Dia das missões e infância missionária
Hoje celebramos o Dia Mundial das Missões e da Infância Missionária. Trazemos na memória o projeto libertador de Deus, revelado por Jesus de Nazaré nas pessoas vítimas de um sistema injusto e explorador. Deus convida a olhar a realidade com coração contemplativo. Para desabrochar o anuncio do projeto na história da humanidade, aguardando a vinda do Reino de Deus.
Na primeira leitura (Jr 31, 7-9): O profeta Jeremias alerta o povo dizendo que a libertação dos exilados e a volta ao país será orientada pelo próprio Deus. Deus, um Pai que cuida com carinho de seus filhos e filhas.
Situando: Jeremias era jovem quando Deus o chamou. Pertencia, provavelmente, a um grupo que se caracterizava pela fé no Deus da vida. Defendia os interesses da população camponesa contra as injustiças da monarquia. Sua linguagem utiliza imagens do campo e sua profecia brota da preocupação com os sofrimentos dos camponeses. Jeremias previu catástrofe. Leva uma vida cheia de conflitos e sofrimentos por combater toda espécie de injustiças.
O texto de Jeremias da liturgia de hoje é um grito de alegria: “Exultai de alegria” pelo que Deus fez e faz com seu povo, resto de Israel. Quem estava disperso, cativo, escravizado e agora volta à terra, é um povo pequeno e arrasado. Composto por aleijados, cegos, mulheres grávidas e parturientes. A gravidez que está sendo gestada pelo resto de Israel é a esperança, a fé em Deus libertador. Mulheres, homens, crianças e jovens são terras de fertilidade, geradas desde o útero terno e materno de Deus. É a partir da gravidez da vida nova que o Senhor reconstruirá a humanidade.
Segunda leitura (Heb,5,1-6): A Carta aos Hebreus qualifica Jesus como sacerdote; uma certeza que alimenta uma comunidade cansada e enfraquecida. Recorda o texto de Jeremias: “Eles chegarão entre lágrimas e eu os conduzirei, por um caminho reto”. Jesus é o sacerdote mediador definitivo entre Deus e a humanidade.
Situando: Este escrito do Novo Testamento chama-se carta só porque, no final, apresenta algumas recomendações e uma despedida. Mas o conteúdo é de homilia ou palavra de exortação. Nada se sabe sobre o autor. A centralidade do texto de hoje é o sacerdócio de Jesus Cristo. Escolhido por Deus Pai: ”Tu és meu Filho, eu hoje te gerei”. “Tu és sacerdote para sempre”. Jesus é o sumo sacerdote por completo. Ele, tirado do meio do povo, é o mediador entre Deus e o povo. Ele tem compaixão de quem se volta para Ele. A mediação de Jesus e seu sacerdócio demonstram a superioridade e perfeição de sua pessoa. Encontramos na pessoa de Jesus o modelo sacerdotal para os nossos tempos atuais.
O Evangelho (Mc10,46-52), conta a linda história da cura de um “cego e mendigo”. Este acontecimento representa o seguimento de Jesus. Descreve a etapa final do caminho para Jerusalém de Jesus e dos seus discípulos. Segundo o Evangelista Marcos, a cura do cego foi o último milagre de Jesus. O papel de Marcos aqui é denunciar a incoerência dos discípulos e dar pistas de como mudar de comportamento.
Pelo caminho, Jesus vai anunciando seu destino de Messias sofredor e mostra as condições necessárias para seu seguimento. Quais são as condições? Humildade, acolhida aos pequenos, o serviço (lava pés!) e a disponibilidade para doar a própria vida por causa do Evangelho.
Os discípulos conservavam pretensões de grandezas, ambição e rivalidades. Eram cegos diante do que Jesus vivia e ensinava. Ainda hoje prevalecem essas atitudes entre quem deveria dar testemunho de desapego. A ambição e a grandeza não parecem superadas.
Bartimeu, cego e mendigo sentado à beira da estrada, grita para que todos possam escutar. O grito do cego Bartimeu simboliza o clamor da população de rua, dos refugiados, dos migrantes atravessando as fronteiras entre países ricos e países pobres. Os humanos criam barreiras, muros, obstáculos para separar as pessoas. O Reino de Deus é sem fronteiras. O mundo criado por Deus é “a casa comum”.
O cego e mendigo Bartimeu parado à beira do caminho, na saída da cidade de Jericó (v. 46) é chamado pelo nome. Por ser cego e mendigo, era uma pessoa excluída. O que lhe restou foi a margem da sociedade e o grito por sobrevivência. O coração dele estava iluminado. Ele via Jesus pelo coração. E agora grita para que outros e outras percebam a presença de Jesus e o testemunho da fé de um mendigo cego. O grito do pobre incomoda. Os que acompanham Jesus tentam abafá-lo. Mas ele gritava mais ainda! Os que queriam abafar o grito incômodo do pobre, agora a pedido de Jesus, são chamados a ajudar o pobre a chegar até ele. É a missão que está em jogo.
O missionário Bartimeu exerceu a função que lhe cabia: dar testemunha de sua fé e convocar os discípulos a seguirem Jesus no caminho de conversão. A importância de um grito vai além das aparências. É necessário gritar forte e saber a razão do grito. Bartimeu, não só gritou, ele despiu de suas vestes. Renunciou ao que tinha de melhor. Parece que o missionário Bartimeu conhecia a passagem do Evangelho de Lucas que diz (10,4): “Não levem bolsa, nem sacola, nem sandálias”. Bartimeu larga tudo e vai até Jesus. Não tem muito. Apenas um manto. Mas era o que tinha para cobrir o seu corpo. Era a sua segurança, o seu chão!
O missionário Bartimeu acredita que Jesus está por perto; os passos e o cheiro do Mestre empolgam o seu ser até o mais profundo. E assim ninguém o segura. Ele acredita. Sua fé em Jesus de Nazaré toma conta dele, orienta sua ação. Então está pronto para correr e anunciar: “O Reino de Deus está próximo”. (Lc10,11b). Bartimeu grita e pula de alegria. Liberdade plena, salto qualificativo na sua vida, ponto alto do encontro com Jesus. Quem se encontra com o Homem de Nazaré, “deixa a música do Evangelho vibrar em suas entranhas” (FT 277) para cantar com o Salmista: “Quando o Senhor reconduziu nossos cativos, parecíamos sonhar; encheu-se de sorriso nossa boca, nossos lábios, de canções”. Só nos resta dizer “Maravilhas fez conosco o Senhor!” Deus fez e continua fazendo maravilhas em nossas vidas. Amém, aleluia!