Deus, Pai misericordioso, ama e perdoa.

A liturgia de hoje exalta a misericórdia de Deus através de toda a história da salvação. Moisés intercede pelo povo infiel, que fabrica um bezerro de ouro. Paulo demonstra sua infinita admiração por ter sido escolhido por Deus, apesar de todas as suas faltas. E o Evangelho nos traz três parábolas que deixam claro que Deus nunca abandona nenhum de nós.

Na primeira leitura (Ex 32,7-11.13-14), Moisés está conduzindo o povo pelo deserto, libertos da escravidão e em busca da terra prometida. Ele repassa ao povo todas as regras de Deus, mas o povo infiel faz um bezerro de ouro para representar Deus. O Senhor fica irado e pensa em abandonar o povo. Moisés intercede, exaltando a honra e fidelidade de Deus. Pede que Deus perdoe o povo, não porque o povo merece, mas relembrando Suas promessas e Sua misericórdia. E Deus acata os argumentos de Moisés.

Tudo isso me faz pensar na imagem que construímos de Deus. Como será que estamos testemunhando Deus na nossa vida? Será que testemunhamos o Deus misericordioso em quem acreditamos ou um Deus vingativo e cruel que não desculpa as faltas dos homens?

Falando em perdoar faltas, ninguém testemunha isso melhor do que Paulo. Na segunda leitura (1Tm 1,12-17), Paulo ressalta algo que nunca deixa de surpreendê-lo, a misericórdia que Deus teve com ele, apesar de sua história de perseguição aos cristãos. Deus oferece amor incondicional a todos os homens, sem exceção.

Repetimos que a justiça de Deus é implacável, imaginando uma rígida aplicação da lei e severa punição aos que se desviam dela; mas a história de Paulo desmente essa lógica e mostra que o amor de Deus se derrama sobre todos nós, independente de suas faltas. E nós, será que estamos agindo como filhos de Deus, como imagem e semelhança d’Ele, e amando nossos irmãos sem distinção?

O Evangelho (Lc 15,1-32), nos traz as três parábolas da misericórdia. Jesus conta essas parábolas como resposta às críticas dos fariseus sobre o Seu comportamento, porque Ele acolhe e abraça pessoas de má reputação. Escribas e fariseus não aceitam nenhum contato com essas pessoas e chegam a atravessar a rua para não passar perto dos “pecadores”. Mas Jesus não só acolhe como se senta à mesa com eles, gesto de muita proximidade.

Na primeira parábola, Jesus fala de um pastor que deixa noventa e nove ovelhas no campo para ir atrás de uma que se perdeu. Parece ilógico, e até exagerado, abandonar tantas ovelhas para resgatar uma, mas assim é o amor de Deus. Ele sempre encontra o filho que se afastou da comunhão com Ele, coloca-o nos ombros, cuida de suas feridas e celebra o seu encontro. A segunda parábola reafirma esse ensinamento de alegria: a mulher que perde uma moeda não sossega até achá-la e festeja com as amigas quando a encontra.

Por fim, temos a parábola do filho pródigo, onde o coração do pai pulsa pelo filho, apesar de sua ingratidão e vida devassa. O filho mais novo, pedindo que o pai lhe dê a herança, indica que o pai não importa para ele, que só lhe interessa o dinheiro. Apesar da ingratidão, o pai respeita a vontade do filho. O rapaz gasta o dinheiro com farras até que chega a passar fome e tenta, sem sucesso, comer o resto da lavagem dos porcos. Quando se vê no fundo do poço, ele se dá conta de que até os empregados do pai têm vida mais digna e decide pedir perdão.

O pai sempre olha a estrada, esperando pela volta do filho, e assim está quando o vê. Antes que o filho possa falar as desculpas ensaiadas, o pai o cobre de beijos e o acolhe, mandando que seja preparada uma festa para celebrar a volta do filho. Ao saber disso, o filho mais velho se enche de rancor.

Essa lógica de Deus em relação aos pecadores deve guiar nossa atitude em relação às pessoas que seguem suas vidas de forma duvidosa ou moralmente reprovável. Quando, com ar de superioridade, como o filho mais velho, em nome da perfeita moral cristã, nós criticamos o próximo, estamos construindo uma imagem de Deus vingativo, diferente daquela que Jesus nos mostra, do Deus misericordioso que converte Paulo e que nunca abandona seus filhos.

Deus nos convida a amar e acolher. Que nós possamos ser Sua verdadeira imagem e semelhança, refletindo amor e misericórdia pelo mundo.

Ana Carolina Paiva Angelo
São Paulo – Brasil

 

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Respostas de 6

  1. Linda reflexão, vem de encontro com a maneira como vejo e vivo Deus. A parábola do filho pródigo é uma das que mais gosto. DEUS SEJA LOUVADO! Pra sempre seja louvado. Deus do amor, da misericórdia, a justiça Divina é toda pautada no livre arbítrio a nós , por ele, concedido. Deus é tão misericordioso que nos permite escolher o que plantar e tão justo, que colhemos exatamente o que plantamos. Um feliz e santo domingo a todos.

    Valéria Mônica

  2. Parabéns Carol!

    Que o amor e a misericórdia de Deus não seja apenas uma mera inspiração para nós, como algo para ser admirado, porém impraticável em nossa mortalidade, mas que, como bons filhos, realmente possamos refletir esse amor e misericórdia, conforme você enfatizou ao fim da sua bela reflexão.

    Obrigada por suas palavras, inspirador!
    Felicia

  3. Tanto a reflexão sobre as parábolas apresentadas assim como a referência a vida de Paulo, que pode ser melhor entendida pelo estudo dos Atos e das Cartas, e tomo a liberdade de acrescentar o inigualável Salmo 55 – o Salmo de Davi –, reforçam que viver em Deus é viver no e pelo amor, felicidade, comunidade e acolhimento. Contudo, não há dúvida que esse caminho é uma escolha, pois depende de cada um aceitar o convite para uma nova vida. Quando, assim como Paulo (At 9, 4-6), ouvimos e respondemos positiva e sinceramente ao chamado d’Ele somos recebidos sem distinção (Ef 1, 5) e acolhidos com o mesmo carinho que recebemos no momento de nossa criação (Gn 1, 27-30). Ao usarmos nossa liberdade e discernimento por meio da ação auxiliadora do Espírito Santo (Jo 3, 8), a quem devemos agradecer e pedir sua constante atuação em nossas interações e relacionamentos, nos tornamos plenos e irradiamos o amor que vêm de Deus (1 Jo 4, 7-16) para formar um crescente e acolhedor campo de bons tesouros (Lc 6,43-49). Ao nos tornarmos íntimos do Pai e entregamos em Suas mãos nossas preocupações somos acolhidos por sua graça (1 Pd 5, 7) e glorificados (Rm 8, 9-18).

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