16 de maço de 2025
“Este é o meu Filho, o meu Eleito: escutai-O”
Neste segundo domingo da Quaresma o tema central da liturgia é a fé, evidenciando a necessidade de revitalizá-la ao longo de nossa jornada terrestre.
A primeira leitura (Gn 15,5-12.17-18), traz a aliança de Deus com Abraão, o qual se encontrava um tanto desapontado uma vez que sua esposa estava em idade avançada e não tinham descendentes e nem terras. Mas apesar de tudo, Abraão não desanima, mantém-se fiel a Deus com quem mantém um diálogo constante. Assim sendo, Deus faz uma aliança com ele através de um ritual que envolvia o sacrifício de alguns animais, revelando seu compromisso de acompanhar a humanidade e de nunca abandoná-la.
O evangelho de hoje (Lc 9,28b-36), é o evangelho da Transfiguração. Jesus sobe ao monte para rezar levando com ele Pedro, João e Tiago. Durante sua oração, seu rosto muda de aparência e suas vestes se tornam brancas e brilhantes. Ele aparece conversando com Moisés e Elias a respeito de sua saída deste mundo que se daria logo mais em Jerusalém. Enquanto isso os três discípulos dormiam e, ao acordarem, viram a glória de Jesus e ouviram uma voz que saía de uma nuvem dizendo: “Este é o meu Filho, o Eleito. Escutai-o!”
Como se aproximava o momento do êxodo ou morte de Jesus, Ele precisava se recolher e orar, a fim de explicar aos três de seus principais discípulos o que isto significaria para eles e para todos seus seguidores. Em vista disso, sobe ao monte Tabor, local apropriado ao recolhimento e onde travaria um diálogo íntimo com seu Pai, buscando assim clareza e força para levar adiante os seus desígnios. Vale lembrar que “subir no monte” significa oração e partilha, sobretudo nos momentos cruciais da caminhada de Jesus onde ocorreriam importantes revelações.
A presença de Pedro, João e Tiago junto a Jesus neste momento, nos mostra que Jesus queria manifestar uma mensagem importante a ser transmitida aos seus seguidores; assim sendo, escolheu discípulos bem próximos a ele e que, ao mesmo tempo, tinham dúvidas a respeito da identidade de Jesus e. estavam apavorados com o anúncio de sua crucificação e morte.
O episódio deste evangelho é uma teofania, isto é, uma manifestação de Deus, onde vários elementos encerram simbolismos específicos que valem a pena serem decifrados.
As figuras de Elias e Moisés são fortes dentro da realidade e do imaginário judaico, pois representam, respectivamente, os profetas com suas sabedorias, e a Lei com os princípios básicos da religião na época. Em outras palavras, foi através de Elias e Moisés que Deus interveio na história do povo de Israel, fazendo aliança com ele e prometendo, sempre, fidelidade ao compromisso assumido. E é justamente isso que Jesus irá assumir: dará continuidade ao plano divino de propor a salvação para aqueles que o seguirem.
E sobre o quê conversavam Moisés e Elias? Justamente sobre a morte de Jesus que ocorreria em Jerusalém. Mas a morte, aqui, não seria o fracasso e sim a passagem de Jesus para o Pai e sua posterior Ressurreição o que traria a libertação para toda a humanidade. Desta forma vai se revelando a divindade de Jesus.
As vestes brancas e luminosas apontam para a presença divina: branca é a cor de Deus. Junto a isso, o rosto de Jesus aparece de forma alterada e uma voz sai de uma nuvem, dizendo que Jesus é filho do Pai e que os discípulos devem segui-lo. Temos aqui a clara manifestação do Pai apontando Jesus como “O Eleito” a quem todos devem escutar. Diante disso os discípulos ficam amedrontados e guardam silêncio a esse respeito.
Este relato constitui a Transfiguração de Jesus, isto é, embora sua condição humana, já se prenuncia sua divindade que será evidenciada pela Ressurreição. Sem dúvida esse é o grande mistério para todos nós e assim foi também para Pedro, João e Thiago que, diante dessa situação ficaram confusos e cansados, desejando permanecer dormindo em suas tendas. Em outras palavras, eles tinham dificuldade de compreender o que estava se passando. O nosso compromisso de vida é o de viver esse mistério, que é a base de nossa fé: crer no Jesus Cristo Ressuscitado, procurando nos pautar na certeza de que sempre teremos ajuda e consolo de Deus em nossa caminhada, superando nossas limitações e rumando para a vida eterna.
O elemento mais significativo é, sem dúvida, “a voz” que vem da “nuvem” (o espaço onde Deus se oculta). Essa “voz” dirige-se aos discípulos e declara solenemente: “Este é o meu Filho, o meu Eleito: escutai-O”. Assim vemos que Deus Pai nos “apresenta” seu Filho Jesus a quem devemos escutar e acolher em nossos corações. Ele veio para salvar o mundo cumprindo o que Deus havia prometido a Moisés e Elias.
Na segunda leitura (Fl 3,17- 4,1), São Paulo se dirige aos filipenses para que eles continuem firmes no seguimento de Jesus, pois a caminhada rumo à salvação é percurso de uma vida inteira. Eles precisam se desvincular de coisas rasteiras e terrenas e, sim, buscar total transformação de seus valores e atitudes. Segundo Paulo, nosso destino verdadeiro é a glória que Jesus quer nos dar. Mais isso exige esforço e sacrifícios e nunca podemos nos considerar como já sendo vencedores.
O tempo da Quaresma nos convida a nos colocarmos mais na escuta da palavra de Deus que se fez carne; é tempo de silêncio interior para buscarmos o sentido mais profundo de nossas vidas e realimentarmos nossa fé numa vida mais fraterna e plena.
A Transfiguração está nos dizendo quem era realmente Jesus e quem somos nós. Ela nos revela também nossa identidade e nos faz caminhar em direção à nossa própria humanidade.
Sandra Yazaki