SOLENIDADE DA ASSUNÇÃO DE NOSSA SENHORA
21/08/2022

MARIA, EM SUA GLÓRIA, É SINAL DE ESPERANÇA PARA TODA A HUMANIDADE

É com grande alegria que celebramos hoje a Assunção da Mãe de Jesus e nossa Mãe, Maria. Para nós, Religiosas da Assunção, celebrar este “mistério de Maria” chama a uma reflexão. Além da dimensão de fé desta festa, em que honramos uma vida tão centrada em Deus que, ao chegar a seu final, é assumida – assunta – por ele na sua integridade de corpo e alma, a Assunção de Maria traz também uma mensagem profunda para nossa realidade de hoje.

De fato, refletindo sobre este mistério, percebemos que ele joga uma luz forte sobre duas questões que são de grande importância em nossa realidade atual. Uma destas questões é o lugar da mulher em nossa sociedade, e a outra é o valor atribuído ao corpo humano.

Muito se fala hoje sobre o lugar e o papel da mulher, tanto na sociedade quanto na Igreja. Isto porque tanto uma quanto a outra são herdeiras de uma cultura machista, na qual a mulher é objeto de dominação masculina. “Desde que o mundo é mundo”, como se diz, isto tem acontecido na maioria das culturas e organizações sociais dos diversos povos que habitam este nosso planeta Terra… Esta dominação foi um dado não questionado durante muitos séculos. Só recentemente é que começamos a ouvir vozes que se levantam contra ela.

No entanto, não é isto o que nos diz a Revelação… No seu poético simbolismo, o livro do Gênesis fala do surgimento da mulher como tendo sido formada a partir “do lado do homem” (cf. Gn 2, 21-22). Não numa posição de superioridade, nem de inferioridade, mas sim de igualdade: do lado, ao lado do homem, como sua companheira no caminho da vida. São Paulo, por sua vez, nos diz que não há mais distinção “entre judeu e grego, entre escravo e livre, entre homem e mulher” (cf. Gl 3, 28). De fato, o Reino de Deus supõe uma sociedade de iguais… Mais uma vez, Deus diz isto à humanidade ao assumir no Reino definitivo, na sua glória, uma mulher, Maria. Mulher esta que foi sua “parceira” na realização do grande projeto de amor que foi a Encarnação.

Outra questão muito de nossa atualidade é o valor que se atribui ao corpo. De um lado, a medicina se esforça em descobrir maneiras de proporcionar mais saúde à humanidade. Por sua vez, os esteticistas, assim como os “personal trainers”, buscam como tornar os corpos das pessoas mais belos e atraentes. No entanto, a violência crescente agride de várias formas o corpo humano… Doenças, fome, guerras trazem continuamente a nossos olhos nos jornais televisionados corpos deformados, mutilados… E o crescimento da pornografia e da exploração e abusos sexuais aviltam os corpos, sobretudo os das mulheres…

De novo, a mensagem que a Palavra de Deus nos traz vai no sentido contrário ao da realidade vivida hoje. Já São Paulo nos dizia que nosso corpo é “templo do Espírito Santo” (cf. 1Cor 2, 16). Qual é o valor que Deus dá a esta obra tão perfeita de sua criação que é o corpo humano, o nosso corpo?…A resposta está na Assunção de Maria: o corpo de uma mulher assumido na glória de Deus… Sim, Maria foi à nossa frente, mas todos nós, seres humanos, somos chamados a estar um dia na glória de Deus, glorificados em nosso corpo também, pois somos chamados a viver, desde aqui na Terra, como “templos de Deus” na inteireza de nosso ser, em corpo e alma.

Tendo como pano de fundo estas mensagens que Deus nos dirige por meio do mistério da Assunção de Maria, vejamos o que nos dizem os textos da liturgia de hoje:

A Primeira Leitura é tirada do livro do Apocalipse. Assim como o livro do Gênesis, o Apocalipse é um livro cheio de simbolismos, em uma linguagem cifrada, destinada a alimentar a esperança dos cristãos que estavam sofrendo perseguições. O grande sinal que aparece no céu é uma mulher. Vestida de sol, tendo a lua aos pés e estrelas formando sua coroa, ela aparece colocada no ápice da criação visível. Esta mulher é sinal de esperança. Perseguida pelo dragão, símbolo do mal, que quer devorar a criança que ela está para dar à luz, ela e o Filho são salvos por Deus.
Maria, em sua glória, é sinal de esperança para toda a humanidade.

O Salmo Responsorial se refere a ela como “a Rainha”. Mas afirma que ele não entra sozinha no palácio do Rei. Ela entra na frente, mas é seguida por todos aqueles e aquelas que são filhos e filhas do Grande Rei. A última estrofe do Salmo diz: “Entre cantos de festa e de alegria ingressam então no palácio real”(Sl 45 (44), 16). “Ingressam” está no plural… Somos nós todos, convidados a entrar com Maria na glória de Deus, no final de nossa vida como seguidores e seguidoras de Jesus.


A Segunda Leitura, tirada da 1ª Carta de Paulo aos Coríntios, faz esta mesma afirmação com outras palavras. O texto se centra na afirmação da ressurreição de Jesus. Mas a afirmação se alarga: “….. em Cristo todos reviverão” (1Cor 15,22). Nem sempre estamos muito atentos ao sentido profundo das palavras que pronunciamos quando rezamos o Creio na Missa todos os domingos… “Creio na ressurreição da carne”… Será que realmente temos consciência de que nosso corpo não chega ao fim de sua existência quando morremos? Ele é intrinsecamente parte constitutiva de nosso “eu”. O ser humano é um corpo animado, vivificada por nossa dimensão espiritual. É por meio do corpo que entramos em contato com o mundo que nos cerca. É por meio dele que nos relacionamos com as pessoas. É por meio dele que agimos, que trabalhamos, que produzimos em torno de nós o bem – ou o mal… “Aqueles que pertencem a Cristo” (cf. 1Cor 15,23), como diz o texto, partilharão de seu destino. Sim, nosso corpo reviverá. Não como talvez ele esteja agora, marcado pelas lutas da vida, por doenças talvez, pela idade… Ele reviverá, mas numa situação de plenitude: inteiro, saudável, forte, belo, glorioso… Este é o nosso destino.


A ressurreição é para todos. Porém, como isto se dará depende do que tivermos feito de nossa vida. O texto diz: “Como em Adão todos morrem, assim também em Cristo todos reviverão. Porém, cada qual segundo uma ordem determinada”.(1Cor 15, 22). Àqueles que tiverem seguido Cristo em sua vida está prometida a ressurreição gloriosa.

 
A Assunção de Maria é a sua glorificação em corpo e alma. Maria foi a mais perfeita discípula de Jesus. Foi a mulher que viveu os valores do Evangelho antes mesmo de Jesus ter anunciado a Boa Notícia do Reino de Deus.

O texto do Evangelho da liturgia de hoje nos mostra três aspectos marcantes na vida de Maria.
Maria foi servidora. Ela nunca se colocou como protagonista, mas sempre se pôs a serviço de Deus e dos outros, realizando sempre aquilo que era a vontade do Pai. A resposta que deu no momento em que percebeu o que Deus lhe pedia é emblemática: “Faça-se em mim segundo a tua palavra” (Lc 1, 38). “Faça-se”… Maria nunca se opôs à vontade de Deus. Ela é sem pecado porque nunca afastou seu coração daquilo que agrada a Deus. Sua ida à casa de Isabel para ajudar uma mulher, já idosa, que estava miraculosamente grávida é apenas uma amostra da maneira de agir daquela que pensava mais nas necessidades dos outros do que nas suas próprias.


Maria foi uma transparência de Deus. Deus estava tão plenamente presente nela que era como se transbordasse dela, atingindo as pessoas a seu redor. Nela, as pessoas viam Deus, num testemunho que não precisava de palavras… Isabel e a criança que estava gerando reconheceram esta presença de Deus em sua visitante. “Bendita és tu entre as mulheres. (…….) Logo que a tua palavra chegou aos meus ouvidos, a criança pulou de alegria em meu ventre” (Lc 1, 44). Maria não foi pregadora, mas seu testemunho simples de viver na presença de Deus como que “contagiava” as pessoas.


Maria foi profética. Ela soube ler os acontecimentos, a história, com os olhos de Deus. Soube perceber que a sociedade de seu tempo – assim como a nossa hoje – não era como Deus a queria. E soube interpretar a necessidade de uma transformação social no sentido de eliminar as diferenças gritantes para construir a igualdade, fruto de relações realmente fraternas. “Ele mostrou a força de seu braço, dispersou os soberbos de coração. Derrubou do trono os poderosos e elevou os humildes (Lc 1, 51-52). Este seu canto, revolucionário em seu sentido profundo, é uma ação de graças pela ação de Deus na História humana, A partir da contemplação da realidade, ela percebe e proclama o que Deus pede de nós para que possamos preparar a vinda do Reino.


Por tudo o que ela viveu, Maria foi “as primícias” da família humana, a primeira pessoa humana a ser levada ao céu na inteireza d seu ser, em corpo e alma. Se seguirmos o que ela nos ensinou por seu jeito de ser, estaremos um dia junto com ela e com seu Filho, Jesus. Para aí chegarmos, ela nos indicou o caminho. Em uma das raras falas de Maria que os evangelistas nos transmitiram está a que ela disse aos servidores da festa em Caná, e que diz também a todos nós: “Fazei tudo o que ele vos disser” (Jo 2,5).


Se guardarmos as palavras de Jesus e fizermos tudo o que ele nos disser, estaremos concretizando o que a Oração da festa de hoje pede: “Deus eterno e misericordioso, que elevastes à glória do céu em corpo e alma a Imaculada Virgem Maria, Mãe de vosso Filho, dai-nos viver atentos às coisas do alto a fim de participarmos de sua glória. Amém”.


Irmã Regina Cavalcanti RA
Brasília – DF

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