Neste domingo celebramos um dos maiores mistérios da fé cristã: a Santíssima Trindade. Somos convidados a refletir a respeito de um Deus que se manifesta através de três pessoas que, apesar de distintas, atuam no mundo em perfeita comunhão. Há uma unidade de essência e relação dentro das três pessoas divinas.
Compreender a Trindade significa vê-la como uma comunhão de pessoas, Pai, Filho e Espírito Santo, ligadas entre si e constituídas pelo Amor Divino. Mais do que isso, significa fazer a experiência de um Deus amoroso que sempre se manifestou na história da humanidade através do Amor; se adoramos a Deus como Trindade estaremos assumindo que Ele se constitui essencialmente de acolhida, ternura e misericórdia. Podemos dizer ainda que, a Trindade expressa a grande comunhão humana uma vez que a ação do Pai, Filho e do Espírito visam integrar, no amor, todos os povos da terra. Viver segundo o Deus Trinitário é expandirmo-nos em solidariedade e justiça para com todas as pessoas para construirmos a unidade na diversidade de povos e raças de todo mundo.
Se quiséssemos resumir poderíamos dizer que, no âmbito da Trindade, a experiência de Deus é comunhão e não solidão; segundo Leonardo Boff, “No princípio está a comunhão dos TRÊS e não a solidão do UM”. O grande ensinamento da Trindade é que “viver” pressupõe “conviver” e que a fé cristã se baseia num Deus cuja essência é a relação e o amor. E assim foi o caminho percorrido por Jesus, conforme os desígnios do Pai e guiado pelo Espírito Santo.
Na primeira leitura ( Dt 4, 32-34.39-40), Moisés se dirige ao povo de Israel exilado na Babilônia, fazendo-o relembrar que o Senhor Deus sempre acompanhou o povo de Israel mostrando-se sensível às dificuldades dele. É um Deus de relação: vem ao encontro da humanidade e indica-lhe caminhos de salvação. Mesmo diante das falhas humanas, Deus age com misericórdia e nunca abandona seu povo. Esta leitura nos mostra o verdadeiro rosto de Deus que a solenidade da Santíssima Trindade nos convida a descobrir e contemplar.
Importante destacar que o autor deuteronomista através da fala de Moisés, apresenta o Senhor Deus como o único e verdadeiro em quem o povo deve acreditar pois seus ensinamentos levam o homem à felicidade e lhe garantem vida em plenitude. Pode-se notar que este ensinamento é muitas vezes repetido e dirigido ao povo de Israel cuja fé se abalava visto que ele sofria influência de diversos povos com os quais entrava em contato como gregos, babilônicos e pagãos, entre outros.
Na segunda leitura (Rm 8,14-17), Paulo, em poucas palavras, nos apresenta a Trindade e sua comunicação com o homem. Aqueles que são guiados pelo Espírito, graça recebida através do batismo, tornam-se filhos de Deus. Ao adquirirem esta filiação e abraçarem a fé em Jesus Cristo, se irmanam a Ele, Filho de Deus Pai. Cristo veio ao mundo para que ele conhecesse o Pai e assim se libertasse do pecado e da escravidão própria da natureza humana.
E nós, como entendemos e vivemos a Santíssima Trindade? Nada mais acalentador e reconfortante do que termos Deus como Pai a nos guiar e nos oferecer todo seu amor para crescermos como filhos irmanados em Cristo, seu Filho. Assim se manifesta a Trindade: Deus vem ao nosso encontro, estabelecendo conosco uma relação de amor e carinho, verdadeira proposta de salvação que conduz à vida plena. De nossa parte, temos que nos abrir e aderir à nova vida, que segundo Paulo é “viver segundo o Espírito”.
No evangelho (Mt 28,16-20), Mateus relata o último encontro do Jesus Ressuscitado com os discípulos, num monte, momento em que Jesus é reconhecido e adorado por muitos deles, restando ainda dúvidas por parte de alguns discípulos a respeito da divindade de Jesus. Recebem a missão de sair pelo mundo anunciando a Boa Nova e batizando em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, com a promessa de que Deus sempre estaria ao lado dos que a Ele aderirem.
Importante notar aqui que momentos importantes da vida de Jesus sempre acontecem num monte, local retirado que proporciona uma comunicação íntima com o grupo de discípulos dando espaço a profundas revelações. Este episódio é a sua última aparição aos discípulos cuja missão deve ser feita em nome da Trindade. “Ide e fazei discípulos de todas as nações, batizando-as em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo”.
Nós que abraçamos a fé em Jesus Cristo, somos também como os discípulos: caminhamos entre momentos de segurança alternados com outros de dúvida, devido às nossas limitações humanas. Mas o que deve nos fortalecer e revigorar nossa fé é que Deus sempre estará do nosso lado, guiando-nos. Daí a importância de “nos retirarmos para dentro de nós mesmos” a fim de nos conectarmos com o Espírito Santo emanado pelo Pai e pelo Filho. Só assim poderemos cumprir nossa missão como discípulos: vivendo em comunhão com nossos irmãos e permanecendo abertos ao outro, pois esse é o movimento da Trindade!
Segundo Adroaldo Palaoro, sacerdote jesuíta, “a Trindade não é um mistério incompreensível, mas sim a cotidiana experiência do Amor”.
Sandra Yasaki
São Paulo – Brasil