O ano de 2025, que ainda está em seu começo, é um Ano de Jubileu. Mas, o que quer dizer “JUBILEU”? “Jubileu” é uma palavra da família de “júbilo”, que, por sua vez, significa “alegria”. Não uma alegria superficial, que dura apenas o tempo de um sorriso, mas aquela alegria que brota do mais profundo do nosso ser, que perdura e que nos dá ânimo, mesmo em situações difíceis.
Mas, para entender realmente o sentido de “Ano de Jubileu” precisamos remontar às fontes de nossa fé e ir lá no Antigo Testamento… Sim, pois lá vamos ver que o Povo de Deus da Antiga Aliança celebrava um Jubileu a cada cinquenta anos. E era realmente uma alegria, pois o Jubileu era um ano de perdão: quem estava preso ganhava a liberdade, quem era escravo ficava liberto, quem tinha dívidas ficava livre delas… Quem tivesse vendido suas terras ou sua casa por causa de aperto financeiro recebia de volta o que tinha sido seu. Até mesmo a terra tinha um ano de descanso, pois não se semeava nada nos campos naquele ano, para que a terra pudesse se refazer.
Evidentemente, em nossa sociedade de hoje, essas normas não funcionam mais… Mas a Igreja continua a proclamar um Ano de Jubileu, agora de 25 em 25 anos. Esse Jubileu continua a ser um ano de perdão e de libertação, mas agora em nível interior, pessoal. Somos chamados a viver essa libertação como conversão, como mudança de vida, como decisão pessoal de nos tornarmos pessoas melhores, libertadas de tudo aquilo que pode nos “diminuir” como gente: rancores, inveja, maus costumes – tudo aquilo que nos impede de viver a fraternidade que Deus deseja ver reinando entre seus filhos e filhas.
Os Jubileus têm também uma temática especial. O último que foi celebrado, no ano 2000, marcou os dois mil anos de cristianismo e a entrada no Terceiro Milênio. Este, que estamos celebrando ao longo deste ano de 2025, é o Jubileu da Esperança.
No documento em que proclama o Ano Santo, o Jubileu, o Papa Francisco escreve: “Todos esperam. No coração de cada pessoa, encerra-se a esperança como desejo e expectativa do bem, apesar de não se saber o que trará consigo o amanhã. Essa imprevisibilidade do futuro, porém, faz surgir sentimentos por vezes contrapostos: desde a confiança até o medo, da serenidade ao desânimo, da certeza à dúvida. Muitas vezes, encontramos pessoas desanimadas que olham para o futuro com ceticismo e pessimismo, como se nada lhes pudesse proporcionar felicidade. Que o Jubileu seja, para todos, ocasião de reanimar a esperança! A Palavra de Deus ajuda-nos a encontrar as razões para isso” (Papa Francisco, “Spes nos confundit”, 1).
O Papa nos diz que a Palavra de Deus nos faz encontrar as razões para reanimar a esperança. De fato, São Paulo, na sua Carta aos Romanos, fala da esperança e afirma: “Assim, pois, justificados pela fé, estamos em paz com Deus, por nosso Senhor Jesus Cristo. Por ele tivemos acesso, pela fé, a esta graça na qual estamos firmes e nos gloriamos, na esperança da glória de Deus. (……..) Ora, a esperança não decepciona, porque o amor de Deus foi derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado” (Rm 5,1-2,5).
Fé, esperança e amor não se separam. São as três virtudes chamadas “teologais”, porque têm Deus por objeto: tenho fé porque creio em Deus; tenho esperança, porque espero na sua Palavra; tenho amor, isto é, caridade, porque amo a Deus e esse amor atinge também o meu próximo, filho/filha de Deus assim como eu o sou.
Essa esperança que levo no mais profundo do coração não se confunde com as “pequenas esperanças” que posso ter ao longo da vida… Não é a esperança, por exemplo, do estudante que “espera” passar de ano… Nem é a da cozinheira que, ao experimentar em nova receita, “espera” que dê certo… A esperança à qual este Jubileu nos convida é aquela que nos faz colocar em Deus toda a nossa confiança.
Santa Maria Eugênia já dizia isso: “Esperar é colocar a mão na mão de Deus, e caminhar”. E ela completava este seu pensamento dizendo: “Não há mão mais santa nem mais sábia que possa conduzir nossos passos”.
Com essas palavras, Santa Maria Eugênia nos entregava a chave para uma vida de paz interior: confiar em Deus, em sua bondade, em seu amor, nos abre o caminho para atravessar momentos que podem ser bem difíceis na vida. Isso não quer dizer que devemos abdicar da responsabilidade de nossas opções. Somos responsáveis por aquilo que fazemos, pelas escolhas que guiam nossos atos, pelas decisões que tomamos. Mas essas escolhas, atos e decisões, quando marcados pela confiança em Deus que nos guia, vão certamente dar mais certeza a nossos passos.
Neste Jubileu, neste Ano de Esperança, somos chamados a reavivar a chama de nossa esperança. Que possamos não somente viver com entusiasmo e esperança, mas também transmitir esperança em torno de nós, na família, no ambiente de trabalho, no círculo de amigos.
Termina o Papa Francisco o documento de promulgação do Jubileu, dizendo: “O (…) Jubileu, portanto, há de ser um Ano Santo caracterizado pela esperança que não conhece ocaso, a esperança em Deus. Que nos ajude também a encontrar a confiança necessária, tanto na Igreja como na sociedade, no relacionamento interpessoal, nas relações internacionais, na promoção da dignidade de cada pessoa e no respeito pela criação. Que o testemunho dos fiéis seja fermento de esperança genuína no mundo, anúncio de novos céus e nova Terra (cf. 2Pd 3, 13), onde habitem a justiça e a harmonia entre os povos, visando a realização da promessa do Senhor.
“Deixemo-nos, desde já, atrair pela esperança, consentindo-lhe que, por nosso intermédio, se torne contagiosa para todos os que a desejam. Possa nossa vida dizer-lhes: “Espera no Senhor, sê firme, fortaleça-se teu coração, espera no Senhor” (Sl 27, 14). Que a força da esperança encha o nosso presente, aguardando com confiança o regresso do Senhor Jesus Cristo, a quem são devidos o louvor e a glória, agora e nos séculos futuros.” (Papa Francisco, “Spes non confundit”, 25).
Irmã Regina Maria Cavalcanti