VÓS QUE ESTAIS TRISTES EXULTAI DE ALEGRIA!

Estamos hoje no Quarto Domingo da Quaresma, conhecido como “Domingo da alegria”, (Domingo Laetare), uma espécie de flexibilização nas penitências quaresmais, para se fortalecer e continuar na caminhada rumo à Páscoa da Ressurreição. Porém, não se chega à Páscoa da Ressurreição sem passar pela paixão e morte.

Os textos de hoje nos convidam a fazer esse caminho, para chegarmos lá onde Ele nos espera, e, é lá na nossa realidade, lá onde estamos, é lá onde a morte e a vida acontecem.

O Segundo Livro das Crônicas (2Cr 36,14-16.19-23), é de autoria anônima e tem por finalidade relatar a história de Israel: da Criação do mundo ao Exílio. Junto com os livros de Esdras e de Neemias são chamados de “Obra do Cronista”. O texto de hoje localiza-se no fim deste livro, relatando dois momentos históricos separados por um intervalo de 50 anos: a queda de Jerusalém (586 a.C.) e o regresso dos exilados a Jerusalém, depois da queda da Babilônia (538 a.C.)

Percebemos aí uma releitura de uma parte da história de Israel lembrando os sofrimentos, as infidelidades, o exílio. “Todos os chefes dos sacerdotes e o povo multiplicaram suas práticas contra a vida de tanta gente…” Mostra que o que acontece de ruim e que provoca muito sofrimento é fruto da uma má administração dos líderes políticos e religiosos. Transparece a lei da retribuição, onde a bondade de Deus não é para todos, mas somente para aqueles que mostram fidelidade. E a infidelidade é castigada com sofrimentos e desgraça.

Deus mostra o pecado cometido, mas cumula de oportunidades quem colabora na conversão do seu povo e ajuda a entrar de novo no caminho da fé. Ele concede sempre a oportunidade de recomeçar. Deus em sua infinita misericórdia consegue que o povo peça perdão e retome a vida.

Parece que esse texto acaba de ser escrito especialmente para o nosso país, o Brasil com tanto descaso – do nosso povo em geral e dos líderes do país – nesta pandemia. Quando se perde a noção e o respeito pela vida de tantos inocentes, não lhes oferecendo condições de viver com dignidade, vai respeitar um templo feito de pedras?

O Salmo 136(137) é visto como obra prima da poesia hebraica. É escrito provavelmente durante o cativeiro da Babilônia. Este salmo é um lamento, transparecem a dor, o sofrimento e o desânimo dos cativos neste período de exílio (586 a.C.) Tem autoria desconhecida, embora possa ser atribuído a Jeremias. É uma oração pela perda de um grande bem “se eu me esquecer de ti, Jerusalém, que me seque a mão direita!” (vv. 5-6). A fidelidade de Deus é para sempre e mesmo estando exilados na Babilônia, Deus está junto do seu povo, permanecendo fiel e misericordioso.

A carta aos Efésios (Ef 2,4-10), foi escrita por volta dos anos 58/60, numa época em que Paulo estava na prisão, tendo por mensageiro Tíquico. Eféso, capital da Província Romana da Ásia, era grande e próspera, tinha um porto que pelo mar fazia ligação com várias cidades.

Esta carta tem como princípio alertar a vivencia do pecado por parte da humanidade, que sozinha não consegue livrar-se dele. Precisamos da graça de Deus. “É por graça que vocês são salvos.“. A vida e a salvação são gratuidades de Deus. Tudo o que fizermos de bom, não se compara com o que Deus tem feito e continua fazendo por nós. A ação de Deus é contínua e gratuita. A salvação acontece para todos os que aceitam Jesus Cristo e seu projeto de amor, justiça e fraternidade, os que aceitam “ser transformados pelos valores do Evangelho”, dizia Santa Maria Eugenia de Jesus.

O evangelho deste domingo (Jo 3,14-21) nos apresenta o diálogo de Jesus com Nicodemos, líder judeu, fiel seguidor do judaísmo, fariseu, membro do Sinédrio, não era um homem qualquer. Ele veio durante a noite conversar com Jesus. Porque de noite? Temia que descobrissem seu apreço por Jesus. Jesus lhe havia dito: “É necessário nascer de novo, nascer do alto para entrar no Reino“. Ele reconhecia Jesus como seu mestre. Esse diálogo continua com a comparação feita por Jesus e recorda a experiência do povo no deserto com Moisés, quando levantou a serpente de bronze para que todos os que fossem mordidos, olhassem para a serpente e ficassem curados. O Filho do Homem, Jesus de Nazaré, será também levantado numa cruz, não só para todos os que crerem nele, não só para serem curados, mas para ter vida e vida que dura sempre.

O evangelista João apresenta esse diálogo de Jesus com Nicodemos, mostrando o longo processo de aceitação da verdade pela humanidade. Jesus mostra sua ligação direta com o Pai, e que por meio Dele, guiados pelo Espírito, podemos chegar à vida eterna. Quem vive assim, pratica a justiça, luta por mais vida para todos, vive o Projeto do Pai que é de vida para todos, com certeza não apoia projetos genocidas, que matam mais que as guerras, não se preocupando com o que pode aliviar o sofrimento e salvar vida. Um exemplo é a dificuldade em disponibilizar vacinas, a demora em ajudas urgentes e necessárias nas epidemias, calamidades, etc.

Num país com tantas riquezas e possibilidades, não justifica quase 300 mil mortes pela COVID-19, até agora. Maria Eugenia vai dizer: “Rezar não é tudo. É preciso rezar e agir” Eu diria: ter esperança de não perder a esperança, de não perder a coragem e a fé, e continuar lutando.

Que Jesus de Nazaré nos inspire em nossas ações. Amém,

IRMÃ GERALDA DO CARMO RA

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