13 de Março 2025
“Meus irmãos e minhas irmãs, durante as cinco semanas da Quaresma preparamos o nosso coração pela penitência e obras de caridade. Hoje aqui nos reunimos e iniciamos, com toda a Igreja, a celebração do mistério pascal de nosso Senhor, sua morte e ressurreição”. Com essas palavras do celebrante iniciamos a liturgia deste domingo.
De fato, este domingo marca o início da Semana Santa, ponto alto do calendário litúrgico, pois nela se celebra o grande mistério de nossa salvação, pela Paixão, Morte e Ressurreição de Jesus. Também chamado Domingo de Ramos, ou Domingo da Paixão, este domingo tem características litúrgicas próprias, inspiradas no relato da Paixão de Jesus, contada pelos evangelhos. Mas, antes de mais nada, um pequeno esclarecimento. A palavra “paixão” é usada na nossa linguagem corrente com um sentido diferente. No nosso dia-a-dia, essa palavra significa um sentimento amoroso avassalador, muito profundo. No entanto, quando falamos do Domingo da Paixão, da Paixão de Jesus, a palavra é usada em seu sentido original, que é “o sofrimento pela qual alguém passa”. Assim, quando falamos no “mistério pascal” – expressão usada pelo celebrante no início da liturgia de hoje – englobamos todo este conjunto: os sofrimentos pelos quais Jesus passou, que culminaram na sua morte na Cruz e que mostraram seu sentido profundo no fato da Ressurreição. Essa foi a “passagem” de Jesus, sua Páscoa. Esse é o mistério de nossa salvação, pois somos todos convidados, convidadas, a fazer com ele esta mesma passagem: da morte do pecado à vida da graça, da escravidão do pecado à libertação da vida com Deus.
Mas voltemos à liturgia deste domingo. Mas igrejas onde há mais de uma Missa neste dia, em uma delas a celebração começa com a bênção dos ramos e a procissão. Esta celebração nos lembra a entrada triunfante de Jesus em Jerusalém, poucos dias antes de ser preso e condenado à cruz. Entusiasmado com a pregação e os milagres de Jesus, o povo vai ao seu encontro e entra na cidade aclamando-o.
Se a entrada de Jesus tivesse acontecido em alguma cidade de nosso país, o povo certamente teria bandeirinhas nas mãos… Mas lá, na terra onde Jesus viveu, o povo pegava ramos das árvores à beira da estrada, folhagens, para significar sua alegria, e colocavam seus mantos no chão por onde Jesus iria passar aclamando-o como Rei. O celebrante lê um pequeno trecho do evangelho (Lc 19, 28-40) e benze os ramos que nós, agora, vamos ter nas mãos para aclamar Jesus como nosso Rei. Esta leitura nos mostra que a alegria dos seguidores de Jesus levantou preocupação nos fariseus.
E partimos em procissão pelas ruas da cidade… A participação na procissão é um testemunho que damos de nossa fé. Nós somos pessoas que acolhem Jesus e encontram nele o sentido de nossa vida, de nossas opções e ações. Por isso fazemos como o povo daquela época, e saímos à rua com ramos nas mãos aclamando Jesus. E seguimos pelas ruas até a igreja, onde celebraremos a Eucaristia. As leituras da Missa de hoje mostram a mudança de clima anunciada no trecho do evangelho lido no momento da bênção dos ramos. Já estamos na expectativa do que vai acontecer…
A Primeira Leitura (Is 50, 4-7) é tirada do livro do profeta Isaías. Esse texto nos coloca diante dos sofrimentos e da tortura que Jesus sofreu a partir do momento em que foi preso
no Jardim das Oliveiras: “Ofereci as costas para me baterem e as faces para me arrancarem a barba; não desviei o rosto de bofetões e cusparadas”. O contraste é grande entre esta cena – profeticamente anunciada por Isaías séculos antes – e a da entrada de Jesus em Jerusalém, contada com mais detalhes pelos evangelistas, que foram dela testemunhas, e que nossa procissão relembrou.
De fato, a alegria e o entusiasmo dos seguidores de Jesus que o aclamavam como “Filho de Davi, rei de Israel”, vendo nele a libertação pela qual ansiavam contrasta fortemente com as torturas às quais foi submetido por aqueles que viam nele uma ameaça a seus poderes e privilégios…
Se a leitura de Isaías nos fala do sofrimento físico pelo qual passou Jesus, o Salmo (Sl 22 / 21) nos expõe seu sofrimento íntimo, interior: “Meu Deus, meu Deus, por que me abandonastes?” A sombra da Cruz já se projeta sobre o mundo… É nos lábios de Jesus, pregado na cruz, que estas palavras tomam todo o seu sentido. E é nos lábios de todos aqueles e aquelas que, ao longo dos tempos, deram sua vida para o bem de outros que elas continuam a ecoar.
Na Segunda Leitura, (Fil 2. 6-11), São Paulo nos diz o que levou Jesus a sujeitar-se a tão grande sofrimento> “Jesus Cristo, existindo em condição divina, não fez do ser igual a Deus uma usurpação, mas ele esvaziou-se a si mesmo, fazendo-se obediente até a morte, e morte de cruz”. Foi esta obediência de Jesus que lhe valeu a glorificação que o Pai lhe deu: “Por isso, Deus o exaltou acima de tudo e lhe deu o Nome que está acima de todo nome. Assim, ao nome de Jesus, rodo joelho se dobre no céu, na terra e abaixo da terra, e toda língua proclame: ‘Jesus Cristo é o Senhor’, para a glória de Deus Pai”. O Pai o glorificou, mas também o glorificam todos aqueles e aquelas que fazem de Jesus o centro de suas vidas. Por nosso Batismo somos chamados a fazê-lo também. Teremos suficiente coragem para isto?… Preparemo-nos desde já para que, ao renovar nossas promessas batismais na Vigília Pascal, possamos assumir o compromisso de ter Jesus no centro de nossas vidas, de todas as nossas opções, decisões e ações.
O Evangelho deste dia é o relato da Paixão (Lc 23, 1-56). Todos os evangelistas narram a Paixão de Jesus e sua morte na cruz. Cada um desses relatos tem seus detalhes especiais: Mt 26,1 – 27, 66; Mc 14, 1 – 15, 47; para ser mais completo, Lc 22, 38 – 23, 56; Jo 18,1 – 19, 41. Durante a Semana Santa, procure ler, meditativamente, um desses relatos e tome um tempo para rezar a partir do que leu. Deixe o coração falar com o Pai e com Jesus a partir do que o evangelho nos diz do amor que eles têm por cada um(a) de nós.
Para terminar sua meditação, reze: “Ó Deus, bendito seja o teu nome e teu amor infinito por nos ter enviado Jesus Cristo, que veio como servidor fiel da humanidade. Dá-nos força para seguirmos os seus passos no caminho da cruz e ressuscitar com ele em sua glória. Por Cristo, nosso Senhor. Amém.”
Irmã Regina Maria Cavalcanti