Nosso Deus é diferente: escolhe os últimos e também os primeiros.
A liturgia de hoje convida a todos para trabalhar. Sim, parece que o desemprego cresce e as chances de sermos contratados, mesmo que seja por algumas horas, é cada vez menor. O convite é para todos, mas implica responsabilidade, compromisso, humildade e sabedoria. Nas leituras, o chamado à conversão, a fidelidade a Deus, o amor e a gratuidade merecem destaque.
Hoje celebramos o Dia da Bíblia na Igreja Católica. O mês de setembro, no Brasil, é chamado o Mês da Bíblia. O “Mês da Bíblia” é um tempo privilegiado para o estudo de um livro ou tema bíblico. Neste ano muitos grupos bíblicos e comunidades se dedicaram ao estudo da Carta aos Efésios com o lema “Vestir-se da nova humanidade” (Ef 4,24).
A primeira leitura (Is 55,6-9) com apenas quatro versículos, traz uma mensagem para um grupo que traz no coração uma grande amargura e falta de esperança.Chamamos estes versículos de “Livro da Consolação”. O contexto é do fim do cativeiro que se aproxima e por isto, cresce a consciência de que são povo de Deus, rumo à terra prometida.
O autor é o Deutero-Isaias ou 2º Isaias, viveu entre os anos 587 e 537 a.C. Ele propõe que todos possam trilhar caminhos que leve mais uma vez, a encontrar Deus através da conversão. Anuncia o rosto de um Deus justo, misericordioso, próximo e que se deixa encontrar, bastando apenas invocá-lo. O profeta está seguro, que se existe atitudes de arrependimento e conversão, Deus perdoa, porque Ele é justiça.
Na segunda leitura (Fl 1,20c-24.27a) o momento é de despedida de Paulo de uma comunidade chamada Filipos, fundada pelas suas mãos, em torno dos anos 50 d.C. Ele está no cativeiro em Éfeso e responde à carta desta comunidade tão querida. Sua resposta é algo forte: “Cristo agora será engrandecido no meu corpo, seja pela vida, seja pela morte. Para mim, de fato, o viver é Cristo e o morrer, lucro”. Suas palavras são de engajamento, pedindo que permaneçam juntos e firmes no Cristo, e que a fé no Evangelho os sustente e anime.
O Evangelho é de Mateus (Mt 20,1-16ª). Para melhor compreendermos esta parábola do Reino, faz-se necessário ir até o seu contexto. Houve a conversa com o jovem rico (19,16-22), a reação dos discípulos (19,23-30). Vamos então, identificar no texto de hoje, a resposta de Jesus e a pergunta feita por Pedro: “E nós que deixamos tudo e te seguimos, que recompensa teremos?” (19,27).
É mais uma parábola do Reino e o lugar geográfico é Jerusalém. Não é necessário muito esforço para identificar aí, uma realidade socioeconômica de desemprego de operários que vendem sua força de trabalho diariamente. O hoje de nosso Brasil e de outros países ainda retrata este cenário de homens e mulheres “diaristas” que concordam em receber qualquer quantia para poder levarem o pão para casa no fim do dia.
O tema de Mateus gira em torno do “comportamento diferenciado” de um patrão, proprietário de uma vinha. Aprendemos que não são pelos nossos méritos que Deus nos acolhe, ama e escolhe para estar junto d’Ele, mas pela adesão ao seu projeto de vida para todos. Não leva também em conta, qual momento da vida cada um está. Ele chama de madrugada, às nove, ao meio-dia ou pela tarde. O seu apelo para servir na Igreja e em tantos outros lugares é permanente e incansável. Você escuta este convite e está atento? Na vinha do Senhor todos são tratados igualmente, não importando o momento de sua adesão ao projeto de construção ao Reino.
Deus quer que sejamos iguais, mesmo em uma realidade onde impera a desigualdade social, política e econômica. Indo ao encontro dos trabalhadores para sua vinha, percebemos com clareza que Jesus quer passar a imagem de um Deus presente e próximo, que ama e conta com todos para contribuir na edificação do Reino. As diferentes horas do convite, quer mostrar que neste Reino, nesta vinha, não há exclusão e sim inclusão, pois estão nas praças e ruas e merecem estar nos primeiros lugares.
Ter uma mentalidade inclusiva na época de Jesus já era difícil, para não dizer impossível. O que importava era a observância da lei. Imbuídos desta mentalidade, a reação dos que foram contratados nas primeiras horas do dia foi de revolta. O dono da vinha, porém, não agiu de acordo com a lei, mas seu critério foi o amor, a misericórdia, a bondade e não uma meritocracia legalista. Será que consigo identificar na minha vida cristã, situações em que promovi a igualdade, a inclusão tendo por critério o amor e a misericórdia?
No Reino de Deus, não existe a exclusão, não importando quem atende primeiro ou no fim da tarde o chamado. O importante, no entanto, é não pensar que quem responder primeiro terá privilégios. Todos são alvos de amor, misericórdia, compaixão da parte de Deus. Agora, se você contínua ainda, no fim da tarde desocupado, é bom correr atrás e se oferecer também para trabalhar na vinha do Senhor. Lá terá sempre lugar para todos, não importando a hora de sua adesão.
Deixemo-nos questionar. Está claro que é possível uma outra sociedade que só acontecerá com a nossa colaboração, em conexão com o jeito simples, gratuito e bondoso de Deus. A maneira do Deus de Jesus agir às vezes é desconcertante. Nosso Deus é diferente, escolhe os últimos e também os primeiros. É necessária uma mudança em nosso modo de ser, pensar e agir e entrarmos no agir de Deus, onde o amor é a única moeda comum.
Celebramos hoje o Dia Nacional da Bíblia, a Carta aos Efésios foi aprofundada por inúmeras comunidades e grupos de círculos bíblicos. Que a Palavra de Deus refletida por tantos grupos seja sempre o centro de nossas vidas, não nos esqueçamos de ter sempre um pé na Bíblia e outro na Vida. Parabéns a vocês que se dedicam ao estudo da Bíblia, fazendo parte de grupos de reflexão, catequistas, todos que estudam e refletem a Palavra de Deus nas famílias, nas comunidades e nas mídias sociais.
Irmã Maristela Correia Costa – RA – São Paulo – Brasil