15º DOMINGO DO TEMPO COMUM

“CADA UM DE NÓS TEM UMA MISSÃO SOBRE A TERRA”

A liturgia deste Domingo recorda-nos que Deus atua no mundo através de homens e mulheres que Ele chama e envia como testemunhas do seu projeto de salvação. Esses “enviados” devem ter como grande prioridade a fidelidade ao projeto de Deus quês está acima da defesa dos próprios interesses ou privilégios.

Através das leituras deste domingo, veremos diferentes formas de atuação dos chamados e enviados por Deus, seja como profetas, seja como missionários em saída no mundo.

A primeira leitura (Amós 7, 12 -15), nos relata o confronto entre o profeta Amós e o sacerdote Amasias na cidade de Betel situada no reino de Israel. Amós era um pastor, habitante do reino de Judá e não era um profeta profissional: foi exercer o seu ministério profético em Israel mediante um chamado de Deus.

Nesta época, reinava uma grande prosperidade em Israel, mediante o desenvolvimento comercial e industrial da região e forte ascensão da classe burguesa, que vivia cercada de luxo e poder. Por outro lado, as classes menos abastadas viviam em total pobreza, sendo exploradas pelos burgueses e não contando com a proteção dos tribunais uma vez que os juízes eram subornados pelos ricos e poderosos.

Quanto à religião, esta florescia num esplendor ritual nunca visto. Magníficas festas, abundantes sacrifícios de animais e cultos esplendorosos marcavam a vida religiosa dos israelitas… O problema é que esse culto não tinha nada a ver com a vida: no dia a dia, os mesmos que participavam desses ritos majestosos praticavam injustiças contra os pobres. Além disso, dedicavam-se também a ritos pagãos, constituindo-se, assim, um forte sincretismo religioso.

É neste contexto que se dá o confronto ente o profeta Amós e o sacerdote Amasias, em Betel, que era uma espécie de santuário oficial do reino de Israel. Sendo Amasias um representante do próprio rei, tinha como dever guardar os princípios religiosos estabelecidos e proteger os interesses dos mais abastados ligados à realeza.

Em Betel ecoa a denúncia profética de Amós. Provavelmente, Critica as injustiças cometidas pelo rei e pela classe dirigente, denunciando um culto que era aliado da injustiça e que procurava comprometer Deus com os esquemas corruptos dos poderosos. Seu discurso como profeta atinge diretamente a ordem política, social e religiosa estabelecida, o que fez com que Amasias o expulsasse de Betel e o mandasse de volta à Judá, para lá exercer suas profecias.

A resposta de Amós, “Foi o Senhor que me tirou da guarda do rebanho e me disse: vai profetizar ao meu povo de Israel” deixa claro que ele não fala em seu próprio nome mas atende a um pedido de Deus. A iniciativa de ser profeta não é de cunho pessoal… Deus vai ao encontro do profeta, interrompe a normalidade da sua vida e lhe atribui uma missão. Esta missão tem autoridade por si própria, vem cumprir a vontade de Deus, não representar o interesse individual do profeta. A ele, cabe assumir este papel com dignidade, fidelidade e, sobretudo, com coragem, uma vez que a mensagem profética é incômoda e radical por fazer denúncias e levantar questionamentos a respeito do modo de vida sociedade. o que Amós aponta é justamente a desigualdade social e econômica existente em Israel e ainda o fato dos sacerdotes e religiosos estarem vinculados a esta política injusta, gerando total opressão das camadas menos favorecidas da população. A ação profética vem para reverter a ordem social estabelecida, promover uma sociedade mais justa e fortalecer a dignidade de todos.

Um ponto de reflexão para nós, cristãos: temos uma missão profética a ser cumprida. Não podemos aceitar e conviver com situações de vida que não garantam dignidade e respeito a todos os nossos irmãos. Somos todos iguais perante Deus e responsáveis pela construção do seu Reino.

 Temos exercido nossa missão profética, denunciando injustiças e identificando relações de opressão no seio de nossa sociedade?

 Este texto fala-nos também da cumplicidade entre a religião e o poder. Trata-se de uma combinação que não produz bons frutos. Aliás, a história da Igreja tem demonstrado isso nas mais diversas épocas e lugares. A Igreja, para exercer com fidelidade a sua missão profética e libertadora, deve se manter afastada do poder político e econômico sob pena de ser infiel à missão que Deus lhe confiou.

Na segunda leitura (Efésios 1, 3-14), São Paulo nos fala do “mistério de Cristo”, não se tratando de um segredo mas sim de uma realidade sagrada que nos é revelada. E o que seria tal realidade? Diz respeito justamente ao plano de Salvação que Deus tem para nós e que conhecemos pela passagem de Jesus entre nós.  Através da morte de Jesus na cruz, Deus nos derramou sua graça infinita e nos redimiu de nossas faltas e pecados. Ele nos revelou uma vida de amor e compaixão, princípio central e norteador de todos os seus ensinamentos.

Esta leitura é um hino de ação de graças dirigido a Deus, fonte última de todas as graças concedidas a nós: através de seu Amor infinito e incondicional, Deus nos adota como seus filhos e herdeiros do seu plano de salvação. A proposta do Pai é que nos identifiquemos radicalmente com Jesus, seu Filho: espelhando-nos em Jesus e aprendendo com ele a superar nosso egoísmo, auto-suficiência e orgulho poderemos superar nossos limites. Ao nos transformarmos, mudaremos nossas relações com nossos semelhantes e, assim, transformaremos o mundo.

Estamos dispostos a nos transformarmos? Isto exige atenção e esforço, devendo constituir nosso projeto de vida e implicando em disposição para mudanças em nossos padrões arraigados de comportamento.

No evangelho (Marcos 6, 7-13), Jesus chama os Doze Apóstolos e envia-os, dois a dois, para falarem em seu nome, dando-lhes, inclusive, poderes sobre os maus espíritos. A recomendação principal era que não deveriam levar nada além de uma túnica, sandálias e um cajado.

Esta leitura nos revela que parte de Deus a iniciativa de designar os apóstolos para esta missão o que nos dá a dimensão de que não somos os autores desta ação; a nós, cabe responder ao chamamento divino. Enfim, somos eleitos por Deus para cumprir a missão de expandir o Reino que já vinha sendo construído por Jesus.

Marcos nos fala que os apóstolos têm poder sobre os espíritos impuros, isto é, o poder de libertar as pessoas de tudo aquilo que as escraviza e impede de terem uma vida em plenitude. Significa lutar contra tudo aquilo que destrói a vida e a felicidade da pessoa, possibilitando o surgimento de um mundo novo, de pessoas livres: livres do pecado e das limitações humanas.

Mas como realizar esta missão? Jesus foi claro nas suas instruções: levar apenas o necessário para sair em caminhada sem a preocupação com bens como dinheiro e alimentos. Este total despojamento dos bens materiais nos deixa livres para cumprir nossa missão de levar a mensagem cristã aos nossos semelhantes e de vivê-la plenamente; não podemos ficar presos nem nos perder em superficialidades. Significa, ainda, deixarmos para trás nossos preconceitos, paixões e hábitos a fim de nos atermos ao que é essencial na vida cristã: sairmos de si e irmos ao encontro do irmão.

Segundo Dom Helder Câmara, “missão é partir, caminhar, deixar tudo, sair de si, quebrar a crosta do egoísmo que nos fecha no nosso eu. É parar de dar volta ao redor de nós mesmos como se fôssemos o centro do mundo e da vida. É não se deixar bloquear pelos problemas do pequeno mundo a que pertencemos: a humanidade é maior”.

O fato de serem 12 Apóstolos, nos remete ao simbolismo das 12 tribos que constituíam o antigo Povo de Deus. E isto significa que todos são chamados à missão transformadora do mundo e que a todos devem ser levados os ensinamentos de Jesus. E serem enviados de dois em dois, aponta para o caráter comunitário da missão: eles representam uma comunidade que é a Igreja e, não, a si próprios. Aderiram à palavra de Jesus e buscam a adesão dos povos aos quais se dirigem.

E, por fim, vale ressaltar a importância das atitudes dos missionários, revelando-se pessoas verdadeiramente despojadas, engajadas e fraternas para com os irmão que encontrarem em seus caminhos. Segundo o Papa Francisco, “a Igreja não cresce por proselitismo, mas por atração”. Nossas ações devem espelhar e testemunhar os valores e metas que pregamos. Nossos comportamentos devem emanar o amor de Deus para que contagiem os nossos semelhantes.

SANDRA YAZAKI, LEIGA DA ASSUNÇÃO
SÃO PAULO, BRASIL

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