FAZER A VONTADE DO PAI
Iniciamos neste domingo o mês dedicado às missões. Nossa missão de seguidores de Jesus é continuar sua missão construindo um mundo mais justo, fraterno, de paz, alegria. O mundo que Deus quer para todos os seres humanos.
A liturgia do 26º Domingo do Tempo Comum nos mostra que Deus chama todas as pessoas a contribuir na construção desse mundo novo. Cabe a cada um, na sua liberdade, responder a este chamado de Deus e comprometer-se na construção do Reino.
Na primeira leitura (Ez 18,25-28), do livro de Ezequiel, que foi escrito para o povo que estava exilado na Babilônia. Neste pequeno trecho Ezequiel chama a atenção sobre a necessidade de termos uma conduta correta em nossa vida. A justiça é a medida de Deus. Quem se afasta da justiça sofrerá e o que vive de acordo com a justiça de Deus este viverá.
A palavra de Ezequiel nos diz que aquele que vive fazendo o mal sofrerá a consequência de sua própria conduta. O profeta convida as pessoas a comprometerem-se com coerência ao projeto de Deus, assumindo as consequências pelas escolhas que fizer. Mas ele mostra também a misericórdia de Deus, que acolhe o pecador arrependido.
Nestes últimos dias, temos visto e sentido a enorme onda de calor que a terra está sofrendo, em consequência da má conduta do ser humano para com a natureza, por causa da devastação desenfreada, da cobiça, da ambição e ganância. Deus está falando também através dessas consequências, convidando o ser humano a arrepender-se, para que possa viver e a ter ações boas, éticas em favor dos demais.
O salmo (Sl 24 (25) é uma oração em que o salmista pede ao Senhor que tenha misericórdia esquecendo-se dos seus pecados.
Na segunda leitura Paulo, na Carta aos Filipenses (Fl 2,1-11), apresenta a dinâmica do reino: viver de acordo com Cristo, em harmonia, buscando a unidade; não fazer nada por competição, para ser reconhecido, e que a referência seja o outro, não a própria pessoa. Em tudo o que fizermos a referência deve ser o outro.
A segunda parte do texto é um hino cristológico, muito conhecido, que nos convida a seguir o exemplo de Jesus, que não quis ser igual a Deus Pai e se fez servo de todos. Ele esvaziou-se de sua vontade para se entregar totalmente à vontade do Pai.
Este evangelho (Mt 21, 28-32) foi escrito para as comunidades do 1º século, onde havia tensões entre os judeus que não aceitaram Jesus e os pagãos que aderiram ao cristianismo. Os judeus e os pagãos representam os dois filhos da parábola. O trecho do Evangelho deste domingo está inserido na sexta parte do evangelho de Mateus, e se refere ao Advento do Reino dos Céus; é
precedido pela narrativa da purificação do templo e da figueira estéril, esta simboliza a religião estéril de Israel.
O trecho mostra uma disputa de Jesus com sacerdotes e escribas, na narrativa dos dois filhos e dá continuidade à conversa dos sacerdotes e anciãos do povo com Jesus. Jesus estava ensinando no templo e eles o interrogam com a seguinte pergunta: “Com que autoridade fazes estas coisas?” Jesus responde com outra pergunta a qual eles não sabem com responder. Jesus então lhes propõe uma pergunta, contando a parábola dos dois filhos.
Essa parábola descreve a realidade da comunidade de Mateus. A referida comunidade era composta de judeus que aderiram à Jesus e pagãos que aderiram ao cristianismo do primeiro século.
Nessa parábola o pai diz a cada um dos filhos que vá trabalhar na vinha. O primeiro responde: “Não quero”, mas depois se arrepende e vai. Ele não diz que não vai, ele diz que não quer. Ao arrepender-se ele conforma sua vontade à vontade do Pai. Ele muda sua atitude.
A vinha na tradição de Israel representa o povo de Deus e também pode ser comparado com o Reino dos Céus.
O primeiro filho representa os cristãos vindos do paganismo que no início recusaram ao convite de trabalhar na vinha, mas depois mudam de mentalidade através do testemunho dos outros.
O segundo filho representa os judeus, ou seja, o filho mais velho, aqueles que disseram sim a Deus através da lei de Moisés. Eles se julgam superiores aos demais e se consideram os escolhidos, porém eles se recusaram a aceitar a pregação de João Batista. Assim também os fariseus e escribas do primeiro século, consideravam-se os melhores, disseram sim à Deus, porém não aceitaram Jesus.
Jesus então pergunta aos sacerdotes e anciãos qual dos dois filhos fez a vontade do pai. Eles respondem que foi o primeiro. Ele não queria fazer a vontade do Pai, mas arrependeu-se e mudou de atitude. Jesus então diz que os publicanos e as prostitutas entrarão primeiro no Reino dos Céus, porque quando João Batista veio, eles aceitaram, acreditaram nele e o seguiram. Os sacerdotes e ancião, mesmo vendo e ouvindo a pregação de João Batista, não se converteram.
Jesus se identifica com João Batista, como aquele que prega o Reino, que é justiça, verdade, amor e paz. João Batista e Jesus querem que todos trabalhem na vinha.
Os dirigentes religiosos, os que viviam no templo, que falavam palavras bonitas, não acolhem Jesus, mesmo tendo conhecido e escutado João Batista. São eles que respondem ao pai: “Sim, Senhor, eu vou!”, mas não foram. Ao contrário, as prostitutas e os cobradores de impostos, aqueles que não seguem o proposto por Deus, que são impedidos de entrarem no templo, pelo seu comportamento, são os que acolhem e se abrem à proposta de Jesus. Como exemplo temos, no próprio Evangelho de Mateus, Zaqueu, a pecadora arrependida que unge os pés de Jesus e o próprio Mateus que se torna discípulo. Aí vemos que os primeiros a acolherem e entrarem na proposta do Reino, oferecida por Jesus são os excluídos pelo sistema legalista da religião do templo.
Fazer a vontade de Deus é o mandato do Evangelho. Não basta só ouvir, rezar, estar todo o tempo no templo. Fazer a vontade de Deus é praticar, ter ações coerentes com a proposta do Reino e aos apelos da realidade. Cuidar da vinha é cuidar do povo de Deus, dos menores, dos mais vulneráveis, dos esquecidos da sociedade.
Existem pessoas em nossa realidade, que não seguem nenhuma doutrina ou religião, não frequentam a igreja, e são mais coerentes em sua forma de viver e estar em sociedade, servindo os outros sem interesse próprio. Quantas pessoas socorrem os famintos, os que estão em situação de rua, repartem o seu pão e seu tempo; enfim tem atitudes e ações de quem acolhe e aceita o pedido de Deus. Estes estão fazendo a vontade do Pai: “…porque aquele que fizer a vontade do meu Pai que está nos céus, este é meu irmão, irmã e mãe.” (Mt 12,50)
Ao contrário existem os piedosos, que estão sempre na Igreja, fazem bonitas orações, dizem palavras eloquentes mas não seguem a Jesus, nem aceitam sua proposta. Deles Jesus mesmo diz: “Nem todo aquele que me diz ‘Senhor, Senhor’, entrará no Reino dos Céus, mas sim aquele que pratica a vontade de meu Pai que está nos céus”. (Mt 7,21).
Qual dos dois filhos eu sou? Aquele que ouve, diz que não quer, mas depois reflete entende que a missão de seguidores de Jesus é cuidar da vinha e assim concretiza a vontade do Pai? Ou aquele que responde prontamente e não faz o que lhe é pedido? Eu vou trabalhar na vinha sempre que o pai me pede? O desejo do Pai é que todos trabalhem na vinha e entrem na dinâmica do Reino dos Céus.
Irmã Nádia Lúcia Cotta – RA – São Paulo