Celebrar Cristo Rei é reconhecê-lo nos empobrecidos.
Encerrando o ano litúrgico da igreja, celebramos a realeza de Jesus Cristo sobre tudo e todos. Esta Festa foi instituída por Pio XI em 1925 tendo por finalidade dar uma resposta a todos que negavam a soberania de Deus e a dignidade da pessoa. Reconhecer que Jesus é Rei, princípio e fim de todas as coisas é dizer não a toda forma de exclusão, opressão, desigualdade. Reconhecê-lo no pobre e pequeno assim como fez Jesus Cristo é apelo também para todas as leigas e leigos, cujo dia celebramos também hoje.
Na primeira leitura (Ez 34,11-12.15-17), datada por volta de 1728-1686 a.C. Ezequiel critica os reis e pastores de sua época. Fala também para todos os que exercem alguma forma de liderança, seja ela religiosa, sacerdotal; dirige-se para profetas e juízes. Ele denuncia este grande grupo dizendo que não estão zelando pelo bem espiritual e físico de seu povo. O futuro, porém, será diferente, pois a promessa de Deus é que haverá quem cuida e fortaleça os débeis e fracos, defendendo-os dos tropeços da vida. A exemplo do pastor que junta as ovelhas, Deus fará isto com o seu povo.Esta é uma realidade muito atual.E quando se tem um pastor, uma pastora que zela pelo “seu rebanho” realmente não “falta coisa alguma” como diz o salmo 22(23).
A segunda leitura (1Cor 15,20-26.28) é direcionada para a pessoa do Rei que orienta o seu rebanho para que possa com ele estar em sua glória. No Reino de Deus se encontram todos aqueles que foram salvos e redimidos, ressuscitados junto com Cristo que venceu também a morte.
No Evangelho (Mt 25, 31-46) é muito importante notar qual é o tipo de ensinamento que Mateus quer desenvolver, recordando assim a qual comunidade ele se refere. Escreve por volta do ano 80, ou seja, século primeiro, onde a empolgação em instaurar o Reino de Jesus já havia desaparecido. E o retrato da realidade não era nada animador, o que predominava era o desinteresse, a acomodação e uma fé muito fraca e descompromissada com os pobres e pequenos. Haviam deixado de lado a prática do amor e da solidariedade. Muitos, com frequência, abandonavam o Evangelho e saiam das comunidades. Ciente desta situação, Mateus convida esta comunidade a viver uma fé mais comprometida e atuante. A palavra é vigiar e se preparar para encontrar o Cristo, Senhor do tempo e da história; vemos aí mais uma vez o grande tema do “discurso escatológico” contido nos capítulos 24 e 25 de Mateus.
Para este evangelista o critério utilizado pelo “rei”, seja para rejeição ou acolhida, é a solidariedade com os pobres, pequenos e marginalizados. São com estes que Jesus se identifica.
No último domingo, aconteceu, por recomendação de nosso Papa Francisco, pela sétima vez, a Jornada Mundial dos Pobres. O objetivo é nos tornar conscientes da missão de cuidar dos empobrecidos. É notório que “o dia dos pobres”, foi abordado de diversas maneiras em algumas realidades, indo do total esquecimento e sendo até mesmo alvo de piadas nas mídias sociais. Cada pessoa, diocese ou paróquia deveria estar bem ciente da importância deste dia para todos, principalmente para os destinatários.
É motivo de muita ação de graças a Deus todo o bem que é feito em direção a estes preferidos de Deus. Os pobres, são alimentados, visitados, vestidos, respeitados. É o Reino acontecendo através de inúmeros projetos solidários, de hortas comunitárias, alimentação de qualidade a baixo custo, projetos com crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade, grupos de mulheres pretas que lutam por cidadania e por aí vai. O Reino de Deus está no meio de nós, é aí que Jesus é coroado Rei do universo.
No entanto, há muito ainda a ser feito. O número de pessoas pobres aumenta a cada minuto. O rosto da pobreza no Brasil é marcado por diversas dimensões que afetam a qualidade de vida e as oportunidades das pessoas. Alguns aspectos que são característicos da pobreza são: a falta de renda suficiente para as necessidades básicas, a desigualdade de acesso à educação, à saúde, à moradia, à água, à energia e à informação. Também a discriminação e a exclusão de grupos vulneráveis, como os pretos, as mulheres, as crianças, os jovens, os idosos, os indígenas, os quilombolas, os migrantes, os refugiados, a população em situação de rua, entre outros. Estes grupos sofrem mais com a pobreza e a violação de seus direitos, enfrentando grandes desafios que os levem a sair desta realidade.
Este cotidiano de pobreza desfila diante de nós a todo momento, e algo concreto é exigido. Olhamos para o lado e além de nossos muros cada vez mais altos lá encontraremos o pobre. Como reagimos? Até quando vamos virar o rosto para o lado oposto e ignorar estes nossos irmãos e irmãs? Muitas vezes é necessário que possamos ir até eles. Em seu coração, neste momento que lê estas palavras você deve ter identificado vários “pobres” em seu entorno. E aí? O que está fazendo, qual sua ação?
O jeito de Jesus reinar é na/com solidariedade; era próximo de quem estava abandonado. A mensagem deste domingo nos impacta, nos incomoda. Ser pastor, cuidador, coordenador, responsável etc.: é olhar, agir, aproximar-se, acolher e providenciar o socorro do pobre, encarcerados, jogados. É isto que que precisamos e devemos fazer.
Lembrando mais uma vez a mensagem do Papa Francisco para o dia dos pobres: “somos chamados a descobrir o Cristo neles: não só a emprestar-lhes a nossa voz nas suas causas, mas também a ser seus amigos, a escutá-los, a compreendê-los, e a acolher a misteriosa sabedoria que Deus nos quer comunicar através deles. (EG,198) No pobre, é o Cristo presente; sempre que fizerdes isto a um destes nossos irmãos mais pequeninos, a Mim mesmo o fizeste” (Mt 25,40).
Que possamos, ir dando passos no crescimento e no compromisso com Jesus Cristo, o Rei e Senhor de nossa vida. Ele pode tudo, mas quer contar conosco para testemunhar de forma concreta seu Evangelho, em nossa “pequena esfera” como nos ensina sempre Santa Maria Eugênia de Jesus.
Somos leigos e leigas, pastores, animadores, responsáveis, coordenadores, lideranças etc., aceitemos o desafio de sermos instrumentos de mudança nesta realidade tão conhecida e desafiante. Vamos juntos?
Ir. Maristela Correia Costa – Religiosa da Assunção – São Paulo