Era um dia de domingo ensolarado. A Missa tinha terminado, e o povo saía da igreja caminhando com calma, cumprimentando uns assim mesmo de longe, aproximando-se mais de outros para um dedo de prosa… As crianças se olhavam. As que se conheciam davam um sorriso ou acenavam com a mão…
Aos poucos, cada um foi tomando o seu caminho de casa. Foi nesta caminhada de volta que Jorginho verbalizou a pergunta que martelava em sua cabeça desde os primeiros momentos da Missa. “Mãe, perguntou ele, o que é “glória”? A gente cantou “Glória te damos Senhor”, mas, o que é “dar glória”? A mãe ficou pensativa, imaginando como poderia responder a esta pergunta… Nisso, a caçulinha quis também entrar na conversa e declarou, para quem quisesse ouvir: “Na minha turma na escola tem uma menina que se chama Glória”. Estavam passando por uma banca de revistas, e a manchete do jornal da cidade estampava: “O time da cidade viveu ontem seu dia de glória”. A mãe olhou a banca de relance e seus olhos captaram as palavras do título da notícia, em letras grandes. E ela pensou: “Mais um complicador para a minha explicação”. E o menino insistia: “Mãe, o que é “glória”, o que é “dar glória”?…
Você já pensou no sentido que dá a esta palavra? O que é “glória” ou “dar glória” para você?
Segundo o dicionário, “glória” é: “1- Fama obtida por ações extraordinárias, grandes serviços à humanidade, etc.; celebridade, renome; 2- Brilho intenso, esplendoroso; 3- Honra, homenagem”. Será que estes significados responderiam à pergunta do menino?…
Muitas vezes, em nossas orações, a palavra “glória” tem o seu lugar: Glória ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo… Glória a Deus no mais alto dos céus…Glória a ti, Senhor… E tantos outros hinos e cantos… Se tomarmos na Bíblia o livro dos Salmos, que é o livro de oração do Povo de Deus do Antigo Testamento, veremos que “glória” é uma palavra que aparece muitas e muitas vezes. E o que queremos dizer quando usamos esta palavra falando com Deus?…
“Glorificado seja o vosso nome” é um dos pedidos da oração do Pai Nosso, esta oração que Jesus ensinou aos seus discípulos, e que nós aprendemos desde a infância. Ao ensinar a seus seguidores esta maneira de rezar, Jesus quis mostrar-lhes que o nome de Deus deve sempre ser honrado, nunca banalizado. Honrar o nome de Deus é respeitá-lo, é dignificá-lo. É reconhecer os seus feitos. É louvar a Deus, reconhecer que tudo é dele e que tudo devemos a ele: nossa vida, nossos dons e qualidades, nossas capacidades – tudo o que somos é dom que ele nos fez. Fazer frutificar estes dons é honrar nosso Criador, nosso Pai, é dar glória a Deus.
Não costumamos dizer que honra a sua família a pessoa que tem uma vida digna? Por isso podemos dizer que honra a Deus, que glorifica a Deus, a pessoa que faz sua vida frutificar na finalidade para a qual Deus criou a humanidade, ou seja, para sermos reflexos vivos de sua bondade, de sua misericórdia, de seu amor. Quem pauta a vida pelas virtudes naturais – a verdade no ser, no agir e no falar; a honestidade e a bondade no trato com os outros; a capacidade de se compadecer com o sofrimento alheio; a firmeza e a responsabilidade nos compromissos assumidos; a atitude de pensar no bem dos outros antes de pensar em si mesmo – este está glorificando a Deus por sua própria vida, está dando glória a Deus, ainda mesmo que não o conheça, pois está sendo plenamente humano, está vivendo aquilo que Deus quis ao criar o ser humano. É por essa razão que podemos falar nos “santos pagãos”, homens e mulheres que, sem conheceram a Revelação, vivem na retidão de sua consciência e cumprem, sem o saberem, o projeto que Deus tem para toda a humanidade.
Quanto mais, então, dão glória a Deus as pessoas que, além de viverem as virtudes naturais, têm a graça de viverem a fé, a esperança e a caridade – as chamadas virtudes sobrenaturais, ou teologais. Somos privilegiados por conhecermos a Palavra de Deus, a Revelação de seu amor em Jesus, seu Filho e nosso Irmão. Por isso, somos também mais responsáveis por orientar nossa vida para a realização do projeto de Deus, em nós mesmos e no mundo em que vivemos.
Santa Maria Eugênia tem uma palavra forte nesse sentido. Ela disse, partilhando algo que fazia parte de sua visão do mundo e de sua vivência de fé: “Creio que a Terra é um lugar de glória para Deus”. E ela dizia isto em um tempo difícil, em que havia guerras, epidemias, exploração dos mais fortes sobre os mais fracos, numa sociedade em que havia corrupção, ódio, mentiras, muito sofrimento – tal qual nos dias de hoje… Mulher profundamente lúcida que era, ela conhecia as mazelas da sociedade de seu tempo. Mas a força de sua fé fazia com que ela fosse capaz de dizer esta frase como um grito do coração de alguém que vê seu mundo e seu tempo com um olhar positivo.
Não nos cansamos de dizer que Santa Maria Eugênia foi uma mulher de fé e de ação. Sua fé fazia com que ela tivesse diante dos olhos o projeto de Deus para a humanidade, o Reino de Deus que Jesus anunciou por suas palavras e atitudes. Ela era também uma mulher lúcida, capaz de analisar os fatos e conhecer as engrenagens da sociedade de seu tempo. Sua fé e sua lucidez levaram-na a perceber as consequências sociais do evangelho e se comprometer com a transformação da sociedade a fim de que o Reino de Deus pudesse ir brotando nela.
Santa Maria Eugênia é farol em nossas vidas. Suas palavras nos inspiram. Então, como poderemos trazer para o quotidiano de nossa vida esta palavra tão cheia de positividade? Podemos entender esta palavra de Santa Maria Eugênia em dois níveis de profundidade. O primeiro é ver nossa Terra como a obra de amor do Criador, com toda a beleza e a capacidade de vida que ela contém. Quando vemos uma paisagem que nos encanta por sua beleza, quando vemos a riqueza de vida que existe em tantas espécies de flora e de fauna que povoam nosso planeta não podemos deixar de glorificar a Deus por seu poder de Criador e de Vivificador: a Terra é, realmente, um lugar de glória para Deus, mas que está sendo extremamente danificada pela ganância humana.
Num segundo nível de profundidade, podemos ver que Santa Maria Eugênia afirma que a Terra é um lugar de glória para Deus porque nela podemos glorificar o amor de nosso Pai. Podemos dar glória a Deus vivendo de acordo com os ensinamentos de Jesus e lutando para transformar esta nossa Terra num lugar onde se vivam os valores do Evangelho: a paz, a justiça, a verdade, a retidão, a fraternidade, o amor nas relações em família, na vizinhança, nos ambientes de trabalho e na organização da sociedade. Assim, daremos glória a Deus… Foi por isso que aquela mãe respondeu ao menino: “Meu filho, dar glória a Deus é ser aquilo que Ele quer que a gente seja. É dizer a Ele que temos amor para com Ele e que queremos agradar a Ele em tudo o que fazemos”.
Irmã Regina Maria Cavalcanti