“NO SENHOR PONHO A MINHA ESPERANÇA, ESPERO EM SUA PALAVRA”

O tema deste Quinto domingo da Quaresma é a esperança. A certeza de que superaremos nosso maior limite que é a morte; faz parte do desígnio de Deus que tenhamos vida plena e eterna após o fim de nossa vida biológica.

Já na primeira leitura o profeta Ezequiel relata que o Senhor abrirá as sepulturas do seu povo e o conduzirá às terras de Israel. Este é o Deus libertador que sempre promove a vida.

O Salmo 129(130) é notadamente um Salmo de Esperança: “No Senhor ponho a minha esperança, espero em sua palavra.”

Na segunda leitura São Paulo se dirige aos romanos exortando a comunidade a se guiar não pela carne, mas sim, pelo Espírito, que seguramente os alimentará e lhes trará esperança.

O Evangelho de João convida-nos a aderir à proposta de Jesus o que nos põe a caminho da vida plena e definitiva. Mesmo passando pela morte física, viveremos para sempre em Deus.

O autor da primeira leitura (Ez 37,12-14) é Ezequiel, chamado “o profeta da esperança”. Viveu no ano VI AC e exerceu sua atividade profética entre judeus exilados na Babilônia. Entre eles reinava a desesperança e a insegurança uma vez que estavam em terra desconhecida, longe de seus templos e cultos. Sentiam-se totalmente abandonados por Deus. Em suma, estavam imersos numa situação de morte, o que é evidenciado pelo texto através da expressão “estar no túmulo”. O profeta Ezequiel anuncia a ação de Deus que os levará de volta à Israel, resgatando uma vida de paz e plenitude a este povo. Isto se dará através do Espírito de Deus que será derramado sobre eles. Não se trata apenas de uma força vital mas de uma força divina que é capaz de transformar substancialmente o ser humano tornando-o sensível e apto a crer na ação de Deus em sua vida.

A riqueza desse texto consiste na fidelidade de Deus ao seu povo, jamais deixando-o entregue à própria sorte. Mesmo nas situações mais difíceis com que o povo se depara, Deus age transformando o desespero em esperança. Ele promove a vida ampliando o horizonte humano.

O Salmo 129 encerra mensagens de esperança: “No Senhor ponho a minha esperança, espero em sua palavra. Minha alma aguarda o Senhor mais que as sentinelas a aurora”.

Na segunda leitura (Rm 8,8-11), São Paulo reafirma a diferença entre “viver segundo a carne” e “viver segundo o Espírito”. No primeiro caso significa estarmos vinculados ao nosso egocentrismo e autossuficiência e preocupados apenas com questões de ordem material; já no segundo, nos guiamos pelo Espírito de Deus tendo como base valores como caridade, paz, justiça e amor ao próximo. Desta forma podemos superar o egoísmo e o pecado que são próprios da condição humana.

Para nós, cristãos, sermos guiados pelo Espírito de Deus significa que aderimos a Jesus Cristo, tendo-o como guia de nossas vidas. Jesus trilhou o caminho que o Pai indicou, superou o pecado e as limitações humanas; sua trajetória culminou na Ressurreição e na glorificação junto ao Pai. Assim sendo, nossa grande esperança de vida plena e eterna só se dará se nos abrirmos ao Espírito de Deus e deixarmos que Ele efetivamente viva dentro de nós. Vivamos nossa vida, assim, com esperança! Quem é tomado pelo medo e pelo desespero é quem se deixa levar pela carne; os que vivem segundo o Espírito, no entanto, são inundados pela esperança que vem do Senhor.

O Evangelho de hoje (João 11,1-45), nos traz o relato da morte e ressurreição de Lázaro. Este homem adoeceu e suas irmãs, Marta e Maria, mandaram avisar Jesus a respeito da situação de Lázaro, solicitando sua vinda até Betânia, local onde habitavam. Antes de Jesus chegar, o que levou dois dias, Lázaro faleceu e foi sepultado, o que causou grande sofrimento a suas irmãs. Ao chegar em Betânia,Jesus vai até o local onde Lázaro tinha sido enterrado, pede que retirem a pedra que estava sobre o sepulcro e ordena que Lázaro se levante e saia da sepultura. Isso causou grande admiração na comunidade presente.

Aspecto importante a ser observado neste relato é o fato de João enfatizar a grande amizade existente entre os três irmãos e a relação de amor e proximidade entre eles e Jesus. Configura-se, assim, uma verdadeira comunidade de discípulos de Jesus, onde reina a preocupação e o cuidado uns com os outros; além disso, destaca-se a fé e a confiança que Marta e Maria depositavam em Jesus, pois logo o avisam sobre o estado de saúde de Lázaro. Elas sabiam que Jesus poderia salvá-lo de alguma maneira e aplacar o sofrimento de toda a comunidade.

O texto de João nos mostra que Jesus não elimina a morte física: ela faz parte da vida e temos que passar por isso. Mas ao ressuscitar Lázaro, Jesus revela seu poder de dar um novo sentido à morte física, caracterizando-a como sendo a passagem para a vida eterna. A morte física não constitui uma aniquilação do ser, mas sim o caminho para a vida definitiva, uma nova forma de ser e existir. Vale salientar que só faremos tal passagem se estreitarmos nossa relação com Jesus durante nossa caminhada neste mundo, como nos mostra o exemplo de Marta e Maria.

João nos coloca a seguinte reflexão: diante do sofrimento e de nossa condição humana limitada, Jesus tem uma palavra consoladora e uma proposta de esperança. “Eu sou a Ressurreição e a Vida. Quem crê em mim, mesmo que morra, viverá. Crês nisso?”

Como tem sido nossa resposta a esta indagação?Contamos com a ajuda de Deus durante nossa caminhada assim como Marta e Maria diante da morte de Lázaro? Conseguimos enxergar bênçãos e aprendizado nos momentos difíceis de nossas vidas?

O sofrimento, a dor e as perdas podem nos despertar para a dimensão profunda da realidade e de nós mesmos. Mas precisamos passar por um processo de transformação para que o sofrimento e a dor nos abram ao Mistério e não nos afundem no desespero. Aqui reside nossa esperança: Jesus vai nos ajudar a passar por este processo, assim como fez com Marta e Maria.

E citando Santa Maria Eugênia: “A grande virtude que noto nos santos, é a esperança, uma das virtudes que mais falta em nossa época. Se houvesse mais esperança, haveria mais santos. Falo dessa esperança que apoiada no conhecimento que temos de Deus e de nós mesmos, faz com que contemos muito e muito com Deus”.


Sandra Yazaki
Assunção Juntos – São Paulo

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Respostas de 2

  1. Muito bom. Esclarecedor.

    “E citando Santa Maria Eugênia: “A grande virtude que noto nos santos, é a esperança, uma das virtudes que mais falta em nossa época. Se houvesse mais esperança, haveria mais santos. Falo dessa esperança que apoiada no conhecimento que temos de Deus e de nós mesmos, faz com que contemos muito e muito com Deus”.” 🙏🏻

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