FEITOS PARA A LUZ

Era uma daquelas noites de tempestade… O vento corria solto, uivando pelas esquinas… Raios iluminavam as nuvens, e a chuva pingava grossa… De tempos em tempos, o trovão reboava, fazendo tremer os vidros das janelas… Maria se lembrou de uma goteira que tinha aparecido na última chuva e que não tinha sido consertada… Resolveu ir ver… Chegou no corredor e lá estava ela, pingando com intensidade e formando um pequeno lago no chão… Correu para pegar um balde… Colocou-o por debaixo da goteira e ficou parada por uns segundos, ouvindo o som forte das gotas que caíam no balde de metal… Voltou à sala… De repente, um estrondo mais forte do que os anteriores, e as luzes se apagaram… Todas… As de casa e as da rua… Tudo ficou mergulhado na escuridão, enquanto a tempestade parecia ganhar força… E agora?… Que fazer?… Na ânsia de fazer alguma coisa, pegar uma vela, talvez, foi na direção da porta, mas tropeçou numa cadeira… E aí se lembrou: esquecera de comprar velas… Percebeu que talvez fosse melhor ficar quieta do que tentar andar pela casa…

Uma angústia estava apertando seu coração… Onde estaria sua filha, que até agora não tinha chegado em casa?… Teria sido apanhada pela tempestade em plena rua?… Estaria abrigada em algum lugar?… E o medo foi tomando conta de seu coração… Medo pela filha… Medo dos estragos que a tempestade podia fazer em sua casa… Medo por estar ali, sozinha, sem poder fazer absolutamente nada, sentindo-se impotente diante da fúria do vento e da chuva… Olhando em volta, na total escuridão, ela via como que formas estranhas naquela sala de sua própria casa, que ela conhecia tão bem… Com o coração apertado, Maria enterrou a cabeça nas mãos e rezou, deixando que uma lágrima lhe escorresse pelo rosto…

Depois de um certo tempo, ela ouviu um trovão; ele parecia longe, não mais em cima de sua cabeça, como ela os sentia no começo da tempestade… Um outro trovão, também longe, parecia estar chamando o vento e a chuva para ir embora… O vento amainou… A chuva amansou… Maria deu um suspiro longo… E foi aí que a luz piscou… O coração de Maria deu um pulo… Mas logo, logo, ela estava de novo mergulhada na escuridão…

Depois de uns dez a quinze minutos, de repente a luz voltou, em todo o seu esplendor…As formas estranhas que ela tinha vislumbrado na sala já não estavam mais lá… E tudo estava em seu lugar… Ele deu uma volta pela casa: fora a goteira, que tinha se tornado mais forte, tudo estava como antes, não havia outros prejuízos… Ela começou a ouvir o barulho de carros pela rua, que antes tinha estado deserta… Em breve, sua filha iria chegar… Maria sentou-se e, pouco a pouco, sua respiração voltou ao ritmo normal… A luz lhe havia trazido segurança e calma, e afastado o medo que se tinha apoderado dela… “Bendito seja Deus por essa luz que voltou”, murmurou ela…

De fato, nós fomos feitos para a luz… Nós, pessoas humanas, precisamos de luz. Luz externa e luz interna. Claridade para os olhos e discernimento para o coração.

Há momentos na vida em que parece que a luz se foi embora… São momentos de dor, de inquietação, de não saber para onde ir nem o que fazer, de se sentir pequeno demais diante dos problemas que se avolumam na vida… São momentos de luto, momentos de perda. São momentos em que parece que perdemos o volante de nossa vida: não sabemos como nos orientar… Sentimo-nos como que imersos em grande escuridão… E desejamos, ardentemente, que a luz volte a iluminar nosso coração… 

Santa Maria Eugênia tem uma palavra que nos ajuda nestes momentos. Ela disse: “Nosso Senhor é a luz de nossa alma, como o sol, ao nascer, é a luz que ilumina os olhos do nosso corpo. Aqui embaixo, é a aurora na fé; no céu, ela brilhará com todo o seu esplendor”.

Quem não se extasia diante de um sol que nasce no horizonte, rompendo a escuridão da noite e banhando a paisagem com sua luz maravilhosa? Essa luz nos faz enxergar a beleza que existe ao nosso redor, as cores que encantam a vista… O que era sombra se tinge de vida: o azul do mar, o verde das plantas, o céu com reflexos de diversos tons enquanto o sol vai se levantando. Sim, a luz traz alegria, nos acalma, nos dá segurança…

Precisamos de luz… A fé nos traz uma luz interior. Essa luz, a mais brilhante que possa existir, é a presença de Jesus em nossa vida. Ele mesmo disse uma vez: “Eu sou a luz do mundo. Quem me segue não andará nas trevas, mas terá a luz da vida” (Jo 8,12). A presença de Jesus em nosso coração nos acalma diante das tempestades da vida. Ele nos dá força, paz, segurança, firmeza e alegria. Com ele podemos enfrentar as situações difíceis que a vida, muitas vezes, nos traz.

A luz da fé, ou melhor, “a aurora da fé”, como diz Santa Maria Eugênia, despontou em nós pela graça de nosso Batismo. Cabe a cada um de nós alimentar esta fé, para que a luz da aurora se transforme em luz do meio-dia, brilhante, forte, irradiante… E como podemos alimentar nossa fé? Aproximando-nos cada vez mais de Jesus.

Ele não está longe de nós… Pelo contrário, ele habita no mais profundo de nós… Deixemos que a luz de Jesus ilumine nossos pensamentos, nossos projetos, nossas decisões, nossos atos, nossas atitudes, nossos relacionamentos… Tomemos o costume de, a cada manhã, escolher uma palavra, uma frase do Evangelho para ser a nossa “luz” naquele dia. Repitamos interiormente esta frase várias vezes ao dia, como mantra, caminhando, no ônibus, esperando numa fila, varrendo a casa ou aguando uma planta… Que nossas ações mais simples, mais corriqueiras, sejam vivificadas por dentro pelas palavras do Evangelho. Isto nos ajudará a entrar numa atitude interior de escuta das palavras de Jesus e nos ajudará a tê-lo mais presente em nosso dia a dia. 

Se essa luz, que é a presença de Jesus em nosso coração, brilhar através de nossas palavras e atos, vamos nos tornando capazes de ser reflexos dessa luz, uns para os outros. Jesus, que se definiu como “luz do mundo”, quer que sejamos também pequenos fachos de luz, levando paz, alívio e alegria para nossos irmãos e irmãs. Ele também nos disse: “Vocês são a luz do mundo (…) Assim também, que a luz de vocês brilhe diante dos homens, para que eles vejam as boas obras que vocês fazem e louvem o Pai de vocês, que está no céu” (Mt 5, 14 e 16).

Vocês certamente já encontraram pessoas que foram luz em algum momento de sua vida. Pessoas que, de uma certa maneira, nos fizeram “sentir” Deus bem perto de nós… Isto é o que Jesus espera de nós: que sejamos reflexos dessa luz que habita em nós.
Sejamos, nós também, luz para os outros.


Irmã Regina Maria Cavalcanti 


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