CRISTO SOBE AO CÉU PARA SENTAR-SE À DIREITA DE DEUS PAI, ACIMA DE TODA AUTORIDADE, PODER, POTÊNCIA, SOBERANIA.

Celebramos hoje a Festa da ASCENSÃO DO SENHOR: Jesus subiu ao céu e está à direita do Pai. Contemplamos Jesus em sua glória e em seu senhorio; é a narrativa da realidade grandiosa e gloriosa de Jesus!

Na liturgia católica situamo-nos no sétimo domingo do Tempo Pascal, momento este que encerra muitos acontecimentos importantes da vida de Jesus, plenos de ensinamentos a serem acolhidos e refletidos em nossos corações. Ao mistério da Ressurreição soma-se o da Ascensão.

Na Paixão e Ressurreição, Jesus assume radicalmente a condição humana vivenciando todo tipo de sofrimento culminando em morte de cruz; ao transpor a morte mostra-nos a sua condição divina e nos coloca como seres capazes de vencer nossas limitações e esperançosos de alcançarmos a vida eterna.

A Ascensão do Senhor que hoje celebramos, sugere que ao final do caminho de amor e doação percorrido por Jesus está a vida definitiva, a comunhão com Deus. Sugere também que Jesus nos deixou o testemunho e que somos nós, seus seguidores, que devemos continuar a realizar o projeto libertador de Deus para a humanidade e para o mundo. Este convite que Jesus nos faz, de construirmos o Reino de Deus e de sermos fiel a ele, é o caminho de glória da humanidade. Vamos aceitar este convite?

Na primeira leitura, At 1, 1 -11, Lucas nos relata que após sua Ressurreição, Jesus passou quarenta dias aparecendo a seus Apóstolos e falando-lhes sobre o Reino de Deus. Durante uma refeição, momento de partilha, deu suas últimas instruções aos Apóstolos: que eles não se afastassem de Jerusalém e que, num momento específico, determinado pelo Pai, eles receberiam o Espírito Santo e passariam a testemunhar Jesus até os confins da Terra. Após isso, Jesus subiu  ao céu, uma nuvem branca o encobre; os apóstolos permanecem olhando em direção ao céu, quando dois homens de branco passam e dizem aos apóstolos: “Homens da Galileia, por que ficais aqui parados, olhando para o céu? Esse Jesus que, do meio de vós, foi levado ao céu, virá assim, do mesmo modo como o vistes partir para o céu”.

A partir desta leitura podemos entender que os Apóstolos tiveram um período de aprendizagem com o Mestre – quarenta dias costuma ser um número que se repete nas Escrituras, tempo simbólico de iniciação a um ensinamento – e que agora deveriam partir para o mundo ensinando e testemunhando o projeto de salvação destinado a todos os homens. Importante destacar que eles, os apóstolos, não estariam sozinhos: seriam guiados pelo Espírito de Deus.

O livro dos “Atos dos Apóstolos” dirigia-se as comunidades que viviam, após 50 anos da morte de Jesus, num contexto de crise e desilusão, sem expectativas quanto à vinda iminente do Cristo glorioso para instaurar o Reino anunciado.  As questões doutrinais traziam certa confusão e não havia muito empenho na vivência cristã. O quadro geral era de frustração, porque o mundo continuava igual e a esperada intervenção vitoriosa de Deus continuava adiada. Quando iria se concretizar de forma plena e inequívoca, o projeto salvador de Deus?
É neste ambiente que podemos inserir o texto da primeira leitura onde Lucas nos diz que o projeto de salvação e de libertação que Jesus anunciou é uma tarefa a ser construída pela Igreja, com a iluminação do Espírito Santo. Exigindo, assim, o empenho contínuo de todos os cristãos. Somente a fidelidade ao caminho percorrido por Jesus poderá nos levar para junto do Pai.

“Homens da Galileia, por que ficais aqui parados, olhando para o céu?” O texto é claro e aponta para a nossa responsabilidade: não podemos ficar parados e apenas maravilhados diante dos ensinamentos de Deus, mas colocá-los em prática para sermos uma comunidade sensível, justa e fraterna. Estamos fazendo a nossa parte?

O Salmo 46 (47) presta uma grande homenagem ao Senhor que é rei de todos os povos e que subiu ao seu trono sagrado. Todos cantam hinos de alegria. Podemos nos inspirar nestas palavras, para louvarmos sempre o Senhor. Será que fazemos isso com sinceridade e humildade?

Na segunda leitura, Ef 1, 17-23, São Paulo faz uma fervorosa prece a Deus para que Ele dê sabedoria e abra os corações dos efésios, para que eles conheçam “a esperança a que foram chamados”, isto é, a herança da vida eterna. A prova de que o Pai tem poder para cumprir esta promessa, é que Ele ressuscitou Jesus e está sentado à sua direita, acima de toda autoridade deste mundo e do próximo. Além disso, fez de Jesus a cabeça da Igreja cujo corpo é constituído pela comunidade cristã. Estabelece-se assim, a noção de “Corpo de Cristo”. (cf. Ef 1,20-23).

E o que isso significa? Quer dizer que Cristo e a Igreja formam uma unidade indissolúvel, isto é, compõem um todo que comunga e partilha da mesma vida e destino traçado pelo Pai. Cristo, como cabeça, é quem orienta a Igreja, e esta, como corpo, se faz presente no mundo. Jesus habita em todos os cristãos e devemos ser o sinal vivo de Deus neste mundo.

Dizer que fazemos parte do “corpo de Cristo” significa que devemos viver em comunhão total com Ele e que nessa comunhão recebemos, a cada instante, a vida que nos alimenta. Significa também viver em comunhão e solidariedade total com todos os nossos irmãos, membros do mesmo “corpo”, alimentados pela mesma vida. Estas duas coordenadas estão presentes em nossas vidas?

O Evangelho de Marcos 16, 15-20, traz novamente a fala de Jesus aos discípulos: “Ide e anunciai o Evangelho a toda criatura. Quem acreditar e for batizado será salvo… Muitos sinais acompanharão os que acreditarem…”Depois que Jesus subiu ao céu, os discípulos saem pregando por toda parte e Jesus os acompanhava através de sinais. O texto de Marcos, além de enfatizar a missão dos discípulos de anunciar a Boa-Nova da salvação, ressalta que cabe a cada um de nós fazer a adesão à proposta de Jesus, transformando os corações e propiciando o nascimento de uma nova humanidade, marcada pelo respeito e amor e não mais pelo egoísmo e exploração entre os homens.

Não estaremos sozinhos, mas sim em unidade com Jesus: lembremos, fazemos parte do Corpo de Cristo! Assim sendo, Jesus se fará presente através de sinais explicitados pelas ações dos discípulos e dos que a Ele aderirem, revertendo situações de injustiça e opressão (expulsando demônios), promovendo o entendimento entre os homens (falarão em outras línguas) e levando esperança, transformação e vida nova aos fiéis (curando e superando as limitações humanas).

Importante lembrar que “Jesus sentado à direita do Pai” nos mostra a soberania e a sabedoria divina se seus ensinamentos. Será que colocamos Jesus como soberano em nossos corações?

Concluindo, a Ascensão de Jesus marca o início de nossa missão, ou seja, um novo modo de presença no mundo. Viver com os olhos voltados para o Senhor glorioso não nos dispensa de estar com os dois pés no chão, plantados na terra da história.

A celebração do mistério da Ascensão nos impulsiona, ao mesmo tempo, para Deus e para o mundo. Paixão por Deus e paixão pelo mundo.

Muitas vezes preferimos seguir um Jesus no “céu”. Descobri-lo dentro de nós mesmos e nos outros é demasiado exigente e comprometedor. Muito mais cômodo é continuar olhando para o céu… e sentir-nos implicados naquilo que está acontecendo ao nosso redor. A Ascensão de Jesus nos desafia a romper a estreiteza de nossa vida para expandi-la a horizontes mais inspiradores.

SANDRA YAZAKI
LEIGA ASSUNÇÃO JUNTOS – SÃO PAULO

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