Sois o sal da terra e a luz do mundo

A liturgia deste domingo nos convida a tomarmos Jesus como mestre e modelo para a nossa vida, somente assim conseguiremos através de nosso exemplo e com atitudes concretas ser luz para o mundo no qual estamos inseridos. 

Agir como Jesus agiu, sendo para o mundo aquilo que Jesus foi concretamente em sua época, nos faz agentes de transformação das situações de desumanização para situações de acolhida, nos faz ser sal para dar sabor à vida de todas as pessoas de boa vontade.

O Evangelho deste domingo, nos mostra que aquele que escuta a palavra de Jesus não pode se conformar com o mundo; deve iluminar as situações de morte e escuridão através de suas obras.
A primeira leitura (Is 58,7-10), tirada do livro do profeta Isaías, nos alerta para as verdadeiras práticas que agradam a Deus; somente seremos luz se nos voltarmos para a prática da Justiça. No versículo 6 (Is 58,6) que antecede a passagem que refletimos na liturgia de hoje ouvimos: “Por acaso o jejum que eu escolhi não é este: romper as amarras da injustiça, desfazer as correntes da canga, pôr em liberdade os oprimidos e despedaçar qualquer canga?

Nesse texto do livro de Isaias nos é apresentado o contexto de uma sociedade que sofre com a violência generalizada, com lideranças que não conseguem instruir a população; o que torna impossível viver uma vida pautada pelos ensinamentos de Deus.

Não é a falta de recursos que gera nesta sociedade a desigualdade e sim o uso egoísta e indevido dos bens por parte daqueles que deveriam zelar pelo bem do povo. A miséria tem como causa a transgressão e os crimes daqueles que não promovem a justiça ao não observarem a prática do direito.

Nessa situação, até mesmo a fé se torna uma ação equivocada, o relacionamento com Deus se torna uma atitude egoísta e contraditória. Por isso, Isaías nos alerta para as atitudes que de fato agradam a Deus e rompem com as amarras da iniquidade, libertando da escravidão os oprimidos.

Para agradar a Deus o povo é convidado a repartir o pão com os famintos, dar abrigo aos pobres, vestir aqueles que estão nus e não se esconder daqueles que nos necessitam (V.7).Agindo assim, Deus se voltará sobre o seu povo como luz que brilha e cura, rompendo as amarras da injustiça e restabelecendo a paz como princípio da dignidade humana.

A Primeira carta de São Paulo à comunidade dos Coríntios (1Cor 2,1-5), tem como pano de fundo mostrar que a verdadeira sabedoria provém de Deus e nos mostra, através do seu exemplo pessoal, que o nosso apoio nunca pode se fiar nas filosofias humanas, linguagens teóricas ou em qualquer outro meio que não venha a ser o poder de Deus, prefigurado no próprio Cristo Crucificado. 

Esta deve ser a mensagem de todo o discípulo de Cristo para todas as pessoas com as quais se encontrar; a “loucura da cruz” deve ser para nós o exemplo de vida a ser seguido.
Diante de uma comunidade que cultua os saberes humanos, seus mestres e suas filosofias, Paulo nos diz: “…não me apresentei a vós com o prestígio da palavra e da sabedoria para vos anunciar o mistério de Deus”. 

Em Deus devemos buscar a nossa força. Uma pessoa sem Deus não vai nos trazer a salvação. Paulo se apresenta fraco a esta comunidade e sem nenhuma persuasão, para que o poder de Deus pudesse através de seu Espírito iluminar toda a vida em comunidade. Quem os convenceu do seguimento de Jesus não foi nada nem ninguém a não ser o próprio Deus.

Para o cristão a cruz é o grande sinal de conhecimento, a cruz nos ensina a confiar plenamente no amor do Pai como Jesus confiou, entregando-se à morte na certeza da ressurreição.

Mateus é o Evangelista da luz, seu Evangelho (Mt 5,13-16) nos apresenta Jesus como a Luz de Deus para a Salvação do mundo; neste sentido o capítulo de hoje nos ensina que o discípulo de Jesus, que escuta e acolhe a palavra de seu mestre, deve ser protagonista desta palavra; ele mesmo é o reflexo desta luz nos lugares por onde passa. 

Não posso querer me auto edificar com os conhecimentos que obtive do mestre, preciso estar comprometido com a transformação do mundo, tornando-o mais parecido com o Reino sonhado por Jesus e prefigurado pelo profeta Isaías.

Por isso o Evangelista nos adverte logo “que somos o sal da terra. Se perdemos o nosso sabor, para que serviremos?”

Para ser sal, devo me parecer cada dia mais com o exemplo de Jesus: fazer da palavra um exemplo de transformação. Se não me comprometo com o exemplo de amor deixado pelo mestre corro o risco de perder o sabor, assim como na passagem do evangelho de hoje. Se o discípulo perde a sua essência, o que justamente o que o liga a Cristo, para que servirá a sua vida?

Somos a luz de Deus posta no mundo para fazer brilhar a sua justiça diante dos homens. E como isto se dará? O evangelista nos responde a que dizendo: “vendo vossas boas obras, eles glorificam vosso Pai que está nos céus”.

Seremos luz, se através de nosso compromisso com a transformação do mundo em um lugar mais justo e mais fraterno, conseguirmos exercer as boas obras do amor e da fraternidade.

A liturgia deste domingo nos convida a refletir. Para nós, cristãos, a fé não deve ser uma palavra morta. Palavra que sai sem vida de nossa boca não servirá para alertar aqueles que cada vez mais oprimem o mundo com sua insaciável loucura pelo poder.

A verdadeira fé que pode chocar o mundo no qual vivemos é aquela que contrapõe os valores capitalistas presentes em nossa sociedade. Nós, os cristãos, como Jesus o fez, colocamos os pequeninos e excluídos deste mundo nos primeiros lugares de nossa vida; os abandonados se tornam prioridade em nossas vidas; os famintos e os nus não continuarão sofrendo as injustiças deste sistema se os verdadeiros seguidores de Deus se lançarem, através de suas obras, na busca por um mundo mais humano e justo.

Agora, como poderemos ser este exemplo vivo da graça de Deus neste mundo?
Tendo a certeza de que nos deixamos levar pelo Cristo crucificado teremos a plena consciência de que é Deus que nos move, de que é Deus quem nos transfigura na figura do amor encarnado; a nossa vida é guiada pela vida e exemplo de nosso Mestre e Senhor.

Assim, seremos sal e luz para a transformação da sociedade. E nossas obras testemunharão o Deus que seguimos. O Cristão, como Jesus é luz do mundo, e não mais compactuará com atitudes de injustiça, de morte e de extermínio. E nós, iluminados por essa luz “gritaremos” ao menor sinal de desamor no mundo; e a existência da injustiça, da escravidão e da morte não prevalecerão.

E, como nossa fundadora Santa Maria Eugenia, possamos ser o sal da terra e a luz do mundo apontando os caminhos que levam ao Reino de Deus neste mundo de tantas contradições.

 

Autor: Ricardo Sebold Cois
Professor do Colégio Assunção – São Paulo.

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