Precisamente no dia 10 de março de 1898, Santa Maria Eugênia entrava no céu, alegremente saudada por aquelas que a tinham precedido na morada que Jesus prometeu preparar para os seus seguidores. Sim, porque antes de Maria Eugênia deixar sua morada aqui na Terra, já havia a Assunção do céu…
Deus, nosso Pai, a deixou aqui na Terra até uma idade avançada para que ela pudesse consolidar a obra que tinha fundado, a nossa Congregação, mas já tinha colhido alguns frutos de santidade entre as nossas primeiras Irmãs. Naquela época, sem os progressos da medicina que temos hoje, não era algo muito extraordinário que se morresse jovem…
Mas não foi isso o que aconteceu com Santa Maria Eugênia… Ela pôde vivenciar as diversas etapas de uma vida humana: a infância, a juventude, a maturidade e a velhice. Conheceu, portanto, o desabrochar da vida, seu ponto alto de capacidade de realizações e seu ocaso, sua diminuição pelo peso da doença e da idade. Por isso, ela pode ser para nós um exemplo e um estímulo em qualquer etapa da vida que estejamos.
Nascida em 1817 – portanto, há mais de duzentos anos atrás – ele é incrivelmente atual, pois viveu situações e enfrentou circunstâncias que diríamos ser próprias de nossos tempos de hoje… Sua família não era praticante. O pai era ateu, a mãe, cristã, mas não tinha uma prática religiosa. No entanto, ela zelava para que os filhos recebessem os sacramentos… Ana Eugênia – este era o nome que recebeu ao nascer – foi batizada e fez a Primeira Comunhão. Quantas famílias hoje em dia são “católicas de nome”, mas têm uma ligação apenas superficial com a Igreja?…
Bem jovem, ainda adolescente, Ana Eugênia vê sua vida virar de cabeça para baixo por meio de mudanças bruscas que a afetaram profundamente. Primeiramente, o pai perde os bens que possuía, e a família tem que deixar a casa e o estilo de vida que tinha. Ainda por cima, os pais se separam… Ana Eugênia fica com a mãe, mas seu irmão, seu companheiro de infância, com quem tinha um laço muito forte de amizade, vai embora com o pai… Quantas famílias hoje em dia vivem separações dolorosas, que deixam marcas profundas na vida de seus filhos?…
Pouco tempo depois da separação de seus pais, quando Ana Eugênia e a mãe estavam vivendo uma situação bem diferente daquela que até então tinha sido a delas, uma epidemia de cólera se abate sobre Paris, e ela vê sua mãe perder a vida… Ainda adolescente, com apenas quinze anos de idade, Ana Eugênia se encontra órfã de mãe, com seu pai ausente… Há poucos anos atrás, a covid-19 assombrou não somente uma cidade, mas o mundo… Quantas famílias sofreram perdas que impactaram profundamente a vida dos que ficaram…
Mas Deus tem os seus caminhos, que nós muitas vezes não chegamos a compreender… Assim foi com Ana Eugênia. Ela mesma não o sabia, mas a mão de Deus a estava guiando através de todas essas perdas. Bem mais tarde, ela dirá em 1840: “Que Nosso Senhor faça o que quiser, que nos dê ou nos tire, encontraremos sua bondade em tudo o que nos der, e tornaremos a encontrá-la naquilo que nos tirar, pois parece-me que Ele nunca tira alguma coisa sem, em troca, dar-se a si mesmo, mais profundamente”.
Conhecemos o desenrolar dessa história, os acontecimentos de sua vida, o seu caminho de santidade construído dia após dia, no meio de fatos próprios de uma vida humana plenamente vivida: a influência de outras pessoas, a descoberta de uma fé comprometida, a percepção de sua própria vocação, as lutas para realizar o que percebia ser o projeto de Deus para sua vida…
Sim, pois Deus tinha um projeto para a vida de Ana Eugênia, assim como ele tem um projeto para a vida de cada um, de cada uma de nós. Você já parou para pensar qual é o projeto que Deus tem para a sua vida?
Ao fundar nossa Congregação, Ana Eugênia tomou para si o nome da Mãe de Jesus, Maria, a mulher que realizou plenamente o projeto de Deus para sua vida. Por isso, nós a conhecemos como Maria Eugênia, Santa Maria Eugênia.
Na realidade, o que é ser santo? Por que podemos dizer que algumas pessoas são “santas”? A santidade consiste em viver voltado, voltada, para Deus, em viver de acordo com o que Deus nos pede, em viver o projeto de vida que Jesus nos apresenta no evangelho. Por isso, não há dois santos iguais… Cada um vive a santidade a seu modo, à sua maneira, manifestando em sua vida um ou outro aspecto do evangelho, sublinhando em sua vida alguma das palavras de Jesus.
Maria Eugênia foi uma santa plenamente sintonizada com o seu tempo. É verdade que ela não conheceu muitas coisas que fazem parte de nossa vida de hoje. Ela não viu os grandes aviões que cruzam os céus e que ligam os continentes com apenas algumas horas de viagem. Ela não conheceu a internet, nem tantas outras coisas que marcam nossa vida atualmente. Mas foi uma mulher que entendeu o caminhar da História, que percebeu quais eram as grandes questões de seu tempo, que continuam sendo grandes questões de nosso tempo: o lugar e o papel da mulher na sociedade e na Igreja, a necessidade de educação para todos, a desigualdade social que cria o escândalo de pobres e ricos numa humanidade que deveria dar as mesmas oportunidades a todos, a necessidade de levar a mensagem libertadora de Jesus a todos os que não a conhecem… Essas grandes questões ocuparam o pensamento e a oração de Maria Eugênia, e deram uma direção à sua ação. Ela entendeu que lutar por elas faz parte da construção do Reino.
Hoje, nós, Irmãs e leigos que conhecem, amam e seguem Santa Maria Eugênia, nos dispomos a assumir essas mesmas lutas. Somos seguidores de Maria Eugênia e, em nossa realidade e em nosso tempo, levantamos as mesmas bandeiras. Por isso, no dia em que sua vida foi coroada por Deus pela entrada no Reino definitivo, nós nos alegramos. Sim, hoje é festa! É festa dela e é festa nossa! Celebremos esta mulher que nos inspira a sermos construtores do Reino e agentes de transformação. Que ela nos ajude a termos, também nós, “um olhar todo em Jesus Cristo e na extensão de seu Reino”, como ela mesma disse. Boa festa!
Irmã Regina Maria Cavalcanti