23º DOMINGO DO TEMPO COMUM 2021

CONVIDADOS A CURAR NOSSA SURDEZ

A liturgia do 23º Domingo do Tempo Comum fala-nos de um Deus comprometido com a vida e a felicidade do homem, sempre disposto a ajudá-lo a se renovar e transcender os seus limites, de modo a fazê-lo atingir a vida plena do Homem Novo.

No Antigo Testamento, é o Deus da esperança que se revela através das profecias de Isaías, apontando que Javé está prestes a vir de encontro com seu povo para libertá-lo do exílio na Babilônia.

Já no Novo Testamento, Jesus, ao curar um surdo-mudo, nos mostra o poder de Deus de realizar profundas transformações nas pessoas que se deixam ser tocadas por ele.

Na primeira leitura (Isaías 35, 4-7) temos como pano de fundo o exílio do Povo de Deus na Babilônia, o qual se encontra em desespero e sem perspectiva de retorno à terra natal. O profeta, no entanto, anuncia a vinda de Javé que libertará Judá do cativeiro e conduzirá o povo de volta à Jerusalém. A promessa da liberdade e o apoio de Javé durante essa caminhada, produz grande alegria pois o povo de Deus se sente recompensado face ao sofrimento vivenciado nos anos de cativeiro. O encontro com o Deus libertador e salvador traz vida nova ao povo. Isso podemos notar através das diversas imagens do texto como cegos que voltam a ver, surdos que passam a ouvir bem, e ainda o surgimento de água abundante e alimento no próprio deserto por onde o povo deverá passar no caminho de volta à Jerusalém. É a vida em plenitude que se descortina, a recompensa divina.

Esta passagem nos aponta para a ação de Deus em nossas vidas, nos acompanhando e nos dando coragem para trilharmos nossos caminhos com fé e esperança. É o Deus que não abandona seu Povo, mesmo diante das dificuldades impostas pela vida.

A mensagem que o Salmo 145 (146) nos traz vem confirmar a fato de termos Deus não só como fonte de vida, mas vida em plenitude. Ele nos alimenta, ampara, nos ilumina, enfim, nos ama plenamente. Esta deve ser sempre a nossa inspiração!

A segunda leitura (Tiago 2, 1-5) nos traz uma mensagem que Tiago dirige aos cristãos que vivem nas regiões próximas à Palestina: são pessoas que já aderiram aos ensinamentos de Jesus, mas que devem atentar para algo essencial do Cristianismo que é o acolhimento a todas as pessoas. Da mesma forma que Jesus acolhe e ama a todos sem distinção, assim devem agir os cristãos ao longo de suas vidas. O verdadeiro amor que deve permear as relações entre os homens não pode estar sujeito a preconceitos e desqualificações que normalmente atribuímos àqueles que são diferentes de nós, seja por características de raça, classe social, grau de instrução ou posicionamento político. Este é o nosso grande desafio: reconhecer em nosso semelhante o mesmo dom da vida dado por Deus a todos nós, a igualdade de direitos.

Ainda no final do texto, Tiago ressalta a preferência de Deus pelos pobres e humildes. O que isso significa? Significa que Deus quer que sejamos simples e despojados, isto é, abertos às suas mensagens e não fechados em nossa auto-suficiência. Não crescemos se não nos dispusermos a dialogar e a rever nossos posicionamentos. E ainda, reconhecer que tudo o que somos provém da graça divina.

No Evangelho de Marcos (Mc 7, 31-37) temos o relato de que Jesus passava pela região da Decápole, constituída de 10 cidades de cultura helenística, território pagão onde não vigoravam as leis judaicas. Neste contexto, um grupo de pessoas leva até Jesus um surdo-mudo, pedindo que Jesus o cure através da imposição de suas mãos. Jesus se retira com o doente para um lugar afastado, e toca-o usando seus dedos e sua saliva.  Olhando para o céu, Jesus pronuncia a palavra “Effathá” que significa “Abre-te”; após isso o homem passa a falar e a ouvir.

Interessante observarmos que o relato de Marcos traz vários detalhes que merecem nossa atenção para compreendermos melhor a mensagem do texto.

Vemos um Jesus itinerante, que transita no espaço pagão, rompendo espaços geográficos, culturais e religiosos, sempre com o propósito de levar a Boa-Nova a todos os que se deixarem tocar por suas palavras e gestos.

A figura do surdo-mudo é bastante significativa por ser alguém que vive isolado no seu próprio mundo devido à escassa possibilidade de se comunicar com os seus semelhantes. Representa, aqui, o homem fechado em sua autossuficiência e que não está aberto ao convívio social, mantendo-se indiferente aos seus semelhantes. Sua vida se caracteriza por ser restrita, egoísta e alienada. Não partilha a vida, não participa da troca de experiências que sabemos ser vital para o desenvolvimento humano. A vida de surdez aqui representa uma vida estéril e vazia, pois a distância e indiferença com seu semelhante, não permite ao surdo-mudo perceber as injustiças, miséria e sofrimento existentes ao seu redor.  Por outro lado, o surdo-mudo representa também o homem que não dá ouvidos e nem é sensível às propostas de Deus, uma vez que se julga autossuficiente.

Importante ressaltar que o surdo-mudo é levado ao encontro de Jesus por um grupo de pessoas, não é ele que toma a iniciativa da ação. Este fato parece revelar a importância da comunidade atuante que conduz o irmão alienado ao caminho da cura. Denota compaixão e caridade para com o próximo, verdadeiro compromisso com as propostas de Jesus.

O encontro com Jesus promove transformação profunda na condição de vida do surdo-mudo: Jesus destrava os sentidos do doente, dando-lhe capacidade de se expressar e de se integrar na sociedade. É um homem que se emancipa e recupera sua autonomia. Pode crescer e ajudar os demais a trilharem seus caminhos. Tudo acontece graças à ação de Deus, que faz a vida emergir como fonte de fecundidade e felicidade.

Jesus toca o doente com suas próprias mãos e com sua saliva, o que evidencia um contato íntimo e direto com ele. Significa que Jesus cura o doente com sua própria energia, através de seu próprio corpo. Podemos entender aqui, a força do espírito divino transformando diretamente a vida das pessoas.

Após o toque de Jesus, o homem passa a ouvir e falar, mas, mesmo assim, Jesus diz: “Effathá” que quer dizer “Abre-te”. Isto nos mostra que, apesar da ação divina o homem precisa participar ativamente do seu processo de cura e transformação. Deus faz um convite, ajuda, dá forças, mas cada pessoa tem que responder através de mudanças nas suas atitudes e comportamentos. Não existe magia e sim, compromisso, na relação de fé e esperança que estabelecemos com Deus.

Como ponto de reflexão nesta semana, podemos focar na seguinte questão:  temos algo em comum com o surdo-mudo?

Dito de outra maneira: somos sensíveis aos que nos rodeiam e às suas necessidades? Estamos atentos para identificar nossas próprias travas e nos libertarmos delas? Contamos verdadeiramente com a ação de Deus para nos guiar neste caminho?

SANDRA YAZAKI, LEIGA DA ASSUNÇÃO
SÃO PAULO, BRASIL

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