POR ELE EU ENFRENTO TUDO

                                        POR ELE EU ENFRENTO TUDO

Há uns tempos atrás, entrei num ônibus que estava muito cheio. Muitas pessoas em pé, tendo que se espremer quando alguém tinha que passar, agarrando-se ao que pudessem para não perder o equilíbrio nas curvas ou nas freadas das paradas do ônibus. Depois de algum tempo, vagou um lugar e fui me sentar ao lado de uma mulher, que carregava uma criança no colo. A mulher era ainda jovem, e a criança estava dormindo.

Como a viagem era longa, logo começou uma conversa. Ela me contou que estava há pouco tempo na cidade, morando em casa de um parente e à procura de emprego. “Vim para cá por cause dele”, disse ela, apontando para o filho. Nisto, o ônibus deu um solavanco e a criança abriu os olhos. Por um instante, os olhinhos dele brilharam, mas logo depois se tornaram opacos, como se estivessem fixos em algo bem distante… Aos poucos, fui entendendo a história que ela me contava, com a maior simplicidade. O menino tinha um problema, e esse problema era sério… “O doutor me disse, continuou ela, que talvez ele não vai viver muito tempo…” Uma sombra como que passou sobre o seu rosto, e ela olhou com imensa ternura para o filho que carregava. “Mas eu faço tudo por ele”, ela dizia. “Eu quero que ele viva e que seja feliz. Eu enfrento tudo por ele”.

O ônibus chegou numa parada e nós nos separamos. Estivemos juntas, sentadas lado a lado, apenas por um pouco tempo. Certamente, nunca mais teremos a possibilidade de nos encontrar. Mas o olhar daquela jovem mãe e as palavras que ela disse, com tanta simplicidade e autenticidade, ficaram ecoando em mim até hoje… “Por ele eu enfrento tudo”.

Sim, ela enfrentou muita coisa… Enfrentou a pobreza, a falta de recursos médicos para seu filho… Enfrentou uma longa viagem, sabe Deus em que condições, em busca do socorro que poderia obter numa grande cidade… Enfrentou a dificuldade de viver em casa alheia, de parentes não tão próximos, para poder cuidar do filho… Enfrentou as dificuldades para ser atendida em hospitais públicos, em conseguir medicamentos, em carregar para todos os cantos uma criança cada vez mais pesada, porque crescia… “Por ele eu enfrento tudo”…

A coragem daquela mulher me tocou. Ela não estava mendigando ajuda… Ela não estava se lamentando da vida que levava… Ela não estava se vangloriando das dificuldades que tinha encontrado e vencido ao longo do caminho… Ela estava simplesmente falando de sua vida… E naquelas cinco palavras, ela entregou a chave de sua existência: “Por ele eu enfrento tudo”…

Com isso, ela me deu – e eu a transmito a vocês – uma tremenda lição. Nossa vida ganha sentido quando ela encontra um objetivo. Quando somos capazes de orientar nossa vida para a realização de algo que nos ultrapassa, não somente a vida ganha sentido, mas nós, cada um(a) de nós, como pessoa, ganha densidade. “A vida cresce quando é doada”, diz o Papa Francisco. Doar a vida é focá-la em um grande objetivo maior do que nós mesmos, que nos faz sair de nós mesmos e ir ao encontro de outros. A esse objetivo damos o nome de “missão”. 

Pense em pessoas cuja vida você admira. Talvez sejam pessoas que você conhece pessoalmente, com quem você se relaciona, que levam uma vida “normal”, mas que, pelo simples fato de existirem, fazem uma diferença… Ou talvez sejam pessoas cujas histórias são conhecidas e que se tornaram estímulos para nós. Mas, sejam elas conhecidas apenas por um pequeno grupo de pessoas, ou conhecidas nacional, ou até internacionalmente – elas nos fazem pensar no sentido que damos à nossa própria vida.

Vamos parar e pensar um pouco. Qual é a missão à qual você se sente chamado(a)?… Ou, em outras palavras, o que é que, na sua vida, move você? Qual é o grande objetivo que você um dia descobriu e que, desde então, continua orientando sua vida? Qual é o sentido que sua vida tem para outras pessoas? Qual é a marca que sua vida está deixando em outras pessoas?

Santa Maria Eugênia tem uma palavra que nos faz refletir. Ela diz: “Cada um(a) de nós tem uma missão nessa Terra”. Na realidade, “missão” não é algo que diz respeito apenas àqueles e àquelas que chamamos de “missionários(as)”. Missão é algo que diz respeito a cada um, a cada uma de nós, a cada pessoa humana.

Para nós, cristãos e cristãs, que cremos num Deus que é Pai amoroso, que cuida de todos os seus filhos e filhas, “missão” é a responsabilidade que ele nos pede assumir em relação a uma maior plenitude de vida por parte de nossos irmãos e irmãs. A missão não parte de nós mesmos, não é simplesmente uma decisão que tomo por gostar deste ou daquele tipo de ação. A missão que assumo é a resposta a um envio que recebo, um envio que me vem de Deus. Sim, Deus me faz compreender que tal pessoa, ou tal causa, precisa de mim, de meu esforço, de meu empenho, de minha boa vontade, de meu entusiasmo, de meu cansaço… Este é o envio que ele me faz…

Deus, Criador e origem da Vida, cuida de tudo o que ele criou por meio de nós. Ele nos associa a seu ato criador, que é contínuo. Aquilo que Deus criou, ele quer não somente manter em vida, mas sempre em maior qualidade de vida. E para isto ele nos delega, nos envia, nos responsabiliza… Os dons e capacidades que dele recebi devem ser postos a serviço de mais qualidade de vida de meus irmãos e irmãs, assim como também de nossa Casa Comum, esse planeta Terra que habitamos. Assim foi desde o início da história da criação. “Onde está o teu irmão?” (cf. Gn 4,9) é uma pergunta que está no livro do Gênesis e que ecoa em nossos ouvidos até hoje…

Há pessoas que têm uma missão “visível”, pública, e que por essa missão são conhecidas. Por exemplo, a Dra. Zilda Arns, que fundou a Pastoral da Criança, se sentiu chamada a proteger a vida de inúmeras crianças que morreriam por falta de cuidados ou por subnutrição. Essa foi sua missão. Santa Maria Eugênia, também, vendo uma juventude sem rumo na vida, se sentiu chamada a fundar uma congregação que trabalharia, pela educação e evangelização, na transformação da sociedade. Essa foi sua missão.

A maioria das pessoas, porém, tem uma missão “invisível”, ou seja, não conhecida por muitos. Elas se dedicam a uma pessoa ou a uma causa e fazem disso o horizonte de suas vidas, sentindo-se “parceiras” de Deus na construção do seu Reino. Mas, seja ela “visível” ou “invisível”, quem tem consciência de ter uma missão é capaz de vencer dificuldades e passar por sofrimentos. Mas o sentido profundo da missão as torna vencedoras. Assim foi com aquela mulher de quem sentei perto no ônibus…

E você? Como todo ser humano, você tem uma missão nesta Terra. Qual é sua missão? Por quem ou por que causa você se sente capaz de “enfrentar tudo”?

 

Irmã Regina Maria Cavalcanti

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