Crer no Ressuscitado e viver a misericórdia no seio da comunidade
O Segundo Domingo da Páscoa é também chamado “Domingo da Divina Misericórdia.” Ressoa em nós, cada vez que fazemos a releitura da história do Povo de Deus e da nossa própria história, como o pulsar do coração a palavra do Salmo: “eterna é a sua misericórdia” (Sl 117).
A primeira leitura da liturgia de hoje (At. 4,32-35), faz a recordação da vida das primeiras comunidades dos apóstolos e discípulos de Jesus após sua morte e ressurreição. Apresenta o perfil da comunidade que faz a experiência do Ressuscitado, num contexto de muita perseguição. O grande sinal é a partilha de vida e da fé, a comunhão fraterna, a partilha dos bens, a atenção para dar a cada um, conforme as suas necessidades. “A multidão dos fiéis era um só coração e uma só alma.”
A segunda leitura (1Jo 5,1-6), é uma releitura da experiência vivida e um estímulo no meio de aflições e conflitos em que estão as comunidades. Recorda que todos aqueles que aderem a Jesus na fé tem as suas vidas transformadas pelo amor a Deus e renascidos pelo Espírito. Estes são movidos a um compromisso fiel de fraternidade, superando as forças do mal. Por isso, o grito que expressa a grande certeza: “A vitória que vence o mundo é a nossa fé.”
Permanece o apelo para nossas comunidades, famílias, grupos: de que modo podemos ser um sinal de fé comprometida e de gratuidade na partilha fraterna, no meio de uma sociedade com tantas feridas de violência, negativismos, exclusões, injustiças?
No relato do Evangelho (Jo 20,19-23), vemos que a comunidade dos apóstolos e discípulos estava reunida numa casa, com as portas fechadas, por medo dos perseguidores. Sentiam o vazio da partida do Mestre que lhes dava força, coragem, inspiração para caminhar, iluminando o caminho, dando sentido para sua missão. Eis que o Ressuscitado se faz presente no meio deles, entra com as portas fechadas, ultrapassando as barreiras, as resistências do medo, das dúvidas! Jesus está no centro da comunidade! Infunde em primeiro lugar a sua Paz!
Os discípulos reconhecem sua presença, recebem novo alento. Só Ele pode desencadear a mudança de horizonte, fazer brotar um clima de paz, um impulso para abrir as portas e sair ao encontro dos irmãos, como fez o Mestre no seu projeto de humanizar as relações, humanizar a vida.
Seus seguidores são frágeis e Ele sabe disso. Jesus sopra seu Espírito sobre eles, dizendo: “Recebam o Espírito Santo.” Então os envia para que “reproduzam” sua presença entre as pessoas do mundo inteiro, concretizando os seus gestos libertadores. Sentem seu sopro criador e tudo começa de novo.
Somos chamados, também nós, a um “novo começo!” O Papa Francisco nos convoca à sinodalidade, caminhar juntos, buscando na oração e no diálogo novas formas de evangelização. O Espírito do Ressuscitado nos converte em Igreja viva, uma Igreja que abre as portas, uma Igreja em saída.
Só o seu Espírito renova a face da terra, os nossos corações, ressuscita o que está morto em nós, põe em movimento o que está bloqueado. Está presente onde se desperta e faz crescer a vida, onde se respeita e se defende a vida, onde há entrega a serviço da vida.
Sua Luz esclarece nossa mente, nosso coração, criando em nós uma nova “ótica” e uma nova “prática”. A força do Ressuscitado conduz a pessoa a uma vida nova, fundamentada em verdades mais profundas, em experiências que reavivam a chama da contemplação, a chama da fraternidade, a chama missionária.
Escutemos o que nos diz Santa Maria Eugênia: “É preciso alimentar-se de Luz para comunicar a Luz.” Estamos mergulhados no tempo litúrgico em que resplandece a Luz do Ressuscitado, presente no meio de nós, para iluminar as nossas obscuridades, romper barreiras de nossas relações, superar medos e resistências, diante dos desafios da vida e as urgências da missão.
Somos chamados a acolher com fé a presença do Ressuscitado no meio da comunidade, fazendo eco ao que Jesus disse a Tomé: “Acreditaste porque me viste. Felizes os que não viram e creram.”
Que o Espírito do Ressuscitado nos encha de compaixão para enxergar, “tocar nas chagas” dos irmãos e irmãs. Que nos ensine a ser testemunhas de sua Misericórdia, portadores de Esperança no mundo ferido.
Nossas vidas, nossas comunidades em missão sejam sinais que clamam: “A Luz resplandeceu, em plena escuridão, jamais irão as trevas vencer o seu clarão!”.
Lais Teresinha Lacerda