ARTE DO BEM VIVER
A liturgia deste 32° Domingo do Tempo Comum nos prepara para a conclusão do ano litúrgico. As leituras nos convidam a uma atitude de sentinela: “vigiai”, estejam preparados com espírito voltado para a arte do bem viver.
Perpassando as leituras vem o tema da segunda vinda do Senhor. É bom estar atentos à manifestação de Deus na história da humanidade do cosmo. Já na Primeira Leitura apresenta a sabedoria divina como dom gratuito de Deus para conosco. O Evangelho lembra a segunda vinda do Senhor.
A primeira leitura tirada do Livro da Sabedoria (Sab 6,12-16), apresenta o tema da sabedoria, que não é privilégio de alguns, como pensavam os gregos e os romanos. É a súplica dos justos e o projeto para o mundo segundo a justiça, indicando o caminho que Deus quer para o povo: a pratica da justiça. “A Sabedoria é um espírito amigo dos seres humanos e não deixa impune quem blasfema com os lábios” (Sb 1,6); “A vida dos justos está nas mãos de Deus e nenhum tormento irá atingi-la” (Sb 3,1); “A Sabedoria se mostra facilmente a quem lhe tem amor e se deixa encontrar por aquele que a procura”. Quem é sábio pratica a justiça que vem de Deus, graças e dom para a humanidade.
Nesse tempo de discordância de uma sociedade marcada pela defesa do capital, que domina a grande mídia e está presente nas escolas, nas ações governamentais e até mesmo nas igrejas, o tema sobre a sabedoria chega como luz orientadora nas decisões em favor da arte do bem viver. Entendendo o segredo da sabedoria, o povo se livra da idolatria e do risco da perda da identidade de “povo escolhido” chamado a caminhar sob a orientação da Lei de Deus.
É necessário entender bem o Livro da Sabedoria, pois, “a vivência da Sabedoria nos conduz a Deus”. A sabedoria no entendimento bíblico consiste em escolher práticas ético-moral por causa da longa experiência como povo consagrado a Deus. É a atualização dos mandamentos de Deus para os dias de hoje. É o Livro da Justiça e Teologia Política; na defesa entre justos e injustos ele toma posição do justo que é imortal.
No Salmo de resposta à Palavra (Sl 62/63), o poeta expressa o sentimento que brota do coração, confirmando a certeza de, já na aurora, está com sede de Deus e se compara a uma terra seca, sem água. Por isso, a contemplação, a gratidão e o louvor são atitudes necessárias para manter o corpo, a mente e todo o ser em comunhão com Deus e em estado de vigilância nas noites escuras da vida.
Na Segunda Leitura aos Tessalonicenses (1Ts 4,13-18), a comunidade acolhe de coração o anuncio da Boa Notícia. O autor chama a atenção da assembleia a respeito da morte, e alerta com firmeza, sobre a esperança e a ressurreição. Os cristãos sentiam necessidades de serem acompanhados em sua formação espiritual, e alguns tiveram dúvidas sobre a segunda vinda do Senhor Jesus.
Mateus em seu texto de hoje (Mt 25,1-13), narra a parábola das dez noivas, esperando o dia do casamento. O episódio é comparado com o Reino dos céus. Vejamos o contexto cultural desta parábola. Qual a razão pela qual as noivas precisam esperar o noivo com um pouco de óleo na lamparina? Quem é o noivo (de ontem e de hoje)? Quem são essas noivas prudentes e imprudentes?
Se tomarmos a história de Santa Maria Eugênia de Jesus, como fundamento, podemos afirmar que ela soube esperar o momento certo para as grandes decisões de sua vida, com o óleo da fé e a lamparina do Evangelho. Com ela, outras também carregavam suas lâmpadas. O grupo em sintonia com o projeto educativo, ia se fortalecendo para levar em frente a Missão que Deus as confiava. A vigília, a fé e a entrega, fez crescer o grupo até os dias de hoje.
Voltemos ao evangelho. Os personagens que aparecem, no contexto da parábola, têm como pano de fundo, o casamento da época. Era realizado em três etapas: namoro, noivado e núpcias conforme a cultura vigente. Sempre dentro de um determinado tempo e uma negociação entre as famílias dos noivos. A mulher era considerada propriedade do marido. O evangelho usa esse contexto e a imagem do matrimônio para falar de um noivo que pode chegar a qualquer hora, do dia ou da noite, assim como a chegada do Reino dos céus. Para o povo de Israel, era imagem do noivo que viria salvar e selar, definitivamente, a aliança com Deus. Isto era parte do imaginário religioso da época.
No texto aparece o simbolismo das dez noivas; o número dez significa completo e se pode abraçar com as mãos. Entre as dez, cinco puderam entrar e as outras ficaram de fora, por falta de óleo. O número cinco lembra a Carta Magna do povo de Israel, o Pentateuco, que se compreende os Livros do Genesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio. O óleo simboliza a consagração, óleo que ilumina as noites de vigília. O ser prudente ou imprudente faz parte da imagem sapiencial do justo e do injusto de Provérbios e Eclesiástico.
Após o contexto e o texto, escutemos a fala de Mateus. Diante do mundo atual, não se pode negar que as coisas estão bem difíceis, isto exige de nós vigilância e prudência constante. Quem tem poderes estão defendendo seus interesses. As guerras, a violência, o ódio que imperam. Crianças ceifadas, gritos de dores, corpos feridos e massacrados pelas injustiças. Somos um povo a caminho? Semeamos esperança? Profetizamos? Ser profeta e esperançar é preciso. Calar diante das injustiças é pecado contra a vida de Deus em nós. Precisamos vigiar e se deixar impregnar por Deus, trabalhando na transformação da sociedade “através do Evangelho” como diz Santa Maria Eugênia. Tendo em mente esta convicção: “O mundo é um lugar de glória para Deus”. Lutemos pelo presente pois o futuro já está no hoje. Vigiemos implorando a misericórdia de Deus para nós e para o mundo em constante mudanças.
Irmã Maria Teixeira Filho