COM JESUS SOMOS SEMEADORES DO REINO
A liturgia de hoje é cheia de símbolos e fala de terra e de semente. Com a luz do Espírito que conduz o povo pelo caminho do Mestre, queremos acolher a palavra “como a chuva que lava, e como o fogo que aquece; Palavra que não passa sem deixar um sinal”. Os sinais da presença de Deus estão aí e cada dia que passa são mais fortes.
A parábola do semeador menciona pessoas que semeiam a boa notícia do Reino de Deus e pessoas que acolhem ou não o Evangelho. O contexto da parábola do semeador fala de Jesus que deixa sua casa e sai em missão, passando por diferentes caminhos e realidades. Na época em que foi escrito este Evangelho, havia camponeses que ficaram sem suas terras porque os melhores terrenos passaram para a elite ligada ao Império Romano. O governo expulsou os pequenos agricultores de suas terras, para entregá-las a seus aliados políticos. Ao perder suas propriedades, os camponeses passaram a semear em terras pedregosas, cheias de espinhos e até na beira das estradas, esperando colher a partir do pouco espaço que lhe restava plantar.
Isso continua a acontecer nos dias de hoje. O povo que vive acampado ao lado das rodovias vai semeando por ali mesmo, fazendo de tudo para sobreviver e alimentar sua família. Jesus vê e entende a teimosia dos pequenos agricultores. Nesse contexto vai revelando para seus seguidores o modo de ser missionário: lançar a semente sem medo dos conflitos e perseguições. Mesmo a terra boa, pode não produzir cem por cento. A parábola ajuda a descobrir a realidade, e a confrontar os problemas de cabeça erguida, sem perder a esperança de alcançar a “terra prometida”.
Na primeira Leitura (Isaias 55,10-11), o profeta confirma que a palavra de Deus não volta atrás, mas permanece como uma semente que é colocada na terra, onde vai germinar, crescer e dar bons frutos para que sirvam de alimento. Essa terra é o coração humano que acolhe e recebe a Palavra e a põe em pratica numa realidade que grita por justiça e liberdade.
O Salmo 64(65) nos ajuda a meditar a leitura proclamada. Sugere, para a oração da assembleia, o refrão: “A semente caiu em terra boa e deu fruto”. Eis a verdade que devemos anunciar ao mundo. Quando a presença de Deus se torna realidade, surge fartura de bens. Até mesmo onde a vida é difícil, a realidade pode ser diferente, não só para o ser humano, mas também para toda a criação.
Na segunda Leitura (Rom 8, 18-23), o Apóstolo Paulo diz que toda a criação espera pela libertação. É tempo de “esperançar” tendo presente a “Nossa Casa Comum” como diz o Papa Francisco. “Com efeito, sabemos que toda a criação, até o tempo presente, está gemendo como que em dores de parto”. Sem nenhuma dúvida somos parte integrante da natureza. Quem experimenta a ausência de água pode dizer o quanto é duro ver as plantas murcharem, os pássaros e os animais sedentos em busca por água e comida. É preciso ver para crer. “Esperançar” é preciso.
O evangelista Mateus (Mt 13,1-23), conta que Jesus foi “sentar-se às margens do mar da Galileia”. Galileia é lugar de gente pobre. Ele vai explicando o projeto de Deus usando parábolas, ou seja, comparações, para facilitar o entendimento das pessoas, que vieram em grande número para encontrá-lo. Jesus usa uma metodologia que chama atenção de quem está ouvindo. Conta uma “estória” passo por passo, como quem prepara um terreno para plantar a semente: “O Semeador saiu a semear.” Provavelmente, falava para gente da zona rural, pronunciando palavras conhecidas do povo que estava de pé, em atitude de escuta.
Mateus diz que Jesus, em sua pregação, menciona diferentes terrenos que por sua vez respondem de forma diferente. Semente, aqui neste texto, é a Palavra de Deus e o Semeador é Jesus. O contexto da época em que este evangelho foi vivido e escrito, é de muita perseguição. Por isso, alguns cristãos deixavam de seguir o ensinamento de Jesus de Nazaré. Na primeira leitura vimos que a terra é o coração da pessoa humana, onde a semente da palavra será plantada. A Palavra, o “Verbo de Deus”, tem seu lugar no ‘Corpo humano’, no coração onde palpita a vida.
Vamos ao texto: ”O Semeador saiu para semear”. As sementes caíram em quatro terrenos diferentes. Somente um terreno acolheu a semente e deu frutos. Como já foi dito, no Brasil muitas famílias plantam em acampamentos provisórios na beira das estradas. Produzem alimentos para si e para outras pessoas. É uma colheita abençoada pelo Semeador. Que possamos aprender com a teimosia dos pequenos de hoje e não temer as intempéries da vida, mas lutar, romper as barreiras e semear as profecias de justiça à luz do Evangelho.
Os sinais do reino de Deus neste mundo passam pelas mãos humanas. Ao contar a parábola do semeador e dos diferentes terrenos, Jesus revela sua consciência em relação à realidade dos camponeses de seu tempo. Ele mesmo era um deles. Nem todos os camponeses tinham acesso às terras boas, controladas pelos que tinham mais poder. Muitas famílias tinham que se contentar com terras pedregosas. Havia ainda aquelas famílias que não tinham terra, de modo que lhes restava semear à beira dos caminhos.
O que isto tem a ver com a realidade nos dias de hoje? O Brasil tem muitas terras e riquezas naturais. É pioneiro nas pesquisas, como vacinas, melhorias de sementes e outras pesquisas científicas. Como se explica que muita gente continue vivendo de maneira desumana, sem casa, sem comida, sem o necessário, enquanto outros poucos vivem na opulência. A criação geme e nós com ela, pois “tudo está interligado”. Esta é a grande verdade. Temos que lutar para reconstruir nossa identidade em Jesus Ressuscitado. Faltam profetisas e profetas nos dias de hoje, para ajudar o povo a apoderar-se de sua sabedoria popular, cultural e religiosa.
Irmã Maria Teixeira – RA