Muitos de nós certamente nos maravilhamos assistindo à cerimônia de abertura das Olimpíadas há alguns dias atrás. E, certamente também, estamos fazendo o possível para acompanhar as provas dos esportes que mais apreciamos, torcendo pelos nossos atletas, admirando aqueles que sobem ao pódio.
Sim, de quatro em quatro anos, as Olimpíadas maravilham o mundo. Retomadas em nossa época contemporânea, elas são herdeiras das festas da Grécia Antiga, que celebravam a capacidade do corpo humano de realizar proezas e maravilhas. O esporte sempre foi uma atividade humana valorizada, e muitas vezes era objeto de competição, cabendo ao vencedor não uma medalha, como hoje, mas uma coroa de ramos trançados, chamada “coroa de louros”.
Documentos e objetos descobertos de culturas de povos originários de nosso continente, de bem antes da chegada dos europeus por esta bandas, mostram que os antigos habitantes da região do México praticavam um jogo que deve ter sido o tataravô de nosso futebol… E, bem antes disso, São Paulo, em uma de suas cartas, compara o esforço que devemos nós, cristãos, fazer para realizar o que Deus espera de cada um de nós ao esforço que faz um atleta para vencer no seu esporte. Diz São Paulo em sua Primeira Carta aos Coríntios: “Vocês não sabem que no estádio todos os atletas correm, mas só um ganha o prêmio? Portanto, corram para conseguir o prêmio. Os atletas se abstêm de tudo; eles, para ganhar uma coroa perecível; e nós, para ganharmos uma coroa imperecível” (1Cor, 9, 24-26).
Na realidade, muitos de nós, que torcemos por um time ou por um ou uma atleta de algum tipo de esporte, não temos muito conhecimento do que é a vida de um esportista. Vida de atleta não é brincadeira… Treinos contínuos, esforços diários, privação de várias coisas que podem ser prazerosas em função de não colocar em risco sua saúde, por vezes lesões dolorosas devidas ao treino – tudo isso mostra uma vida cheia de sacrifícios em vista de uma esperança: a da grande alegria da vitória.
Uma de nossas atletas, Rebeca Andrade, que foi prata nas Olimpíadas de Tóquio, em 2020, e nas de Paris, este ano, chegou ao ouro, disse, numa entrevista: “Temos que pensar sempre em um dia de cada vez (……) Estar feliz e saudável é importante. Se eu não estiver feliz, não vou conseguir fazer o meu melhor trabalho”. O esportista, o atleta, ao fazer todos os esforços e sacrifícios em função de render o seu “melhor trabalho”, não se sente infeliz, não fica se queixando da vida… Pelo contrário, ele se sente feliz, porque está caminhando em direção à sua meta, àquilo que ele ou ela colocou como seu objetivo.
O momento das Olimpíadas é um momento de alegria, quase que eu diria, mundial. É o momento de torcer pelas nossas equipes, de vibrar com as bonitas vitórias de outros times, de outros países, de nos maravilharmos com os recordes alcançados, de nos alegrarmos com todos aqueles que recebem medalhas, e com todos aqueles que, por vezes sem medalha, deram o melhor de si num bonito espírito esportivo. Mas é também um momento de refletir sobre nossa própria vida.
Sim, porque o esporte é algo que ultrapassa nossa dimensão corpórea. Ele não é simplesmente o resultado da aquisição de força física, de treinamentos árduos, de esforços de manutenção da saúde e de ótima condição física. Ele é também o resultado da “garra”, do esforço pessoal, de um objetivo perseguido com tenacidade, de uma força de vontade que leva a pessoa a não se afastar do caminho por ela mesma traçado. O esporte nos mostra que o ser humano não é só corpo: ele tem também uma outra dimensão.
E é para esta outra dimensão que Santa Maria Eugênia chama nossa tenção quando diz: “Não nos aflijamos quando tivermos alguma dificuldade, algum sacrifício, algum esforço a fazer; saibamos ir em frente, tendo diante de nosso olhar Jesus e Maria”. (21/10/1877). Em outra ocasião, ela disse também: “Para nós, progresso implica trabalho. Nosso Senhor habita em nós pela graça. Sua vida deve se manifestar em nós cada vez mais, dia a dia, avançando todos os dias, fazendo a cada dia algum progresso” (27/01/1878).
Estas palavras de Santa Maria Eugênia ecoam, de uma certa maneira, o que nos diz São Paulo, no trecho de sua carta citada acima. E nos remetem também à realidade expressa por Rebeca Andrade, uma de nossas atletas presente estes dias na Olimpíadas que se realizam na França. Estas duas citações se encontram no que diz Santa Maria Eugênia: “Progresso implica trabalho”.
E que significa isto para nós, em nossa vida de cada dia? Não somos atletas perseguindo uma medalha. Somos, isto sim, pessoas, cristãos, que desejam realizar em suas vidas aquilo que Deus espera de nós. Temos, portanto, um objetivo na vida: crescer como pessoa, desenvolver os dons que recebemos de Deus, vivenciar as palavras do Evangelho, transformar nossa Terra para que ela seja mais conforme ao projeto de Deus – em outras palavras, viver nossa fé.
Só que este objetivo não é fácil de atingir… Ele exige determinação, esforço, luta, perseverança, capacidade de recomeçar quando percebemos que falhamos… Ele pede que mantenhamos bem alto o nosso maior objetivo na vida, e que não tenhamos medo de sacrificar algo, se necessário for, em vista de conseguir realizá-lo.
Nisto, os esportistas e os atletas podem ser nossos mestres. Eles não hesitam em treinar continuamente para ir dia a dia se aproximando de sua maior capacidade. Eles são capazes de se privar de algo de que gostam em função de guardar seu peso, aumentar sua elasticidade, cuidar de sua saúde para estar sempre em ótimas condições físicas.
Nosso “treino” é diferente… Mas por que não fazer também esforços para crescer como pessoas e como seguidores, seguidoras, de Jesus? Lembremo-nos do que dizia Santa Maria Eugênia: “Saibamos ir em frente, tendo diante dos olhos Jesus e Maria (….) Progreso implica trabalho”… Apliquemo-nos conscientemente a reprimir palavras duras, palavras que machucam e ferem até conseguirmos ter apenas palavras que incentivam os outros a crescer também. Façamos isto com outros defeitos que possamos ter. E tentemos fazer este esforço com um sorriso nos lábios, lembrando-nos do que disse Rebeca Andrade: “Se eu não estiver feliz, não vou conseguir fazer meu melhor trabalho”.
Sabemos que não estamos competindo por uma medalha que olhos humanos podem ver… O que desejamos é conseguir aquilo que só Deus pode nos dar: a coroa que, no dizer de São Paulo, é “imperecível”.
Irmã Regina Maria Cavalcanti

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