REINO: TESOURO DOADO GRATUITAMENTE POR DEUS
A vida é uma eterna busca, onde cada pessoa é convocada a sair para uma “caça ao tesouro” que é o Reino dos céus. Um lugar marcado pela alegria, que acontece através da fé e da ação na vida do próximo. É alicerçar a vida sobre valores que aprendemos de Jesus.
O Reino dos céus continua sendo o enfoque em nossa liturgia dominical. Na primeira leitura (1Rs 3,5.7-12) Salomão pede a Deus a sabedoria para poder bem discernir seus caminhos e é atendido por Ele. Na segunda leitura (Rm 8,28-30) Paulo convida a todos para aderir ao projeto de Deus, pois o Reino é dom, dádiva para todos sem exceção.
No Evangelho (Mt 13,44-52) vemos que já é o terceiro domingo em que Jesus fala em parábolas. Mateus, ao tocar o tema do Reino, percorre sete delas. Hoje, para concluir o discurso de Jesus, teremos as três últimas. Passando por momentos difíceis, a comunidade de Mateus tem a chance de refletir e buscar solução para as crises pelas quais está passando. Na maneira de falar, Jesus toca em coisas e em atitudes dos seres humanos e isto os ajuda a identificar onde necessitam crescer. O desejo é que a comunidade possa discernir e optar pelo Reino de Deus.
As parábolas do tesouro e a do comprador de pérolas enfatizam a acolhida do Reino de Deus. Percebe-se nelas que para acolher o Reino de Deus e tudo o que o valoriza é necessário discernir, decidir, optar, ou seja, escolher de maneira radical.
Vale ressaltar aqui, o contexto da época em relação ao que significava “o tesouro”. Tratava-se de um vaso feito de argila onde eram guardadas as joias e moedas valiosas. Em tempos de guerra, onde invasões e saques eram comuns, os donos dessas preciosidades enterravam esses tesouros. Faziam isso na esperança de retornarem e recuperarem sua terra e esse bem precioso que fora enterrado. Mas isso dificilmente acontecia, as terras eram passadas para outras mãos na sucessão dos anos e as pessoas nem mesmo sabiam que ali poderia estar escondido algum tesouro. E quando este era inesperadamente encontrado por alguém, é claro que o sentimento era de surpresa e muita alegria. Vale ressaltar que a palavra alegria é algo fundamental para todos os que de fato encontram o Reino de Deus.
A pessoa que encontrou a pérola preciosa, ou seja, “o reino de Deus”, precisou renunciar a muitas outras coisas. Ela discerniu e escolheu esse bem precioso, único. Foi por acaso que esse tesouro foi encontrado, é dom. Podemos entender, então, que é o Reino que vai ao encontro das pessoas. A atitude pedida para tanto, é o esforço para entrar, estar atento e afastar-se do que impede a entrada nesse reino.
Na parábola seguinte, o encontrado não é por acaso, mas sim, é fruto de uma busca incansável. E a comparação é relacionada à pessoa que busca e acha – e não ao que ela encontra por acaso. É um comprador de pérolas preciosas, que ao se deparar com o que tanto busca, é capaz de vender tudo e adquirir esse bem. Semelhante à parábola anterior, também é preciso discernir e decidir sem muita demora. Nas duas realidades, quando é preciso decidir-se por algo, é a vida que é transformada de acordo com os valores do reino de Deus.
Felizmente, constata-se com grande alegria que esse tesouro escondido e a pérola preciosa foram encontrados, pois Jesus lembra que está falando do Reino de Deus acontecendo entre nós. Não é difícil encontrar seus inúmeros sinais; de fato, quando Jesus, após ter terminado de relatar as sete parábolas do Reino, pergunta aos discípulos se compreenderam, eles respondem afirmativamente. Eles se comprometeram de fato e suas vidas sofreram mudanças com o comprometimento que a adesão ao Reino traz.
Esperamos também que, a exemplo da terceira parábola, quando a rede for puxada, inúmeros peixes bons, ou seja, os de coração sincero e comprometido, apareçam para colaborar na construção do Reino. É preciso sim, entender para poder sempre discernir diante de qualquer situação, pois dentro de um mesmo baú tem sempre coisas novas e velhas. É na busca entre o novo e o velho que é encontrado o apoio necessário parabém discernir e encontrar o tesouro verdadeiro que é o Reino de Deus.
Você que está acessando esta partilha, pode também, responder como está o seu comprometimento com este tesouro que é o Reino de Deus. Muitas alegrias? Com certeza! E algumas poucas dificuldades também, pois elas fazem parte do processo. Mas para isto aprendemos aqui o valor do discernimento, das escolhas necessárias sempre orientadas por esses valores.
Reze, medite, pense com coragem como está acontecendo em sua vida pessoal a vivência do discernimento, da alegria e do Reino de Deus.
Deixemos de lado as murmurações por banalidades, o olhar ensimesmado, querendo que o outro veja seus sinais de apatia e que seu semblante mostre dia e noite sua falta de alegria. Sejamos gratos por este Reino estar acontecendo em nossa vida através das inúmeras ações, pessoas, dons, bens materiais, trabalho, saúde, estudos; enfim, tudo isto e muito mais são motivos para que você expresse a presença de Deus. Tudo é reino de Deus acontecendo e que continua a necessitar de você para que ele se torne realidade para outros.
A palavra alegria que o evangelho de hoje traz várias vezes tem ligação direta com o reino de Deus. Continuo dizendo que são motivo de ação de graças os inúmeros irmãos e irmãs que são felizes pelas escolhas que fizeram na vida. Discerniram e assumiram de uma vez por todas as escolhas feitas. Percebem e são agentes ativos na construção do reino acontecendo no dia a dia. A verdadeira alegria sempre transborda interna e externamente e contagia outros a fazer também de sua vida um testemunho do ressuscitado que anuncia pela sua vida e ações o comprometimento por Jesus e seu projeto de amor.
Que o Senhor nos conceda a graça de um sincero discernimento, que nos ajuda a separar o que é valor eterno; e que corresponde ao reino, optando pelas coisas que não passam, ou seja: o amor demonstrado em ações concretas sobre aquelas pessoas que vivem a falta de alegria por inúmeros motivos: fome, morte, doença incurável, guerras, discriminação, solidão, abandono, situação de vulnerabilidades etc. etc.
Santa Maria Eugênia de Jesus, fundadora das Religiosas da Assunção nos ajuda também a refletir dizendo: “Sejamos nós jovens ou não, procuremos, pois, num abandono sem limites, tender para um desejo ardente da extensão do reino de Jesus Cristo, para dedicar-nos a ele com toda nossa capacidade, a exemplo dos apóstolos. O que fazia Jesus Cristo ressuscitado? Ele formava sua Igreja… preparava seus apóstolos para espalharem a verdade, para pertencer a ele sem reserva, para levá-la a todos os pontos do mundo…. Procuremos expressar em nós a vida de Jesus Cristo. Procuremos receber dele o que devemos dar aos outros. Esforcemo-nos por construir, cada um conforme seus pequeninos meios, para assim estender o seu reino… a fim de que deem os frutos que Deus espera (02 de maio 1884)”.
Irmã Maristela Correia Costa RA – São Paulo