CAPÍTULO DE 10 DE MARÇO DE 2024: “VIVER A GRAÇA ESPECIAL DE NOSSO TEMPO”

Muito queridas Irmãs e amigos,

Desejo a todos uma feliz festa de Santa Maria Eugênia!

Escolhi, para nossa reflexão deste ano, um dos pensamentos favoritos de Santa Maria Eugênia: “Viver a graça especial de nosso tempo”. Visto estarmos nos preparando para o próximo Capítulo Geral, este pensamento se reveste de um significado especial. Como discernimos e respondemos à graça especial do momento presente? Em uma de suas Instruções, Maria Eugênia escreve: “A cada dia, Ele (Deus) nos faz compreender o que deseja de nós; precisamos apenas ser bem fiéis à graça de

cada dia. O que muitas vezes impede as almas de progredir é que elas não se aplicam bastante a usar bem o momento presente”1 Mais tarde, ela escreve: “Existe a alegria de amá-lo (a Deus) mais a cada dia, que é a graça especial da vida religiosa e, eu também diria, a graça especial do tempo em que vivemos. Vivemos num tempo de ansiedade e de incertezas. Não sabemos realmente o que o Senhor vai fazer conosco”2. Para Santa Maria Eugênia, esta graça especial é muto ligada o projeto de Deus para o nosso tempo. Em seus escritos, ela nos convida a buscar esta graça especial, a senti-la em nosso próprio ser, a descobri-la, a compreendê-la, a abraçá-la e a vivê-la fiel e plenamente – de uma maneira significativa e frutuosa.3

Como descrever a graça de nosso momento presente na História da humanidade, na História da Igreja e de nossa congregação? Se fosse responder a isso com uma única frase, diria: mudanças rápidas, deslocamentos e a graça de adaptabilidade.

Muitas de nós vivemos em dois séculos – o que significa também em dois milênios diferentes. Pensando apenas na comunicação, fomos das cartas manuscritas enviadas pelo correio e máquinas de fax a e-mails e mensagens instantâneas de Whatsapp. Fomos de chamadas telefônicas discadas e com a ajuda de uma telefonista para chamadas internacionais a vídeo-chamadas instantâneas internacionais. Nós nos lembramos de termos usado computadores de 64 KB ou de 1MB de armazenamento. Trabalhamos muito com esses computadores nos anos 1980 e 90. Usávamos disquetes e CDs. E agora, os gigabytes e os megabytes de nossos celulares não nos bastam. Fomos do tempo em que acompanhávamos jogos esportivos pelo rádio, a assistir a eles em TVs branco e preto, depois em TVs coloridas e, agora, em 3D- HDTVs. E no campo de transações financeiras, fomos do uso de cheques bancários a transações online. E ainda mais, a tecnologia que está sempre se desenvolvendo da internet ao sistema de Inteligência Artificial (IA) está revolucionando nossa vida diária com novas possibilidades.

A transformação trazida pela chegada das promessas de IA é imensa. Algumas de nós estamos acostumadas com, e até às vezes usamos o ChatGPT. Lembro-me de tê-lo usado numa conferência internacional quando tivemos que resumir mais de 800 páginas em poucas horas. Ele tem uma variedade de usos, incluindo reconhecimento de conteúdos, produção de textos, resumo de conteúdos, classificação e tradução.

Numa recente entrevista, falando da IA, Fr. Paolo Benanti4 sublinha: “o desenvolvimento rápido e global dos sistemas de Inteligência Artificial (IA) pegou muitas pessoas de surpresa. Esse cenário de rápidas mudanças é um processo interdisciplinar que pede diversas capacidades e disciplinas, trazendo consigo numerosos fatores de crises e novos estímulos”. É realmente ingênuo pensar que essas novas tecnologias são neutras. Devido à sua habilidade em produzir conteúdo persuasivo e aparentemente real, de acordo com Benanti, as IAs são potenciais jogadores que influenciam nosso domínio cognitivo ou que mudam não somente o que pensamos, mas também a maneira pela qual pensamos e agimos. Nessa mesma entrevista, ele fala sobre “uma espécie de confronto entre máquinas, que parecem cada dia tornar-se mais humanizadas, e seres humanos, que se vêem mais e mais como máquinas”. E ele continua: “Se a inteligência não é uma faculdade abstrata produzida por um órgão, o cérebro, talvez o que conta, no fato de sermos Homo Sapiens é o nosso ser como pessoa, é também o corpo que habitamos. Somos inteligências encarnadas.. O meio que habitamos, nosso corpo, não é apenas um “hardware”, um material qualquer, e isso faz toda a diferença”5.

O que é perturbador, no entanto, não é apenas o fato das novas tecnologias como tais, mas sim a concentração de um poder enorme nas mãos de poucos. Falando da IA e da Paz, o Papa Francisco chama nossa atenção para “alargar nosso olhar e dirigir as pesquisas técnico-científicas para a busca da paz e do bem comum, para o serviço do desenvolvimento integral das pessoas e das comunidades. Nesse mesmo documento, o Papa Francisco expressa sua preocupação na oração “para que o rápido desenvolvimento de formas de Inteligência Artificial não aumente os casos de desigualdade e injustiça tão presentes no mundo de hoje, mas ajudem-nos a pôr fim a guerras e conflitos e a aliviar as muitas formas de sofrimento que afligem nossa família humana”6.

Enquanto a internet e as tecnologias digitais estão transformando radicalmente nossas estruturas sociais e nossos sistemas cognitivos, até que ponto estamos preparados, como cristãos em geral, e como RAs em particular, para acolher essa nova era? Quais são as implicações antropológicas, espirituais, morais e sociais dessas tecnologias? Como podem elas redefinir nossa espiritualidade? Como influenciam e reformulam nosso “estilo de vida”? Como impactam nossa missão de educação e de JPICS? E como podemos incluir os pobres e as pessoas menos privilegiadas nessa jornada transformadora entre a internet e a Inteligência Artificial, que está abrindo caminho para uma nova era de possibilidades?

Espero que essas reflexões despertem algo em nós. Cada momento da História tem uma graça única se nos permitirmos parar e encontrá-la, mesmo nas mudanças de que não gostamos e às quais estamos resistindo. Maria Eugênia convida-nos hoje a abraçar a graça especial de nosso tempo, que inclui o poder dessa tecnologia transformadora (IA).

Irmãs e Amigos, não temos outra escolha que não a de embarcar na trilha da IA e orientar seu poder de transformação para que haja mais vida para todos.

Que Maria Eugênia nos abençoe em nossa jornada! Com toda a minha afeição e orações,

Ir. Rekha Chennattu Superiora Geral

Auteuil, 06 de março de 2024.

_________________________

1 Maria Eugênia, Instrução de Capítulo, 03 de dezembro de 1871.

2 Maria Eugênia, instrução de Capítulo, 12 de março de 1876.

3 Por exemplo, a carta de Maria Eugênia ao P. Gros, nº7504, e Instrução de Capítulo, 20/08/1871.

4 Fr.Paolo Benenti foi recentemente nomeado pelo Secretário Geral das Nações Unidas para o Organismo de Alto Nível sobre Inteligência Artificial.

5 Nuno da Silva Gonçalves, SJ, “Inteligência Artificial e Inteligências Incorporadas: Ǫue fronteira? – Uma entrevista com Fr. Paolo Bananti , La Civiltà Cattolica (26 de janeiro, 2024)

6 Papa Francisco, “Inteligência Artificial e Paz”, 1º de janeiro, 2024.

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