carregar o peso do dia-a-dia, das dificuldades com os irmãos, das coisas que não saem como queremos, precisamos aprender a promover a paz mesmo quando injustiçados.

Amar a Deus sobre todas as coisas é sinal de humildade. Amar ao próximo como a ti mesmo é sinal de mansidão. Faça esse exercício e, quando estiver difícil, peça ajuda, diga “Jesus, manso e humilde de coração, fazei o meu coração semelhante ao Vosso”.

 

Ana Carolina Paiva Angelo
São Paulo – Brasil

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