Jesus, enviado ao mundo para nos salvar
A liturgia deste Vigésimo Sétimo Domingo do Tempo Comum nos leva a refletir sobre a parábola dos vinhateiros, para muitos uma prefiguração da morte e ressurreição de Jesus.
A vinha é a herança do pai para todo o povo de Deus, que foi tomada pelos poderosos, fruto da ganância humana, mesmo que para isso, muitos tenham que morrer e sofrer com a exclusão.
O filho enviado pelo pai para pedir contas de sua vinha é a figura de Jesus, enviado ao mundo para nos salvar. É rejeitado pela elite sacerdotal dos judeus, julgado e morto por aqueles que impunham ao povo um fardo pesado, que eles próprios não estavam dispostos a carregar.
O texto da primeira leitura (Is 5,1-7) nos apresenta uma advertência da parte de Deus para aqueles que seguem o caminho da desobediência e, para aqueles da casa de Israel, que se esqueceram de viver relações justiça e a misericórdia com os fracos e oprimidos.
A linguagem é uma arte, um cântico que se faz ecoar por toda a casa de Israel. “Vou cantar para o meu amado o cântico da vinha de um amigo meu…”
A vinha plantada e cuidada com todo o amor e cuidado é a imagem de um Deus que sempre cuidou e preparou o seu povo para os frutos da justiça, para a vivência do amor, mas, que ao passar dos anos percebeu que por mais que esperasse não encontrava em seu meio o resultado esperado. Pelo contrário, muitos vivem explorando o povo, numa vida devassa de futilidades.
E agora? O que fará o dono da vinha, cansado de esperar pelos frutos bons?
Ao que o profeta nos responde: “Pois agora vou mostrar-vos o que farei com minha vinha: vou desmanchar a cerca, e ela será devastada; vou derrubar o muro, e ela será pisoteada. Vou deixá-la inculta e selvagem: ela não será podada nem lavrada, espinhos e sarças tomarão conta dela; não deixarei as nuvens derramar a chuva sobre ela” (Is 5,5s). O resultado do abandono a Deus certamente é a destruição de toda a sociedade, pois, se não vivem a lei do amor, produzindo os frutos bons, caminharão para a sua própria destruição. É preciso conversão, mudança de vida.
Sabemos que a carta de Paulo à comunidade dos Filipenses (Fl 4.6-9), uma comunidade de origem grega, foi escrita em um momento de grande incerteza, pois, o Apóstolo se encontrava preso, sem perspectiva de futuro. Apesar disso, é uma comunidade muito amada por Paulo, composta por pessoas que demonstraram muito carinho e preocupação com sua vida.
A parte da carta que refletimos hoje começa com uma exortação da parte de Paulo: “Irmãos: Não vos inquieteis com coisa alguma, mas apresentai as vossas necessidades a Deus, em orações e súplicas, acompanhadas de ação de graças. E a paz de Deus, que ultrapassa todo o entendimento, guardará os vossos corações e pensamentos em Cristo Jesus”. E no final de sua carta, o Apóstolo ainda se preocupa com o modo de proceder desta comunidade, para que não percam a essência da prática do amor. Que não deixem de praticar as virtudes da verdade, do respeito, da justiça, da pureza, do amor e da honra. Assim vivendo, Deus não deixará de estar no meio desta comunidade.
Para o evangelista Mateus (Mt 21, 33-43), Jesus Cristo é aquele que vem estabelecer em nosso meio o seu Reino “o Reino dos céus”.
No decorrer desta semana nos deparamos com Jesus que caminha firme para Jerusalém, com convicção daquilo que deveria fazer. Este é o contexto da passagem do Evangelho que estamos refletindo, Jesus está em Jerusalém e fala para os anciãos da lei e sumo sacerdotes, para a elite da sociedade judaica.
Jesus, assim como Isaías, também se utiliza de um gênero literário que irá chamar a atenção daqueles que o escutam. Fala por meio de parábolas. A mensagem também é a mesma: o dono da vinha planta e cuida da sua vinha com todo amor e carinho, esperando pelos bons frutos, querendo colher os frutos do seu esforço, da sua dedicação.
Mas, como no texto de Isaías, aqui também houve uma recusa por parte dos arrendatários em obedecer às instruções do dono da vinha. Os vinhateiros, figura do povo judeu os escolhidos por Deus para cuidarem da vinha, o rejeitaram, abandonaram seu projeto, mataram seus enviados (os profetas que por ali passaram) e por fim, mataram até mesmo seu filho (Jesus).
Por isso, perderam tudo: “Por isso, eu vos digo: o Reino de Deus vos será tirado e será entregue a um povo que produzirá frutos”. Deus agora, na visão dos discípulos de Jesus, estenderá sua graça e salvação para outros povos, pois, o povo escolhido por Ele, não aceitou a sua proposta de salvação. Basta para isso estarem dispostos a acolherem a sua proposta de amor, de fraternidade apresentada por Jesus, a pedra angular, fundamental para a nossa salvação.
A liturgia deste domingo nos coloca diante das grandes contradições deste mundo. Tendo este contexto como pano de fundo para a nossa meditação.
Vemos já na primeira leitura, do livro do profeta Isaías, uma analogia à vinha. Somos esta vinha, povo escolhido por Deus, regado e cuidado em seu amor. Deus sempre (desde Abraão) cuidou de cada um dos seus, conduzindo-os por vales fecundos e seguros.
Agora, precisamos devolver ao mundo os frutos bons, os frutos do amor, da fraternidade, da misericórdia. Somente assim, conseguiremos viver em paz, em harmonia com todos, sem exclusão.
No Evangelho de Mateus isto fica ainda mais claro para todos, ao falar com a elite da sociedade judaica, aqueles que por direito receberam a vinha do Senhor, que deveriam ter cuidado e podado corretamente seus ramos. Jesus deixa claro que devemos prestar contas a Deus sobre o resultado de nosso trabalho, se não o fizermos, outros, de outros povos e lugares serão escolhidos para ocuparem o nosso lugar.
A questão posta aqui é a da coerência de vida. Como estamos vivendo o nosso compromisso com o reino sonhado por Deus? Sabendo que somos convidados a participar desta construção e não obrigados.
Deus nos chama como comunidades cristãs, a trabalharmos também em sua vinha, a fazermos deste mundo um lugar melhor, onde todos tenham vida e a tenham em abundância, produzindo assim bons frutos e sendo testemunhas do Reino para todos aqueles que buscam um mundo melhor.
Professor Ricardo Sebold Cois – São Paulo