Ouvir a voz de Deus e guardar a sua aliança
A liturgia deste Décimo Primeiro Domingo do Tempo Comum nos leva a refletir sobre a escolha feita por Deus. Somos o povo escolhido pelo Senhor, mas isto não nos torna melhores ou mais importantes do que outros povos, apenas nos leva a sermos testemunhas do amor de Deus na presença de todos os povos e raças da terra
A Primeira Leitura retirada do livro do Êxodo (19, 2-6a) relata o momento em que este povo escolhido chega ao deserto do Sinai e, ali permanece acampado.
A carta de São Paulo à comunidade dos romanos nos faz refletir que apesar de nossos pecados, somos participantes pela graça da salvação apresentada por Deus; somos de Cristo, mas não por nossos méritos e sim pela graça salvífica que nos santifica.
O Evangelho de Mateus possui uma grande variedade de relatos sobre os ensinamentos de Jesus que não encontramos em outros Evangelhos. Para o escritor sagrado Jesus veio estabelecer o seu reino na face da terra, mas, para que isto aconteça escolhe os seus discípulos que falarão em seu nome, levarão toda a graça recebida da mesma forma com que receberam esta graça de Deus. De graça!
O Texto do Êxodo (Ex 19, 2-6ª) nos apresenta a caminhada que fez o povo de Israel de Rafidim até o deserto do Sinai. Local onde permaneceram acampados por cerca de onze meses (Números 10,11).
Ali, Moisés sobe o monte para encontrar-se com o Senhor, do mesmo modo que se encontrou com o Senhor na passagem da sarça ardente (Êxodo 3,1). Não existe um consenso entre os historiadores sobre a localização exata deste local tão especial para o povo de Israel, o que sabemos é que ficava na região sudeste da península do Sinai.
É neste cenário que Deus ordena a Moisés que fale ao povo como eles foram salvos das mãos poderosas do exército Egípcio: “vistes o que fiz aos egípcios, e como vos levei sobre asas de águia e vos trouxe a mim”.
Tudo isto para chamar a atenção do povo para aquilo que iria falar: “se ouvirdes a minha voz e guardardes a minha aliança…”. Ou seja, Israel é chamado a ser o povo escolhido de Deus, mas para isso, precisará prestar atenção aquilo que este Deus quer lhe ensinar.
A carta de Paulo à comunidade dos Romanos (Rm 5,5-11) é um escrito que pretende apresentar a esta comunidade a graça salvífica de Deus. Somos justificados pela graça e não por nossos méritos.
Isto já é possível de ser observado no início de seu texto (Capítulo 1) onde o escritor nos diz: “todos os homens pecaram e foram destituídos da glória de Deus em Adão”. A partir desta perspectiva inicial, Paulo volta a sua atenção para a narrativa da justificação pela fé conforme Romanos 3, 21ss: “Mas agora se manifestou a justiça de Deus, tendo o testemunho da lei e dos profetas. Isto é, a justiça de Deus pela fé em Jesus Cristo para todos os que nele creem”.
Neste contexto chegamos ao capítulo de nossa liturgia de hoje, onde o autor sagrado volta a manifestar os argumentos presentes nos capítulos introdutórios de sua carta. Deixando claro que Jesus morreu pelos ímpios (que somos nós) e esta é a maior prova de amor de Deus para com toda a humanidade. Nossa justificativa não vem de nossos méritos, mas sim do sangue de Cristo que com sua morte nos reconciliou com Deus e nos abriu as portas da salvação.
A leitura termina reafirmando esta grande certeza: “… nós nos gloriamos em Deus, por nosso senhor Jesus Cristo. É por Ele que, já deste o tempo presente, recebemos a reconciliação”.
Para o evangelista Mateus (Mt 9,36-10,8), Jesus Cristo é aquele que vem estabelecer em nosso meio o seu Reino “o Reino dos céus”.
Jesus estabelece a justiça de Deus, que diferente do nosso conceito de justiça que mais se aproxima da vingança, nos ensina o amor. Deus por meio de seu amor, nos apresenta a sua salvação, conceito aqui que envolve toda a humanidade conforme vemos no capítulo 28,19 “fazei discípulos de todas as nações”. Ou seja, Mateus não faz distinção de pessoas, não exclui ninguém da graça salvífica de Deus.
Para o escritor deste Evangelho, Deus é o Emanuel “Deus conosco”. Não é possível desconectar Deus da vida de seus filhos, pois a fé é um dom dado por Deus que pode brotar em qualquer lugar mesmo onde não esperamos nada.
A liturgia deste domingo nos coloca diante das grandes contradições deste mundo. Tendo este contexto como pano de fundo para a nossa meditação.
Vemos já na primeira leitura do livro do Êxodo que somos o povo escolhido por Deus, que fomos escolhidos e cuidados mas, que não podemos nos esquecer daquilo que Ele nos pede: “ouvir a sua voz e guardar a sua aliança”.
O que significa ouvir a voz de Deus e guardar a sua aliança em nossos dias?
A esta pergunta acredito que o Evangelho de Mateus nos ajuda a responder quando nos diz: “vendo Jesus as multidões, compadeceu-se delas, porque estavam cansadas e abatidas”.
Se ele que era o Mestre e Senhor nos deu o exemplo, somos nós também chamados a sermos como Ele. Assim como chamou os doze apóstolos, somos também chamados a testemunhar o grande amor de Deus para com toda a humanidade.
Amor que nossa fundadora Santa Maria Eugenia aprendeu desde pequena a testemunhar, nos momentos em que observava sua amada mãe cuidando dos doentes pelas ruas da capital francesa, doando sua vida até a morte. Amor que ela mesma, anos mais tarde é chamada a vivenciar no testemunho de luta contra toda opressão que as mulheres de seu tempo eram obrigadas a suportar.
Alguém pode até se perguntar: Como poderemos fazer tudo isto se somos tão fracos e pecadores? E Paulo na carta aos Romanos nos diz: “Irmãos: Quando éramos fracos, Cristo morreu por nós”.
Ou seja, nesta obra não estaremos sozinhos, temos que pedir a Deus, o dono da messe a ajuda necessária para podermos suportar todas as dificuldades e contradições que iremos encontrar.
Pois, seremos no meio de tantas injustiças um sinal de contradição, como tantos o foram e ainda hoje continuam sendo, na luta por um mundo mais humano e fraterno, onde apesar das diferenças possamos nos olhar e simplesmente deixarmos com que o amor de Deus nos tome por completos.
Professor Ricardo Sebold Cois – São Paulo