MOVIDOS PELO ESPÍRITO SANTO
As leituras desse domingo são um convite a refletir sobre a identidade de Jesus: o foco central. Diante d’Ele ninguém pode ser neutro. Desde o início, as comunidades dos seguidores de Jesus sentiram a necessidade de muita clareza sobre a sua pessoa.
A primeira leitura (Gn 3,9-15) vai buscar a raiz da adesão e da rejeição ao Projeto de Deus para a humanidade: o íntimo do ser humano, o que chamamos coração, centro de nossas decisões, inspirações, sentimentos, atitudes.
O questionamento central é apresentado como apelo de Deus dirigido ao ser humano: “Onde estás”. Não se trata de lugar geográfico ou social. Trata-se do lugar existencial, como a pessoa se situa com relação a Deus, consigo mesma, com os outros, com a natureza. No princípio da criação a humanidade está em harmonia em todos os aspectos dessa relação. A pergunta tem a finalidade de fazer tomar consciência de onde estão as reais motivações das escolhas e de suas consequências. As respostas do homem e da mulher demonstram a tendência a se desresponsabilizar, a se justificar, colocando a culpa fora de si.
O autor quer mostrar que a rejeição às propostas de Deus, a resistência a cumprir sua vontade, abre a porta para entrar o mal no mundo e a desarmonia do ser humano nas suas relações com Deus, consigo, com os outros e com a natureza, deixando-se influenciar por “falsos deuses.” Portanto, o mal não vem do Criador que oferece o melhor para todas as criaturas.
Ao contemplar a beleza do universo, descobrimos a maravilhosa convergência entre os seres criados e reconhecemos que “tudo está interligado,” conforme nos recorda o Papa Francisco.
A segunda leitura (2Cor 4,13-5,1) apresenta a luta para se reconstruir a imagem de Jesus em nosso ser marcado pela desarmonia do pecado. Ela nos lembra a fonte dessa reconstrução. Há um grande apelo para que entremos na dinâmica de conversão, permitindo que a ação do Espírito Santo nos refaça e nos leve à união cada vez mais profunda em Jesus Cristo, com os outros.
O apóstolo Paulo expressa a firme convicção de fé que o sustenta nas tribulações e lhe dá a certeza de que o Ressuscitado não lhe deixa só. Ele diz: “Sei em quem acreditei.” Sua íntima relação com o Senhor Jesus o conduz à relação eclesial e universal com todos os que creem, todos os que buscam e tem sede de Deus.
Seguindo esse chamado, bebendo na fonte do Ressuscitado, toda a nossa caminhada pessoal e comunitária vai sendo marcada por sinais de ressurreição nos pequenos ou grandes gestos, mesmo no cotidiano de nossa vida. Vamos nos tornando luz e acolhendo luz, onde tudo parece obscuro; construtores de esperança, onde há muita dor; descobrindo sementes em terrenos pedregosos, gerando e cultivando vida, na certeza de que “Aquele que ressuscitou Jesus também nos ressuscitará.”
O texto do Evangelho (Mc 3,20-35) apresenta a presença inspiradora e desafiante de Jesus. Vai aumentando o número de seus seguidores e aumenta a controvérsia sobre a sua pessoa. A multidão está admirada com a força e a luz dos seus ensinamentos e dos seus gestos de acolhida, de misericórdia. Os seus familiares acham que Ele está fora de si. Os escribas e mestres da Lei consideram que está possuído pelo demônio.
Desde o seu Batismo, está clara a sua identidade. Jesus foi apresentado como Filho de Deus a quem todos devem escutar. Ele é a salvação divina oferecida a toda a humanidade. Suas palavras e ações sempre tiveram o Espírito Santo como princípio dinamizador atuando n’Ele.
As acusações contra Jesus demonstravam a negação de que o Espírito Santo agia nele; e a afirmação de que agia pela ação do espírito do mal, atribuía ao demônio o que pertencia ao Espírito de Deus. Portanto, uma blasfêmia, uma negação da identidade de Jesus.
Jesus adverte sobre o pecado contra o Espírito Santo, porque aquele que se fecha ao Espírito de Deus, torna-se incapaz de discernir sua misericórdia, em Jesus. Fechar-se para Ele significa fechar-se para Deus e não ser digno do perdão. Não é simplesmente um ato; mas, uma atitude contínua de resistência que bloqueia a possibilidade de abertura ao perdão de Deus.
O mesmo Espírito que agia em Jesus, age em nós, na comunidade dos seus discípulos. Ele sustenta o vínculo entre nós, os seus seguidores, formando a grande família que ultrapassa os laços de sangue. Pertencem à sua família, como irmãos, todos os que tem a sua atitude: estar em comunhão com o plano do Pai, anunciar o seu Reino.
O Espírito é a força que forma e sustenta a comunidade. Atua em nós e além de nós. Ele é a fonte do discernimento daquilo que é obra de Deus e o que procede do espírito humano, ou que vem do mal. Ele purifica o nosso olhar, o nosso sentir, o nosso agir.
Movidos pelo Espírito, somos chamados a formar comunidades fraternas, solidárias com os pequenos, comprometidas na defesa da justiça, cuidadoras da vida.
Irma Laís Teresinha Lacerda – Brasília