“Mamãe” é a primeira palavra que muitos de nós falamos, depois do “dá-dá-dá” dos primeiros balbucios… E “Mãe” é também o grito que nos vem à boca quando nos encontramos em sofrimento, desde os tombos de criança até os “tombos” que a vida adulta nos dá… É no colo da mãe que muitas dores encontram consolo, no sentimento de que não estamos sozinhos diante de algo que nos ultrapassa… Temos alguém que sempre está ao nosso lado, temos uma mão que sempre nos ajuda a nos pormos de pé de novo…
Estamos no mês de maio, mês em que celebramos o Dia das Mães. Há tempos já que o comércio vem nos bombardeando com propagandas de presentes para o Dia das Mães… Mas sabemos que nenhum presente pode expressar o amor e a gratidão que temos para com nossas mães… É só por meio de gestos, de atitudes de vida, que podemos expressar a nossas mães que suas noites não dormidas por nossa causa produziram frutos. O presente é algo puramente simbólico; o que realmente expressa nossos sentimentos mais profundos é a nossa própria vida quando ela é reflexo dos valores que nossas mães nos transmitiram. O Dia das Mães é apenas um dia no calendário, mas o amor que temos por nossas mães é algo que deve ser vivido a cada dia de nossa vida.
Maio é também o mês de uma outra mulher que é Mãe de todos nós: Maria. Maria é a mãe de Jesus, a mulher que deu ao Filho de Deus uma carne humana, gerando-o no seu ventre. Maria tornou-se a mãe de todos nós, que somos irmãos e irmãs de Jesus, filhos todos do mesmo Pai, que é Deus. Podemos também dizer que somos todos filhos e filhas da mesma mãe, Maria. E como poderemos mostrar a ela nosso amor e gratidão?
Quando realmente admiramos uma pessoa, quando valorizamos o que esta pessoa é, suas qualidades, seus valores, seu modo de ser, nós a tomamos por modelo. Assim fazemos com nossas mães… Quando reconheço seu esquecimento de si, pensando sempre em primeiro lugar nos filhos e no esposo, penso que eu também deveria pensar mais nos outros; quando admiro a paciência de minha mãe comigo mesmo, ao longo de minha infância e juventude, sinto que deveria também ser mais paciente com os outros; quando me lembro de como ela demonstrava, e continua demonstrando amor, carinho, ternura e cuidado para com o esposo e cada um dos filhos, sinto-me chamado a ser também uma pessoa amorosa, capaz de demonstrar seus sentimentos mais profundos… A melhor maneira de dizer a uma pessoa que a admiramos não é com palavras, mas com atitudes: é procurando ecoar em nossa própria vida aquilo que admiramos na outra pessoa. Assim, o melhor presente que podemos dar às nossas mães é procurar reproduzir em nós o que admiramos nelas. Em outras palavras, tornar-nos parecidos com elas, não nas feições, porque isto não depende de nós, mas na maneira de ser, nas atitudes que brotam do mais profundo de nós mesmos.
E como fazer isto em relação à nossa mãe, Maria? Como poderemos nos tornar “parecidos” com ela? É claro que precisamos reconhecer que Maria é a mulher mais agraciada que existiu. Quando rezamos a “Ave Maria” tomamos emprestadas as palavras do anjo e a saudamos como aquela que é “cheia de graça”. Nós estamos longe de sermos assim… Mas podemos, sim, nos inspirar em algumas de suas atitudes e tentar vivê-las. Assim, nosso primeiro passo será buscar o que os evangelhos nos dizem sobre ela. Será como olhar para uma “foto” de Maria e ver seus traços mais marcantes.
Tudo o que conhecemos da vida de Maria tem seu começo num “sim””. Este “sim”,que indica prontidão para acolher o projeto de Deus, vai se manter ao longo de toda a sua vida. Este “sim” foi a afirmação de um compromisso. E Maria foi coerente com este seu compromisso… Ao longo de toda a sua vida, ela não voltou atrás.
Ser coerente com um compromisso assumido não é tarefa fácil. Exige força de vontade, determinação, perseverança, capacidade de superar dificuldades e sobretudo, a força de acreditar naquilo com o que a pessoa se comprometeu. Tudo isto Maria viveu… Tendo dado seu “sim” a Deus, ela assumiu uma gravidez cuja origem e sentido não podia revelar. Correu o risco de ser abandonada por José, seu noivo, que não podia acreditar numa traição de Maria, mas também não podia deixar de ver que a criança, que crescia no ventre dela, não era um filho seu. Arriscou-se a uma longa viagem nas últimas semanas de sua gravidez a deu à luz, sozinha, numa gruta de animais. Sofreu a fuga para um país desconhecido e viveu anos em exílio. Viu seu filho sair de casa e começar uma vida de pregador itinerante, e ficou só. Testemunhou o entusiasmo que as palavras de seu filho provocaram em muitos, mas também percebeu que poderosos o perseguiam. Teve a dor de ver seu filho condenado à morte e acompanhou-o no caminho para o local onde seria executado. Ficou de pé, corajosa e fiel, junto a ele, na cruz, até sua morte… Tudo isto foi consequência de seu “sim” ao projeto de Deus: “Faça-se em mim….”
Mas Deus também disse um “sim” a Maria… Depois da alegria de ver seu Filho ressuscitado, depois de cumprir sua missão maternal junto às primeiras comunidades cristãs, Maria foi elevada ao céu em corpo e alma – é este o grande mistério de sua Assunção… Este foi o “sim” de Deus àquela que em tudo e em todas as circunstâncias deu um “sim” ao projeto de salvação que Deus realizou na História da humanidade.
Somos também chamados a dar o nosso “sim” à vontade de Deus que se manifesta em nossa vida quotidiana. Não é tarefa fácil… Em determinadas circunstâncias, pode ser bem difícil… Santa Maria Eugênia viveu esta dificuldade, mas procurou ser sempre fiel a esta entrega de si mesma nas mãos de Deus, que é consequência da fé e da confiança total no amor de Deus que conduzia sua vida.
Como cristãos, rezamos todos os dias, na oração do Pai Nosso, as seguintes palavras: “Seja feita a vossa vontade…” Rezar estas palavras é assinar um cheque em branco para Deus… É confiar inteiramente nele. É afirmar que cremos no seu amor e nos jogamos, confiantes, nos seus braços. É dizer que sabemos que ele cuida de nós mais ainda do que uma mãe pode cuidar de seu filho…
Nossa mestra de espiritualidade, Santa Maria Eugênia, escreveu, em 1886, a seguinte oração: “Sim, meu Deus, tua vontade, porque assim o queres, eu a acolho, a aceito, a amo, ela me agrada. Só me apego a ti, meu Deus; és meu único desejo e a esperança de minha vida. O que quiseres, Senhor, como quiseres, quando quiseres, por intermédio de quem quiseres, e porque assim o queres”.
Rezando esta oração, peçamos a Santa Maria Eugênia que nos ensine a confiar totalmente em Deus, como o fez Maria, nossa Mãe, que honramos muito especialmente neste mês. Que saibamos nos entregar nas mãos de Deus tão total e confiadamente quanto nos entregávamos, ainda crianças pequenas, nas mãos de nossas mães.
Irmã Regina Maria Cavalcanti