Eu estava parada na porta da igreja, no alto da escadaria, olhando a pracinha que havia em frente. Esperava uma pessoa com quem tinha marcado um encontro ali. Iríamos entrar na igreja por uns minutos antes de fazer uma visita difícil a uma mãe que havia perdido dois de seus filhos poucos dias antes, num acidente violento.

Nisto, chega uma outra mãe com seu filho de sete para oito anos, que usava uma camiseta e um boné de seu time de futebol preferido. Na porta, a mãe lhe disse: “Tire o boné, filho”. E o menino perguntou: “Por quê?” A mãe respondeu: “Vamos entrar na casa de Deus. É por respeito que é preciso tirar o boné”. O menino não pareceu muito contente com a explicação, mas tirou o boné, e os dois entraram na igreja.

E eu continuei minha espera, mas desta vez refletindo sobre o fato. Sim, é preciso respeitar a “casa de Deus”… É curioso notar como as diversas religiões mostram este respeito necessário quando a pessoa entra num espaço sagrado, na “casa de Deus”. O menino devia tirar o boné, o homem deveria tirar o chapéu – que quase ninguém mais usa… Durante muitos anos, mas já não mais, as mulheres deviam cobrir a cabeça com um véu para entrar na igreja, porque esta era a “casa de Deus”… Na Bíblia, vemos que Moisés, ao se aproximar da sarça ardente na qual Deus se manifestou a ele, tirou as sandálias, porque estava pisando num “chão sagrado”… Tudo isto são gestos que, de acordo com as diferentes culturas, expressam o mesmo sentimento: o respeito, a deferência para com o que é sagrado, para o lugar onde Deus habita, para o chão onde ele se manifesta.

Em igrejas que, por razões diversas – por sua beleza arquitetônica ou pelo valor artístico de pinturas ou imagens que existam em seu interior – tornaram-se atrativos turísticos, é comum encontrar algum cartaz indicando as vestimentas com as quais não se deve entrar nelas: “Favor não entrar em trajes de banho”… Também isso é sinal de respeito pelo lugar onde pessoas de fé buscam um espaço para um momento de recolhimento, de oração, de contato pessoal com Deus, Tudo isso faz parte de nossa cultura. Ninguém se admira com isso, nem questiona esses costumes sociais. Aprendemos desde crianças como o fez aquele menino cuja mãe precisou explicar: “Vamos entrar na casa de Deus. É por respeito que é preciso tirar o boné”.

Mas… Será que são só as igrejas que são “casas de Deus”?… Será que só nas igrejas é que devemos ter atitudes de respeito para quem é o Dono da casa?… Deus tem muito mais “casas” do que o número de igrejas que existem no mundo inteiro… Na realidade, Deus “habita” em sua criação.

Nosso planeta e – evidentemente – todo o Universo do qual ele faz parte, é obra de Deus, é criação sua. O livro do Gênesis, primeiro livro da Bíblia, que nos fala da criação através de símbolos e de uma linguagem extremamente poética, nos diz que Deus, ao contemplar a criação que tinha feito, viu que “tudo era muito bom” (cf. Gn 1, 31). Sim, toda a criação é algo muito bom…

No entanto, estamos vivendo tempos caóticos em relação à natureza… As notícias de todas as partes do mundo são alarmantes. Recentemente, uma onda de calor totalmente inusitada levou várias pessoas à morte com temperaturas a quase 50ºC em países normalmente de clima frio… Incêndios florestais estão se alastrando e ameaçando cidades no Hemisfério Norte… Em outros lugares, são secas que ameaçam as plantações… Aqui mesmo, no Brasil, tivemos, no ano passado, tempestades torrenciais e inundações em vários estados, que deixaram muitas famílias sem suas casas e pertences…

Estes fenômenos não são apenas resultados de uma natureza enlouquecida, mas frutos de ações humanas que interferem no ciclo normal dos fenômenos climáticos que marcam nosso planeta. Daí a necessidade de pensarmos nas consequências de nossos atos. Onde está o respeito pela natureza, pela criação que saiu “boa, muito boa” das mãos de Deus? Estamos desrespeitando a “casa” por ele construída…

Mas não é só isso… Nosso desrespeito pela “casa de Deus” vai ainda mais longe… Ele se manifesta também no desrespeito, no abuso, no desprezo de nosso semelhante… Quantos casos de racismo temos visto nos jornais… Quanta falta de humanidade no descaso para com pessoas portadoras de deficiências, de idosos, de crianças que não sabem como se defender… Quantos casos de feminicídio… Quanto transbordamento de ódio…

Santa Maria Eugênia tem palavras que nos fazem parar e refletir. Ela diz: “Desde que Deus se fez homem, a tenda em que ele habita é a carne humana, fazendo do coração de cada pessoa a sua morada preferida”… E, em outro texto, ela diz: “São Paulo diz: ‘Vós sois templos de Deus’. Vocês o são como cristãos”. Sim, Deus – que está presente na criação – habita, de uma maneira muito mais profunda naqueles que foram criados à sua imagem e semelhança: os seres humanos. Deus está presente em cada um de seus filhos e filhas. Jesus mesmo disse: “Se alguém me ama, guarda a minha palavra, e o Pai o amará. Eu e meu Pai viremos e faremos nele nossa morada” (cf. Jo 14, 23).Por isso São Paulo afirma que somos templos de Deus, e Maria Eugênia sublinha o fato de que o coração humano é a morada preferida de Deus… Todo ser humano – não importa a cor de sua pele, não importa seu gênero nem sua idade, não importa seu estado de saúde – todo ser humano é templo, morada, “casa” de Deus. E toda casa de Deus exige respeito.

Acontece, porém, que muitas vezes vemos pessoas aproximando-se das “casas de Deus”, que são seus semelhantes, usando bonés indecorosos… O boné da prepotência, por exemplo, quando as palavras ou decisões tendem a diminuir ou oprimir os outros; o boné da superioridade, quando a pessoa se sente mais importante, mais inteligente, mais bonita ou mais merecedora de coisas boas do que todos os demais… Ou ainda o boné da mentira, para esconder as próprias falhas e parecer sempre estar “do lado certo”… Existem ainda mil outros “bonés” deste tipo… Pode até ser divertido ler as notícias do dia e imaginar que tipo de boné estariam usando as pessoas que viveram aquelas situações. Menos divertido, porém, é examinar que tipo de boné estamos usando nas nossas relações com as pessoas…

Lembremo-nos de que cada um de nós é “templo de Deus”, “tenda em que ele habita”, “morada preferida de Deus”… E não somente nós, mas todos os nossos irmãos e irmãs, não importa quem sejam, o são também…. Portanto, ao nos relacionarmos com alguém – seja este alguém uma pessoa de nossa família com quem convivemos, ou uma pessoa amiga, apenas conhecida, ou até mesmo uma pessoa que não conheço – lembremo-nos de que estamos à porta de uma “casa de Deus”, e, em sinal de respeito, tiremos o boné…


Irmã Regina Maria Cavalcanti

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