JESUS CRISTO, VIDA EM PLENITUDE.

 

Passada a festa da Santíssima Trindade, voltamos novamente o nosso olhar para o Tempo Comum. Nesta liturgia do 12° domingo do Tempo Comum, somos convidados a um profundo questionamento interior.

Somos chamados a responder no mais íntimo de nosso ser: Quem é Jesus para nós? O que Ele representa em nossa vida? Enxergamos de fato na figura de Jesus, o Messias escolhido por Deus?

A primeira leitura tirada do livro do profeta Zacarias (Zacarias12, 10-11; 13,1), data do período compreendido entre o final do século IV a.C e o início do século III a.C; momento em que a comunidade de Israel vivia a expectativa da vinda do Messias enviado por Deus para a Salvação de Israel.

O início da leitura nos coloca na perspectiva do momento histórico em que o povo israelita demonstra uma abertura maior para a ação de Deus em sua vida, isto possibilita o derramamento sobre a casa de Israel do “Espírito de graça e de oração”.

Aqui, Zacarias já começa a fazer referência ao profeta que Deus enviará, que caminhará junto ao povo de Israel, mas que só será percebido diante do sofrimento e da morte; este profeta será ferido e morto e sua morte gerará grande tristeza nas pessoas, como a morte de um filho único.

Mas, mesmo diante da dor, Zacarias nos deixa uma fonte de esperança: “Naqueles dias haverá uma fonte acessível à casa de Davi e aos habitantes de Jerusalém, para ablução e purificação” (Zacarias 13,1). É justamente o sacrifício deste profeta que dará início ao tempo da graça, tempo da transformação do coração dos habitantes de Jerusalém.

A segunda leitura é uma carta à comunidade dos gálatas (Galatas 3, 26-29); é uma carta que tenta nos mostrar o que seria necessário para obtermos a salvação. Estamos diante de uma comunidade que sempre buscou a compreensão sobre como conseguir obter a salvação alcançada e gratuitamente oferecida a todos por Cristo.

Seria suficiente a graça de Cristo ou haveria a necessidade da observação dos preceitos da lei de Moisés?

Paulo nos mostra, em nossa leitura deste domingo, que somente a adesão a pessoa de Jesus será capaz de nos fazer alcançar a salvação. “Aqueles que são batizados em Cristo ficam revestidos de Cristo”. Ou seja, criam uma comunhão profunda com a pessoa de Jesus, comunhão capaz de superar toda a diferença externa, a ponto de Paulo nos dizer que: “já não existe nem judeu nem grego, nem escravo nem livre, nem homem nem mulher”.

A única exigência a partir de agora é o compromisso com a proposta de Jesus. Assim, somos chamados a viver a igualdade, pois, diante de Deus somos todos iguais, a salvação dependerá única e exclusivamente da adesão ao projeto do reino pregado por Jesus Cristo.

A passagem do Evangelho de hoje (Lucas 9, 19-24) inicia-se no contexto em que Jesus já havia anunciado a sua mensagem para muitas pessoas. Assim, antes de iniciar o processo de retorno para Jerusalém, Ele indaga a seus discípulos sobre quem diziam as pessoas que Ele era. Mas não era só isso, Ele também quer saber o que os seus discípulos pensam a seu respeito.

E diante da resposta de que o povo dizia ser Ele, João Batista, Elias ou um dos antigos profetas, Jesus chama seus discípulos a tirarem suas próprias impressões a partir do que Dele ouviram e observaram durante todo o tempo em que estiveram juntos.

Ele não está satisfeito com estas respostas, por isso indaga a seus discípulos: “E, vós, quem dizeis que eu sou?” (v.20). Esta é a questão central deste Evangelho, pois somente a partir da certeza e compreensão da verdadeira identidade de Jesus, é que seus discípulos poderão compreender o real significado do projeto por Ele pregado.

Jesus esperava que aqueles que sempre o acompanharam o reconhecessem como alguém diferente de todos os outros. E a resposta veio através da proclamação feita por Pedro, que naquele momento representa a comunidade dos discípulos de Jesus: “Tu és o Cristo de Deus” (v.20). Dizer isto é acreditar que Ele era o Messias prometido, da linhagem de Davi e o enviado por Deus para a libertação do povo.

Jesus não nega esta condição quando Pedro se manifesta, mas proíbe severamente que esta informação fosse divulgada para as demais pessoas, pois ainda não era o tempo de falar; as pessoas teriam que ver que o seu reino era um reino de entrega, feito com a cruz, num gesto eterno de amor por todas as pessoas.

É justamente a adesão a este projeto de amor que poderá trazer a libertação a todas as pessoas. E Jesus termina a sua fala ampliando a salvação oferecida agora a todos os povos.

“Se alguém quer me seguir, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz de cada dia e siga-me” (v.23)

O projeto de salvação deve necessariamente passar pela adesão pessoal a Cristo e as condições necessárias para esta adesão são “renunciar a si mesmo e tomar a cruz”. Quem se ocupa de si mesmo, não consegue compreender o valor da entrega da vida em favor do outro e não conseguirá aderir a este plano de amor e salvação; esta é a renúncia esperada por Cristo: viver a vida na doação pelo outro.

As leituras desta liturgia nos chamam a atenção para o seguimento de Cristo. Para que isto aconteça, necessitamos refletir profundamente sobre o significado que esta adesão ao projeto de Jesus tem na minha vida.

Para mim, o que significa aderir ao projeto de Jesus?

Se Cristo é a fonte de salvação para toda a humanidade, então seu gesto de amor e seu projeto de salvação devem ser vividos no cotidiano da minha existência: no amor e doação aos demais irmãos e irmãs.

Tenho que assumir os mesmos ideais propostos por Jesus, e assim guiar a minha existência na luta contra a opressão, fazendo com que os mais fracos consigam ter um pouco de dignidade e paz.

Como fez nossa fundadora Santa Maria Eugênia em seu tempo: viveu para transformar a vida daquelas que não tinham dignidade em plenitude, para dar voz e acolhida aos mais fracos e excluídos de sua comunidade.

 

Ricardo Sebold Cois Professor do Colégio Assunção – São Paulo.

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