Quem lê jornais ou assiste aos noticiários pela televisão ou na internet só pode estar assustado com o que tem visto… O mundo todo está assustado… A violência está atingindo níveis estarrecedores…
No nível internacional, é a guerra que se espalha. Já faz um certo tempo que, na Europa, a Rússia invadiu a Ucrânia, e a luta continua… Ataques… Mortes indiscriminadas… Destruição… Fugas desesperadas… Mais bombas… Mais mortes… E o círculo infernal retoma e continua… No Oriente Próximo, Israel é o centro… Atacado e atacante… Mortes indiscriminadas… Destruição… Fugas desesperadas… Mais bombas… Mais mortes… E o círculo infernal retoma e continua… Outros países estão entrando nesta espiral de violência, da qual é extremamente difícil sair… Na África, é um pouco diferente, mas a violência é a mesma… Não há guerra de um país contra o outro, mas a guerra está instalada dentro de muitos países… As notícias não são muitas, mas a violência é grande…
Sim, a violência está em toda parte… Não é só nas guerras que ela mostra sua face. Basta abrir um jornal e ler as notícias locais… É que a violência está, infelizmente, alojada no coração humano. A História da humanidade nos mostra a presença contínua, através dos séculos, de inúmeras formas de violência, de agressão, de um ser humano contra outro, ou contra outros. Na tentativa de explicar as origens da humanidade, a Bíblia conta, de uma maneira altamente poética, a criação; e logo em seguida, de um modo bem mais realista, a inveja e o assassinato entre irmãos, com o relato de Caim e Abel. De lá para cá, Caim e Abel continuam a existir, pois cada vez e sob qualquer forma que uma pessoa agride e mata outra, é a um irmão, uma irmã, que está agredindo e matando.
Quem de nós não conhece a história de pessoas – algumas até bem próximas de nós – que sofreram algum tipo de violência? Quem de nós não se assustou com este fato e se perguntou por que tais coisas acontecem?
É que, de fato, a violência mora no coração humano… Tomemos coragem para examinar nosso próprio coração. Que tipos de violência podemos encontrar no mais íntimo de nós mesmos? Será que existe em nós ódio contra alguém?… Revolta contra alguma coisa ou contra alguém que foi responsável por certos fatos de nossa vida?… Desejo de vingança contra alguém?… Mentiras para disfarçar uma profunda rejeição que sinto para com alguém ou para com algum grupo de pessoas?… Existem mil outros disfarces que a violência que mora dentro de nós toma, por vergonha de aparecer tal qual é… É preciso coragem para olhar nosso coração no espelho e perceber que não somos tão melhores do que os outros e que somos habitados por algo que não desejaríamos ter em nós…
É duro reconhecer que somos pecadores. É difícil bater no peito com sinceridade. Mas é importante reconhecer que temos, em nosso coração, o pior e o melhor do que existe na humanidade. O pior é o pecado, do qual nenhum de nós está isento. E o melhor é a fé, é a esperança que nos leva a confiar na bondade e no perdão de Deus, que nos ama, pois é Pai. E é também o amor que ele derrama em nossos corações, para que possamos, também nós, apesar de sermos pecadores, transmiti-lo a nossos irmãos e irmãs.
Violência gera violência. Cabe a nós, cristãos e cristãs, interromper esse ciclo do mal. Em várias passagens do Evangelho, Jesus convida seus seguidores a serem semeadores da paz. Ele reconhece que aqueles que o seguem são como “cordeiros no meio de lobos” (cf. Lc 10, 3). No entanto, proclama bem-aventurados, isto é, felizes, os “construtores da paz” (cf. Mt 5, 9). Convida-nos a viver como irmãos e a exercer o perdão uns para com os outros (cf. Mc 11, 25). Ele nos dá a razão profunda desta atitude: somos todos irmãos e irmãs, pois nosso Pai é um só (cf. Mt 6, 9). E o próprio Jesus viveu o perdão mais difícil, ao perdoar seus próprios algozes (cf. Lc 23, 33-34).
Viver as palavras de Jesus é possível. Temos grandes exemplos de pessoas que conseguiram vencer este impulso à violência que mora no coração de tanta gente. Um grande inspirador da vivência da paz e da concórdia foi Mahatma Ghandi. Sem ser cristão, ele viveu as palavras de Jesus e deixou-nos o exemplo de um homem de paz. Lutou por meios pacíficos pela independência de seu país, a Índia. É dele a seguinte frase: “Posso até estar disposto a morrer por uma causa, mas nunca a matar por ela”. E outro grande construtor da paz, Marin Luther King, dizia: “Sempre, e cada vez mais, devemos nos erguer às alturas majestosas de enfrentar a força física com a força da alma”.
São Paulo nos estimula a viver esta paz que Jesus veio nos trazer: “Cristo é a nossa paz. De dois povos, ele fez um só. Na sua carne, derrubou o muro da separação: o ódio” (Ef 2, 14).
Poderemos nós, fortalecidos pela graça de Cristo, derrubar os muros de separação que existem dentro de nós mesmos? Poderemos nós contribuir para a construção da paz em nosso mundo? Essa é uma tarefa tão grande que temos a tentação de dizer: Não, não podemos: isto está acima de nossas forças… E, no entanto, podemos, sim. Podemos semear paz em nosso redor. Podemos contribuir para a construção de uma cultura da paz.
E como pode isso acontecer? Santa Maria Eugênia nos ensina, de uma maneira muito simples, mas muito real, a sermos construtores da paz. A receita que ela nos dá é cuidar do coração. Não de seus batimentos nem de sua pressão, mas sim de nossos sentimentos. Sim, porque só seremos capazes de construir a paz em torno de nós, só poderemos ser artífices da paz, se tivermos paz em nosso coração. Só uma pessoa de paz pode semear a paz. Ela dizia: “A alegria interior está acima das contrariedades, das provações, dos fatos que podemos criticar ou daqueles dos quais nos queixamos. Ela se fundamenta na paz do coração”. Em outro momento, ela chega a dizer: “A paz que Nosso Senhor nos traz não é sem combate; é uma paz que custa”.
Sim, a paz verdadeira, a paz do coração, essa paz que é capaz de transbordar do coração de quem a vive a atingir todas as pessoas a seu redor, é fruto da graça, mas também da luta, do combate, do empenho em afastar de si toda forma de violência que pode habitar um coração humano. É esta a paz que Deus nos chama a viver.
Tenhamos a coragem de nos tornarmos pessoas de paz, pessoas que promovem a paz. Peçamos a Deus o dom da construção da paz em nossa família, com os nossos amigos, em nossa comunidade. Que saibamos educar nossos filhos para que eles também se tornem construtores da paz. E rezemos todos os dias, a oração de São Francisco: “Senhor, fazei-me instrumento de vossa paz…”

Irmã Regina Maria Cavalcanti 

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