Não sei se você vive numa localidade perto do mar ou se no interior. Mas talvez você já tenha ouvido falar no Projeto TAMAR, de proteção às tartarugas marinhas. Ao longo do nosso litoral, há vários postos deste Projeto, que trabalha para evitar a extinção destes animais pouco conhecidos. Os funcionários do Projeto desenvolvem uma ação educativa junto à população que mora perto das praias onde as tartarugas marinhas aportam para desovar.

Faz parte desta ação convidar os moradores para assistir ao nascimento das tartaruguinhas. As crianças costumam se deliciar com a “festa”, vendo centenas destes bichinhos romperem os ovos, saírem correndo, atravessando a praia e mergulhando nas ondas para desaparecerem no oceano, que é seu “habitat”. Num vídeo que mostrava um destes acontecimentos, uma menina de uns seis ou sete anos expressou o sentimento de quem estava assistindo àquela cena. Ela bateu palmas e disse, toda entusiasmada: “Elas já nascem prontinhas!”… Sim, as tartaruguinhas já nascem prontinhas: elas já sabem andar, já sabem correr, já sabem ir em direção ao mar, já sabem mergulhar e nadar, já sabem buscar seu próprio alimento… Já sabem o que precisam fazer para viver…

Nós, humanos, somos diferentes… Quem não se enternece ao ver um recém-nascido, tão pequenino, tão, fragilzinho, tão dependente para tudo, tão despreparado para enfrentar a grande aventura da vida… Nós não nascemos “prontinhos” para a vida. Ao nascer, temos muito o que aprender…
E, se temos que aprender, precisamos de quem nos ensine. Quais são as nossas lembranças de aprendizagem? Que memórias guardamos de quem nos ensinou a viver?…

No mês de outubro existe um dia especial para homenagear os professores. Sim, os professores são algumas das pessoas que nos ensinaram algo. Certamente, em nossas lembranças surgiram alguns nomes de professores que, por alguma razão, se destacam em nossa vida: ou por sua sabedoria e competência, ou por sua simpatia, ou ainda por sua compreensão e paciência diante de nossas dificuldades. Qualquer que tenha sido a razão deste destaque, certamente uma coisa é comum a todos eles: é que estas pessoas foram além de simplesmente nos ensinar alguma matéria – eles nos deram um exemplo de vida, mostrando-nos o que é ser uma pessoa humana que merece ser homenageada, lembrada. Eles nos deram uma lição de vida. E, por esta razão, foram educadores.

Educação, portanto, é algo bem mais amplo do que ensino. A escola deve educar os seus alunos, pois “a escola não é um lugar onde se transmite apenas conhecimento formal das áreas humanas, exatas e biológicas. A educação vai além disso. As instituições de ensino objetivam a formação integral dos educandos, cidadãos para o mundo” (Tiago Aparecido Rodrigues, “Projeto de vida à luz da pedagogia do Mestre Jesus” em Revista EDUCANEL, junho/julho 2022, pg. 50).

Educar é, portanto, fazer aflorar aquilo que a pessoa tem dentro de si como capacidade, possibilidade, intencionalidade de se tornar uma pessoa plenamente humana. E ser plenamente humana é ser imagem e semelhança de Deus, pois assim fomos criados… Educar alguém é um longo caminho pois, ao contrário das tartaruguinhas, nós não nascemos “prontinhos(as)”…

Nossos primeiros educadores – e eu diria “nossos educadores permanentes” – são nossos próprios pais. A família é, ou deveria ser, o âmbito educativo por excelência. É nela que se aprendem e se vivem os valores de amor, verdade, respeito, liberdade, franqueza, retidão, solidariedade e tantos mais. São estes os valores de vida que nos “humanizam”, que nos tornam pessoas humanas íntegras.

Santa Maria Eugênia vislumbrou na educação o campo de trabalho para que o nosso mundo se tornasse melhor. Ela via a educação como uma missão, como uma força transformadora da sociedade, como aquilo que Deus pedia a ela e à congregação que iria fundar.

Educar alguém demanda tempo… É preciso acompanhar esta pessoa através das diversas fases pelas quais passa sua vida: infância, adolescência, juventude… É um trabalho de paciência e muito amor… Educar é um trabalho de profundidade: é criar convicções, é forjar o caráter. “A educação na Assunção, dizia Santa Mara Eugênia, orienta-se para dar convicções, aprofundar as raízes que, cedo ou tarde, darão seus frutos” (Sta. Maria Eugênia, carta nº9808, ano de 1880).

Uma vez, as Irmãs da comunidade de Bordeaux queixaram-se a Santa Maria Eugênia de que as alunas de lá eram superficiais, “borboleteavam” muito, isto é, eram inconstantes, não assumiam com seriedade o que deviam fazer. A resposta de Maria Eugênia é algo que pode nos inspirar até hoje. Ela disse o seguinte: “Se as alunas de Bordeaux são como borboletas, não cortem suas asas, mas apenas dirijam o seu voo”. Isto é, não se educa com normas rígidas, com proibições, muito menos com castigos. Educa-se, isto sim com diálogo, mostrando um rumo a dar à vida, formando firmeza e constância nas ações assim como responsabilidade por suas próprias posições – e deixando a criatividade livre… 

Pais e professores – todos educadores – podem aprender muito com Maria Eugênia. Sim, pois na vida estamos continuamente aprendendo, não importa a idade que tenhamos…

Vocês sabem que nem todas as Irmãs da Assunção trabalham em escolas. Seja por formação profissional, seja por missão lá onde estamos, muitas dentre nós desenvolvemos outros tipos de atuação. Mas, qualquer que seja nosso campo de ação, sempre damos uma dimensão educativa àquilo que fazemos. Sim, porque educar é humanizar. É ajudar as pessoas a descobrir e desenvolver suas próprias capacidades; é apoiá-las em sua busca de dar um sentido à sua vida, tornando-se capazes de fazer o bem; é apoiá-las no esforço de desenvolver seus próprios valores; é fazer com que se tornem construtoras de um mundo melhor.

Na frase que muitos de nós conhecemos, Santa Maria Eugênia diz que “é uma loucura não ser o que se é com o máximo de plenitude possível”. Ajudar as pessoas a chegar a este “máximo de plenitude possível” é o trabalho da educação.

Reunidos em Congresso, Irmãs e leigos educadores explicitaram linhas de ação educativa a partir do pensamento de Santa Maria Eugênia que inspiram nossa ação. Entre várias outras, vejamos algumas:


Trabalhar para que todo ser humano se torne cidadão do mundo:
• educar para o respeito e o diálogo, para a acolhida da diversidade das pessoas e das culturas;
• educar para a dimensão comunitária e dar prioridade ao bem comum;
• fazer valer o direito de toda pessoa humana à vida, aos bens da terra e à educação, à informação, à comunicação, à liberdade religiosa e à expressão de sua fé.

Trabalhar para que todo ser humano seja cidadão de seu povo:
• formar e desenvolver sua identidade cultural e pessoal;
• aprender a conhecer e a transmitir os valores de sua cultura;
• aprender a gerenciar as diferenças para o viver juntos”. (cf. A educação na Assunção – Texto de referência – Congresso Internacional de Educação – junho de 1998).

Que estas linhas de ação possam ser inspiradoras para todos os educadores, pais e mães de família, professores ou pessoas que lidam com outras pessoas. Educar é preciso, pois não somos como as tartaruguinhas… Nós não nascemos “prontinhos(as) “…

Irmã Regina Maria Cavalcanti – Religiosas da Assunção

 

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Respostas de 4

  1. Lindo texto! Está citação é maravilhosa e muito profunda. Parabéns, Irmã Regina!
    “É uma loucura não ser o que se é com o máximo de plenitude possível”. Ajudar as pessoas a chegar a este “máximo de plenitude possível” é o trabalho da educação.

  2. A linda missão da Assunção nos proporciona um encontro com o propósito de vida, que mais cedo ou mais tarde se revela e faz a diferença no mundo.

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