“Dai a César o que é de César e a Deus o que é de Deus”

A liturgia deste domingo nos faz refletir sobre as duas realidades que compõem a vida do ser humano: a divina e a terrena.

O Evangelho nos diz que devemos cumprir as obrigações civis e políticas inerentes à sociedade a qual pertencemos e, por outro lado, devemos cultivar nosso relacionamento com Deus e deixar-nos conduzir por Ele que é o verdadeiro Senhor.

Na primeira leitura, Deus é colocado como o centro da história e condutor do povo rumo à salvação e à felicidade, embora muitas vezes, Ele se manifesta de forma misteriosa diante do olhar humano.

Na segunda leitura, São Paulo se dirige aos tessalonicenses manifestando a eles um elogio sincero e edificante uma vez que a comunidade da Tessalônica se manteve fiel aos seus ensinamentos, mesmo diante das profundas adversidades enfrentadas por esta comunidade.

A temática central deste domingo diz respeito ao papel que Deus ocupa em nossa vida e, sobretudo, como se dá a experiência de Deus como único Senhor da história e de cada um de nós. O evangelho (Mt 22, 15-21) relata que Jesus se encontrava em Jerusalém e os fariseus o questionam se era lícito ou não pagar imposto a César. Isto era uma verdadeira armadilha porque, se Jesus concordasse, significaria que ele compactuava com as injustiças cometidas pelo governo e caso negasse, seria chamado de subversivo por incitar a subversão contra César. Diante da moeda corrente, que estampava a figura de César, Jesus responde: “Dai a César o que é de César e a Deus o que é de Deus”. E o que isto nos quer dizer?

Significa que Jesus distingue as duas esferas de nossa vida, a terrena e a espiritual. Uma não invalida a outra, mas são distintas e com níveis diferentes de importância. Como cidadãos pertencentes a uma comunidade temos compromissos a serem cumpridos dentro da ordem política e econômica estabelecida. Este é o domínio de César, circunscrito a um determinado tempo e espaço.

Mas o domínio de Deus se refere a toda humanidade e a toda criação. Deus está presente em todos nós, somos criaturas de Deus e sua imagem está impressa em todos nós. Assim sendo, nossa vida deve estar centrada em Deus e ele deve ser nossa referência em termos de valores, atitudes e comportamentos. Reconhecer Deus como o único Senhor é o essencial da mensagem deste evangelho.
A primeira leitura (Is 45,1.4-6) nos traz a figura de Ciro, rei dos persas que, pelo fato de ter realizado grandes conquistas na Ásia Menor, acabou por aumentar de forma significativa o seu império o que lhe conferiu muito prestígio e poder. Em torno de 500aC, ele conquista o território da Babilônia passando a ocupar no imaginário do povo judeu aqui exilado, o papel do grande libertador. O texto de Isaías nos apresenta Ciro como sendo “o ungido”, isto é, “o messias” que teria recebido o Espírito de Deus a fim de realizar a missão de libertar o povo de Judá do cativeiro.

Este episódio nos traz uma importante questão: quem realmente seria o grande libertador do povo exilado na Babilônia? Ciro ou Jahwéh? Mais uma vez estamos diante do tema trazido pelo evangelho que é a definição e distinção entre a esfera terrena e a esfera divina. Ciro recebeu de Jahvéh a missão de subjugar as nações e de apaziguá-las, trazendo assim liberdade e vida digna aos povos. Ciro agiu dentro no âmbito político-militar sendo esta sua área de ação; mas o significado desse episódio é que Deus o tomou como instrumento para que ele realizasse seu desígnio maior que é a salvação e a libertação do homem. Aqui fica evidenciado que Jahwéh é Deus, o único condutor da história dos homens e que jamais abandona seu povo.

Outro ponto a ser destacado é a dificuldade dos judeus exilados em compreenderem que estavam sendo libertados por Ciro, um rei estrangeiro e pagão. Isto nos revela como Deus age na história por meio de caminhos nem sempre claros à compreensão humana. Daí a importância de estarmos atentos para sermos capazes e sensíveis para identificarmos a ação de Deus em nossas vidas; isto requer de nossa parte, muito silêncio, reflexão e contemplação para desvelarmos os desígnios divinos.

Acrescente-se, ainda, que apesar de Ciro ser estrangeiro e pagão, ele realiza um bem enorme ao povo exilado; isto nos mostra que ao nos depararmos com alguém diferente de nós, não podemos nos deixar levar por preconceitos e achar que somente os que pensam como nós é que devem ser considerados e ouvidos.

Na segunda leitura (1Tes 1, 1-5b) Paulo saúda a comunidade da Tessalonica por ela ter abraçado tão firmemente a mensagem de Jesus apesar de todas as dificuldades vividas. Era formada por um grupo de pagãos que se converteram, mas que foram muito perseguidos pelos judeus. Apesar de terem tido um tempo curto de evangelização manifestaram uma fé profunda acompanhada de atitudes coerentes e de esperança firme. Paulo reconhece a atuação de Deus na vida da comunidade que verdadeiramente se converteu. Por isso, dá graças a Deus e manifesta seu louvor a Ele.

As leituras deste domingo nos mostram, além do que já foi dito, a importância de aprofundarmos a fé que professamos e de nos entregarmos a Deus como condutor de nossas vidas. Muitas vezes, nos deixamos levar por “outros deuses” como prestígio, poder ou dinheiro que podem trazer uma satisfação imediata mas não nos resgatam de nossa fragilidade e imperfeição.

O Evangelho nos convida a “dar a Deus o que é de Deus”. Essas palavras, recolhidas e refletidas, nos fazem lembrar que o nosso maior “tesouro” encontramos no ensinamento de Jesus Cristo. E Santa Maria Eugênia nos dá um grande conselho: “Se vocês recolhem, como um tesouro, cada palavra do Evangelho, elas entrarão em seus corações e se tornarão vida em suas vidas”

Sandra Yazaki 

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