Cristo obedeceu até à morte e morte de cruz.
Por isso Deus O exaltou e Lhe deu um nome que está acima de todos os nomes.
A liturgia do Domingo de Ramos, o último da Quaresma, convida-nos a contemplar esse Deus que, por amor, desceu ao nosso encontro, partilhou a nossa humanidade, fez-se servo dos homens, entregou-se à morte para que o egoísmo e o pecado fossem vencidos. A cruz vivenciada por Jesus apresenta-nos a lição suprema que Deus nos propõe: a doação da vida por amor.
A primeira leitura (Isaías 50, 4-7), nos traz um personagem anônimo, que fala de seu chamamento por Deus para cumprir a missão de anunciar a palavra divina e, assim, trazer consolo ao povo sofredor. “O Senhor deu-me a graça de falar como um discípulo, para que eu saiba dizer uma palavra de alento aos que andam abatidos”. Apesar de ele não ser um profeta, comporta-se exatamente como se fosse; é um “servo do Senhor” que narra a sua vocação, com os elementos típicos dos relatos proféticos. É através dele que Deus se manifesta aos homens. Este servo está aberto e escuta o que Deus lhe fala como um verdadeiro discípulo. Coloca-se inteiramente à disposição a fim de poder exercer sua missão da melhor forma possível, já que foi escolhido por Deus para isso.
O anúncio da mensagem divina traz sempre resistências e reações negativas por parte do povo que a escuta, causando sofrimento ao servo do Senhor. Este, porém, enfrenta dignamente a situação através da força que o próprio Deus lhe dá. Sabe que não está sozinho e segue firme na sua missão de trazer esperança e consolo ao povo sofredor. A paixão do servo pela Palavra de Deus sobrepõe-se ao sofrimento que ela possa lhe trazer.
Podemos fazer um paralelo entre este personagem “profético” e Jesus, uma vez que ambos colocaram sua vida a serviço de Deus, com o objetivo de levar a salvação a todas as pessoas e, por causa disso, enfrentar todos os tipos de sofrimentos, inclusive a morte, que será apresentada no Evangelho deste domingo.
Diante disso, podemos refletir se, como cristãos, temos assumido nossa missão profética e como a temos vivenciado. Qual tem sido a nossa disposição em anunciar a palavra de Deus e vivenciá-la de forma firme e corajosa? Confiamos que não estamos sozinhos neste caminho? Se não contarmos com a ajuda de Deus nesta missão, nos sentiremos fracos e logo desistiremos
.Na segunda leitura (Filipenses 2, 6-11), São Paulo fala à comunidade de Filipos pela qual ele tinha muita consideração. Esta comunidade era bastante ativa, colaborava e apoiava a Igreja de Jerusalém, porém, faltava-lhe ainda compreender e praticar virtudes tais como o desprendimento, a simplicidade e a humildade. Neste contexto situa-se a mensagem de Paulo, justamente enfocando a trajetória existencial de Jesus calcada nos valores acima descritos.
Podemos destacar que Jesus, apesar de sua condição divina, não assume nenhuma atitude de soberba ou arrogância, pelo contrário, aceitou fazer-se homem revelando profundo despojamento e humildade em suas ações. E o fez com qual objetivo? Para revelar à humanidade o Ser e o Amor do Pai. Em outras palavras, obedeceu fielmente à vontade do Pai e dedicou toda sua vida a serviço dos homens, para que estes se salvassem e tivessem vida plena e abundante.
E mais, para que tudo isso se cumprisse, Jesus sofreu perseguições, agressões e desprezo por parte de diferentes segmentos da comunidade onde vivia e ensinava, culminando em sua morte na cruz. Assim, nos ensinou a suprema lição do serviço, do amor radical e da entrega total da sua vida em benefício de toda humanidade.
É importante aqui destacarmos que o sofrimento e morte na cruz de Jesus não foi em vão nem significou um fracasso; ao contrário, Jesus Cristo ressuscitou e foi glorificado pelo Pai que o colocou como Senhor de toda terra, agora e sempre.
O Evangelho de Lucas (22,14 – 23,56), nos relata a paixão de Jesus com todos os acontecimentos e detalhes envolvidos nesse episódio. No início, temos o relato da última Ceia, quando Jesus faz questão de compartilhar com seus discípulos o pão e o vinho, prenunciando seu sacrifício e morte; ao dizer “fazei isto em memória de Mim” Jesus quer nos ensinar que como discípulos, devemos não apenas celebrar o ritual da última ceia como uma memória e, sobretudo, seguir o seu exemplo e, repetindo a sua entrega através da doação total da vida por amor.
A morte de Jesus tem que ser entendida no contexto daquilo que foi a sua vida. Desde cedo, Jesus percebeu que o Pai O chamava a uma missão: anunciar a Boa Nova aos pobres, sarar os corações feridos, pôr em liberdade os oprimidos. Assim sendo, Jesus passou pelos caminhos da Palestina “fazendo o bem” e anunciando a proximidade de um mundo novo, de vida, de liberdade, de paz e de amor para todos. Ensinou que Deus era amor e que não excluía ninguém, nem mesmo os pecadores; todos os homens eram iguais perante Deus, merecendo o seu perdão. Por outro lado, Jesus denunciou as injustiças, a opressão e o egoísmo reinante em seu tempo: a sua proposta de vida entrou em choque com as autoridades políticas e dominantes da época que se sentiram incomodadas com a denúncia de Jesus pois perderiam o poder, o domínio sobre os mais fracos e seus privilégios. Por isso prenderam Jesus, condenaram-no e o pregaram na cruz.
Muitos pontos poderíamos levantar sobre a paixão de Jesus, mas gostaria de salientar a serenidade de Jesus durante todo o seu calvário. Em nenhum momento ele se desespera, embora passe por muitos sofrimentos e provações. Isto revela a profunda consciência de sua missão e seu compromisso junto ao Pai, que se concretiza pelo seguimento do caminho do Amor e da compaixão. Em diversos momentos Jesus faz orações, revelando a necessidade de buscar energia e forças junto ao Pai. Demonstra assim, fé e esperança naquele que o acolhe com misericórdia.
Por diversas vezes, mesmo sofrendo agressões e humilhações, Jesus se dirige a outras pessoas com atitudes de compaixão: cura o criado ferido pela espada de Pedro, consola as mulheres aflitas, pede que Deus perdoe seus algozes pois eles não sabem o que fazem. Temos assim o mais belo exemplo a seguir e a guiar nossos passos!
Amar como Jesus é viver a partir de uma dinâmica em que a morte não pode vencer: o amor gera vida nova e introduz em nós os dinamismos da ressurreição.
Uma resposta
Boa reflexão no caminho de preparação para viver a Semana Santa.