29 de setembro de 2024

“Não o impeçais, pois quem não está contra nós, está a nosso favor”

Hoje, na Igreja do Brasil, celebramos o DIA DA BÍBLIA. Todo o mês de setembro é um apelo para aprofundar a Palavra de Deus que nos alimenta, nos forma, nos transforma e nos questiona sobre nosso compromisso de fé, vivido no dia a dia. Conforme diz o Salmo: “Tua palavra é uma lâmpada para os meus passos e uma luz para o meu caminho” (Sl.118)

O Evangelho de Marcos é uma narrativa que estimula e anima as comunidades cristãs; mas também adverte e corrige profeticamente os seguidores de Jesus. 

O relato desse domingo (Mc 9,38-43.45.47-48) é um grande questionamento e um apelo para mudança de mentalidade, uma conversão no pensar, no sentir, no agir. Trata-se de um episódio em que Jesus adverte de modo radical os doze apóstolos sobre sua conduta equivocada. Eles impedem um homem de expulsar demônio de uma pessoa, em nome de Jesus; afirmam que o motivo é porque não pertence ao seu grupo, “não é dos nossos”. 

Então, recebem uma alerta grave de Jesus que lhes diz: “Não o impeçais, pois quem não está contra nós, está a nosso favor”. (cf. v. 40). Ele reprova de modo categórico a atitude de seus discípulos, porque não estão vendo o bem da pessoa que se liberta, recuperando a sua dignidade; mas, o fato de que essa ação libertadora não vem do seu grupo.

Estão movidos por um grande preconceito. Os doze estão querendo monopolizar a ação salvadora de Deus. Quem desenvolve uma atividade libertadora, já está de algum modo vinculado a Jesus e ao seu Projeto de Salvação. Jesus, diferente dos seus, não considera como inimigo aquele que não é membro do seu grupo e sim, como parceiro, que quer a vida, a cura para as pessoas; portanto, sua inclusão na sociedade. 

No tempo de Moisés, também alguns receberam o espírito de profecia, sem ser do seu grupo (cf. 1ª leitura: Nm.11,25-29) e Moisés diz a quem os condenava: “Quem dera que todo o povo do Senhor fosse profeta e que o Senhor lhe concedesse o seu espírito”.

Apelo para nós hoje! Recordamos que o Reino de Deus se estende além da instituição eclesial. Jesus nos convida a nos alegrar com aquilo que as pessoas e as instituições não eclesiais possam estar fazendo, lutando por um mundo mais humano, uma sociedade mais justa e fraterna. Onde se defende os marginalizados, os pequenos, os vulneráveis, ali se combate para que venha o Reino de Deus. Estamos unidos por uma grande causa.

Outro questionamento é a denúncia que Jesus faz “ai daquele que escandalizar um desses pequeninos que creem em mim”. (cf.v.42)

Hoje, como Povo de Deus, também corremos o risco de escandalizar: quando a nossa vida é causa de que pessoas deixem a comunidade de fé; quando não questionamos o poder opressor das consciências nos diversos ambientes que frequentamos; quando alimentamos a indiferença diante da miséria de muitos; quando não denunciamos o acúmulo de bens e não praticamos a justiça, a partilha e a solidariedade. (Cf. 2ª leitura Tg 1-6). 

A linguagem rigorosa de Jesus apresenta uma metáfora para que os discípulos entendam as opções para participar do Reino de Deus. Então fala de cortar a mão, ou o pé, ou arrancar os olhos, se algum desses órgãos for motivo de escândalo. 

A mão é símbolo da atividade, do trabalho. Jesus emprega as mãos para abençoar, curar, partilhar, tocar os necessitados. Não recebemos as mãos para ferir os outros, golpear, humilhar, fechar e guardar só para si. 

Os pés podem causar danos se nos levam por caminhos contrários à doação, ao serviço. Jesus caminha para ir ao encontro dos que precisam de uma palavra, uma acolhida, uma escuta, um coração que ama.

Os olhos representam os desejos e aspirações da pessoa. Se não olharmos as pessoas e situações com o olhar semelhante ao de Jesus, com ternura e compaixão, teremos uma ótica negativa sobre todas as coisas e nos voltaremos para um egocentrismo fechado.

As comunidades seguidoras de Jesus vivem atualmente em meios complexos, numa sociedade pluralista na cultura, na fé, no estilo de vida. Estamos situados num mundo fragmentado, cheio de brechas que isolam as pessoas e os grupos. Somos chamados a construir “pontes” de diálogo, de reconciliação, na aceitação das diferenças, cultivando o respeito, a comunicação construtiva, na certeza de que o Espírito de Jesus Ressuscitado rompe as barreiras internas e externas para nos converter continuamente em instrumentos do Reino de Deus, anunciadores de Sua Palavra.

Irmã Laís Teresinha Lacerda 

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