Buscar Jesus e deixar-se encontrar pelo seu olhar!

A liturgia deste domingo convida-nos a reconhecer o amor de Deus. Mesmo vivendo em um mundo conturbado por crises, catástrofes e divisão podemos encontrar a alegria de viver. Deus ama todos os seus filhos e não exclui ninguém, nem mesmo os pecadores, os maus, os marginais, os “impuros”. E ainda mostra como podemos ser transformados e revivificados pelo amor de Deus.

Na Primeira Leitura (Sabedoria 11,22-12,2) encontramos um “sábio” de Israel explicando a “moderação” com que Deus trata os opressores egípcios. Essa moderação explica-se por uma lógica de amor: esse Deus onipotente, que criou tudo, ama com amor de Pai cada ser que saiu das suas mãos – mesmo os opressores, mesmo os egípcios – porque todos são seus filhos.

O “Livro da Sabedoria” escrito na primeira metade do século I a.C, é o último livro do Antigo Testamento. Escrito em língua grega, de autor originário de Alexandria, nascido e criado na Diáspora (dispersão dos judeus). O autor usa expressões, termos e concepções do mundo helênico (período de domínio da cultura grega no mundo antigo). O texto dirige-se tanto aos judeus helenistas quanto aos pagãos que se aproximaram do judaísmo. Seu objetivo é convidar os fiéis a redescobrirem a fé dos pais e os valores judaicos; dirigindo-se aos pagãos, convida-os a constatar o absurdo da idolatria e a aderir ao Senhor, o verdadeiro e o único Deus que pode garantir a verdadeira “sabedoria” e a verdadeira felicidade.

No texto de hoje, o autor apresenta três razões para justificar a moderação e a benevolência de Deus:
• Na primeira relata a grandeza e a onipotência de Deus (Sab 11,22). Quem é grande e poderoso, não se sente incomodado e posto em causa pelos atos daqueles que são pequenos e finitos… Ele percebe as razões do agir humano e resulta, assim, a tolerância e a misericórdia.
• A segunda vem dessa lógica que caracteriza sempre a atitude de Deus em relação ao ser humano: a lógica do perdão (Sab 11,23). Ele não quer a morte do pecador, mas que ele se converta e viva; por isso, convida ao arrependimento.
• A terceira tem a ver com o amor de Deus que se estende sobre todas as criaturas (Sab 11,24-26): a criação, obra de amor de um pai, que ama a vida e ama todos os seus filhos. Esse Deus Criador se preocupa, corrige, admoesta, perdoa as faltas, convida a se afastar do mal e a estabelecer comunhão com Ele (Sab 12,1-2).

Em síntese, o Deus apresentado no texto é benevolente e tolerante, cheio de bondade e misericórdia; manifesta que ama todos as pessoas que criou, mesmo aquelas que erram ou desviam do caminho do Criador. Muitas vezes, percebemos males como castigos de Deus. No entanto, fica claro que Deus não está interessado em castigar os pecadores, só procura fazer-nos perceber o sem sentido de certas opções e o mal que nos fazem certos caminhos que escolhemos.

Na Segunda Leitura (2 Tessalonicenses 1,11-2,2) Paulo manifesta inquietação, com as notícias da hostilidade dos judeus para com os cristãos de Tessalônica. Paulo havia chegado a Tessalônica pelo ano 50, pregou aos judeus na sinagoga, obtendo algum sucesso; mas os judeus ficaram incomodados pelo testemunho de Paulo e começaram a sublevar a multidão. O apóstolo teve então que abandonar a cidade às pressas. Em Tessalônica ficou uma comunidade entusiasta e fervorosa, constituída na sua maioria por pagãos convertidos. Paulo continuava inquieto, pois a comunidade ainda insuficientemente catequizada, corria riscos. Então enviou Timóteo a Tessalónica, para saber notícias e encorajar os cristãos. As notícias eram boas. Havia, apenas, algumas questões de doutrina que os preocupavam, sobretudo a questão da segunda vinda do Senhor. Paulo então decidiu escrever aos cristãos, animando-os a viverem na fidelidade ao Evangelho e esclarecendo-os quanto à doutrina sobre o “dia do Senhor”.

Paulo acentua a seriedade da perspectiva escatológica. (Escatologia são duas palavras gregas: eschatos, que significa “último”; e logos, “palavra” ou “dissertação”. Assim, escatologia significa “doutrina ou estudo sobre as últimas coisas”. Tanto na teologia como na filosofia, a escatologia trata dos últimos eventos na história do mundo ou do destino final do gênero humano). Paulo convida a estarmos prontos para o Dia do Senhor, vivendo como de dia, ocupados com as obras justas que Deus nos confiou, sobretudo, o serviço fraterno.
Aos fanáticos que exageram a perspectiva da Parusia, Mas faz uma crítica. (A palavra Parusia vem do grego “parousia” e significa “presença, chegada ou visita”; designa a segunda vinda de Cristo no fim dos tempos). Adverte que a Parusia não se dará por meio das mensagens falsas, perturbadoras e inquietantes que geravam pânico e, pregada por pessoas que usando o nome de Paulo queriam somente ganhar a confiança da comunidade. Paulo anima aos que sob o pretexto da proximidade da Parusia, já não se ocupavam de nada, a retomarem o ânimo, se encherem de esperança para acolher a vinda de Jesus. Convida também ao compromisso da fé e a viver com alegria o tempo presente.
No nosso caminho, pessoal ou comunitário, Deus está sempre presente nos animando e dando forças, para no final do caminho, nos dar a vida plena. Ao longo do caminho, é preciso estar atento para saber discernir o certo do errado. O caminho para discernir o certo do errado está na Palavra de Deus e numa vida de comunhão e de intimidade com Deus.

No Evangelho (Lc 19,1-10) Lucas coloca-nos em Jericó, situado às margens do Mar Morto, a cerca de 34 quilômetros de Jerusalém. Estrada dos peregrinos que se dirigiam a Jerusalém para celebrar as festividades do culto judaico. No tempo de Jesus, é uma cidade próspera, com uma importante rota comercial; considerada um lugar de oportunidades, que devia proporcionar “bons” negócios e várias possibilidades de negócios “duvidosos”.

O personagem que se encontra com Jesus é um publicano, neste caso, um “chefe dos publicanos”: Zaqueu; um homem que o judaísmo oficial considerava pecador público, explorador dos pobres, colaborador dos opressores romanos e, nesse caso, um excluído da comunidade da salvação.

Lucas apresenta Jesus, o Deus que veio ao encontro dos homens e se fez pessoa para trazer a libertação a todos, em especial aos marginalizados e excluídos. O texto mostra que o interesse de Deus é o encontro com a pessoa e o de Zaqueu é a procura do encontro com Deus: encontro do amor do pecador, que se chama contrição, com o amor de Deus, que se chama perdão. Zaqueu procurou ver Jesus, subindo numa árvore porque era “baixinho” (= a sua pequenez e insignificância, do ponto de vista moral) e também porque assim, se escondia dos comentários daqueles que o detestavam. Mas Jesus estava também à procura de Zaqueu e de todos os publicanos e pecadores, para lhes oferecer a graça de Deus. Assim aconteceu o encontro. Jesus se faz acolher pelo pecador!

O subir “em uma árvore” indica a intensidade do desejo de encontro com Jesus, que é muito mais forte do que o medo do ridículo ou das vaias da multidão. Encontrando o seu olhar, Jesus se convida a si mesmo para jantar na casa dele. Jesus começa com ele a amizade marcada pela comunhão da mesa. Zaqueu responde à comunhão, restituindo o quádruplo do que recolhera desonestamente, isto é, dando a metade de seus bens aos pobres. É a salvação do que estava perdido. Jesus cura o pecador por causa de sua procura de “ver Jesus”. É o acolhimento no coração, esvaziado do orgulho e do pecado que, acolhendo o Salvador, enche-se de alegria. A alegria torna-nos capazes de repartir generosamente tudo o que Deus nos deu.

Em nossas comunidades existem dois perigos opostos, ambos muito prejudiciais. Ou se condena pura e simplesmente os ricos e burgueses, ou se coloca todo o peso nos problemas e nas conversões individuais, sem que isso chegue a atingir a realidade social. Cada verdadeira conversão individual, tanto de um pobre como de um rico, mexe com as estruturas do mal e torna o Reino de Deus mais próximo. Zaqueu só resolveu ser generoso após o encontro com Jesus e após ter feito a experiência do amor de Deus. Zaqueu experimentou o amor de Deus quando ainda era pecador, o que provocou nele a conversão. Só a lógica do amor gera amor e só com amor conseguiremos transformar o mundo e o coração das pessoas. O pecado gera ódio, egoísmo, injustiça, opressão, mentira, sofrimento, intolerância, fanatismo.

Deus convida-nos a amar todas as pessoas, inclusive os pecadores; chama-nos a combater o pecado que desfigura a criação e destrói a felicidade e ainda a fazer distinção entre o pecador e o pecado: Como é que acolhemos e tratamos os que têm comportamentos “socialmente inaceitáveis”? Como é que acolhemos e integramos, à luz dos ensinamentos da Igreja, os que manifestam opções ou atitudes diferentes?

Zaqueu tomou a iniciativa de subir a uma árvore, mas é Jesus quem ergue os olhos e o interpela: “Zaqueu, desce depressa, que Eu hoje devo ficar em tua casa”. A iniciativa de Jesus provoca em Zaqueu uma mudança, pois ele nunca teria ousado convidar Jesus para sua casa. Jesus faz-nos ver o que veio ao encontro da humanidade para “procurar e salvar o que estava perdido”.

Se Cristo quisesse hoje ficar em nossa casa, o que teríamos que mudar para que com Ele entrasse a salvação em nossa vida? Zaqueu percebeu o que lhe faltava. Estamos abertos para acolher a salvação que vem de Jesus? A nós, o que nos falta? Crer que “Desde que Deus se fez homem, a tenda em que habita é a carne humana, fazendo do coração de cada pessoa sua morada preferida”. (Santa Maria Eugênia)


Irmã Doracina Rosa Cruz – São Paulo

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