Vigiai!

Estamos iniciando o tempo do Advento e com ele um novo Ano Litúrgico.
O Ano Litúrgico, no qual celebramos a vida de Jesus Cristo ao longo do ano, inicia-se com o tempo do Advento e vai a festa de Cristo Rei na última semana do Tempo Comum. Neste novo Ano Litúrgico, ano B, teremos como guia o Evangelho de Marcos.
O Advento, palavra de origem latina – Adventus, significa vinda, chegada e é o tempo específico de preparação para a solenidade do nascimento do Salvador. É tempo de espera, de preparação e vigilância, como também tempo favorável de conversão, de mudar nosso coração e de conformar nossas atitudes e ações com as de Jesus.
A cor litúrgica do Advento é o roxo que nos lembra o apelo à mudanças profundas para a vinda de Jesus, e nos acompanham neste tempo as figuras de Isaías, o profeta que mantém a esperança do povo através do anúncio da vinda do Messias; João Batista, aquele que reconhece Jesus como Salvador, ainda no ventre de sua mãe; José, que acolhe Jesus, o Filho de Deus, como seu filho; e Maria que com o seu sim acolhe a Palavra em seu ventre tornando possível a vinda de Jesus entre nós. Essas 4 figuras são representadas pelas 4 velas da coroa do Advento que também representam as 4 semanas de espera.
Os textos bíblicos desse Primeiro Domingo do Advento nos convidam a vigiar, a estar atentos à vinda da redenção em meio a tudo que acontece no dia a dia. A palavra vigiar está no centro da espiritualidade do Advento. Ela nos convida a esperar e estar atentos à chegada do Senhor da História e Senhor de todos.
O texto desta da primeira leitura (Is 63,16b-17, 19b; 64,2b-7) está contido no Terceiro Livro de Isaías, escrito no período do pós exílio. Jerusalém está desolada e vive um tempo de reconstrução; a população está desanimada e desesperançada.
O texto está em forma de oração ao Deus Pai e Redentor. O título redentor, em hebraico “goel” é um titulo do antigo direito de Israel, a quem reservava a um parente próximo o dever de defender e proteger um familiar, ou vingar um parente assassinado. Esse título vem nos lembrar que Deus é nosso “goel”, nosso defensor, nosso protetor e salvador.
Nessa oração o profeta reconhece que o povo endureceu o seu coração. Lembrando as maravilhas realizadas outrora por Deus ele pede confiante, que o Senhor venha novamente ao encontro do seu povo e mostre sua face. O profeta pede a Deus porque sabe que só Ele pode fazer o povo voltar-se inteiramente para os seus caminhos. Só Deus pode mudar o coração das pessoas.
A Leitura Bíblica nos convida a reconhecermos nossa fragilidades e também que só Deus pode nos redimir e salvar. Ele pode, nos moldar novamente, e construir vida nova, como o oleiro molda a argila que tem nas mãos.
A segunda leitura é da Carta aos Coríntios (1Cor 1,3-9). A comunidade de Corinto nasceu da pregação de Paulo em sua segunda viagem missionária. Nessa cidade, Paulo vivia em casa de Áquila e Priscila e trabalhava com sua equipe missionária: Silvano e Timóteo. A cidade de Corinto era uma cidade portuária bastante desenvolvida, com uma população formada a partir de muitas culturas e etnias. Havia um contraste grande entre a riqueza e prosperidade com a miséria, pois dois terços da população era escrava. A comunidade que aí nasceu era composta de pessoas de origem grega e também hebraica, por escravos e livres.

Nessa cidade Paulo vivia em casa de Áquila e Priscila e trabalhava com sua equipe missionária: Silvano e Timóteo. É nesse contexto de diversidade que Paulo procura manter a esperança da comunidade na vinda do Senhor.

O texto é uma ação de graças a Deus pelos muitos dons que Ele concedeu generosamente à comunidade de Corinto. Os dons principais concedidos por Deus à comunidade são a palavra e o conhecimento. Por ser uma comunidade rica em dons, a mesma deve perseverar na espera da vinda de Jesus procedendo retamente e colocando os dons à serviço da construção da comunidade que Jesus deseja. Para que essa comunidade caminhe de acordo com o projeto de Deus é necessário a vigilância para que os dons recebidos estejam direcionados para o bem da comunidade e de cada um de seus membros. 

O Evangelho de Marcos (13,33-37), foi escrito entre os anos 65 a 70. Nesse tempo as comunidades enfrentaram muitas dificuldades: perseguição dos judeus por Nero, em Roma, que repercutiu na Palestina, levante dos judeus contra os romanos originando a guerra judaica e culminando com a destruição do templo de Jerusalém. A comunidade de Marcos vive um contexto de perseguições, de guerra, de sofrimento, um sentimento de que o fim está chegando. Os membros da comunidade se perguntam como será o fim dos tempos. Para animar a comunidade, Marcos escreve este discurso escatológico que é o capítulo 13 do seu evangelho. É conhecido como pequeno apocalipse, porque tem uma linguagem simbólica como o livro do Apocalipse. O tema que está contido neste texto é a vigilância e nos convida a preparar e refletir sobre a atitude de espera de Jesus pelo cristão. Jesus está sempre conosco, mas nos preparamos para a vinda litúrgica do Senhor, no Natal. 

O texto nos mostra como viver este tempo de espera do Senhor, através da parábola do homem que viajou e deixou sua casa aos cuidados dos empregados, dando responsabilidades a cada um.

No início do capítulo 13, onde está inserido o evangelho deste domingo, Jesus está sentado no monte das Oliveiras, voltado para o templo, conversa com quatro de seus discípulos: Pedro, Tiago, João e André. São os quatro primeiros discípulos chamados por Jesus no início do seu ministério. O monte é o lugar da revelação de Deus. Os discípulos estão preocupados com o final dos tempos. 

A casa quer nos mostrar que Jesus constituiu uma família, a família de seus seguidores, onde todos são necessários e cada um recebe e tem uma responsabilidade. O porteiro tem a responsabilidade de vigiar. Ele precisa ficar atento, pois o dono da casa pode chegar a qualquer momento e ele deve abrir a porta para que ele entre.

Ele coloca a importância de vigiar sempre, porque não se sabe o momento que o Senhor virá. O autor usa o verbo vigiar 4 vezes neste pequeno texto e fala dos 4 momentos de vigília que dividia a noite na antiguidade. Isso quer dizer que devemos estar atentos a todos os momentos porque o dono da casa (Jesus) pode voltar a qualquer momento. Ele coloca a importância de vigiar sempre, porque não se sabe o momento que o Senhor virá.

Jesus insiste 3 vezes para que se faça a vigilância. Essa é uma recomendação não só para os quatro discípulos que estão com ele, mas para todos nós seus seguidores e seguidoras: “E o que vos digo, digo a todos: vigiai.” A vigilância consiste em manter vivo o espírito de Jesus em sua casa (a Igreja), que é o espírito de serviço, de justiça, de misericórdia e solidariedade para com todos.

O mundo vive um momento de insegurança e incerteza com tantas guerras, fome, destruição da natureza que provoca migrações, violência, inocentes morrem por causa da ganância de poucos. Mas tudo isso não deve gerar medo em nós, essas situações clamam pela vinda do Senhor. A nossa atitude de vigilância deve nos colocar atentos para responder a esses apelos, pois cada um de nós tem sua responsabilidade pessoal e comunitária de cuidar do que nos foi confiado e levar a esperança e amor às pessoas com as quais convivemos.

Temos que olhar o futuro com a certeza e a esperança de que o Senhor virá.
O tempo do Advento nos ajuda a viver o futuro e as crises com fé e esperança, pois sabemos que o Senhor não nos abandona.

A atitude de vigilância nos convida a estar atentos aos apelos e manifestações de Deus em nossa vida, no mundo e na história. A vigilância não é espera passiva, mas é uma atitude ativa, com ações baseadas no amor e na esperança que traz a certeza da volta do Senhor. Esta atitude cristã da vigilância nos faz pensar no nosso momento atual e nas gerações futuras: que mundo vamos deixar para os que vierem depois de nós? Como o Senhor encontrará a sua casa quando ele voltar?

Irmã Nádia Lucia Cotta

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Uma resposta

  1. Boa tarde! Maravilhosa a reflexão, clara, detalhada e fácil de entender. Vou lê-la mais vezes para inseri-la na reflexão que estou preparando para a celebração do Natal, em minha família. Muito agradecida Irmã Nádia Lúcia. Santo Natal para todas de sua congregação. Abraço, Maria Auxiliadôra (Brasília-DF)

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