“TU ÉS O MESSIAS”

Neste Tempo Comum que estamos atravessando na liturgia, ouvimos, a cada semana, o relato evangélico de alguma ação ou ensinamento de Jesus. No domingo de hoje, porém, o esquema parece ser um pouco diferente. De fato, não se trata do relato de algum milagre que Jesus tenha feito, nem de alguma parábola que ele tenha contado à multidão que o seguia, querendo ouvir suas palavras. Trata-se de um momento em que Jesus conversa com os Doze, e lança a eles uma pergunta. Esta pergunta, porém, tem a força de atravessar os séculos e chegar a cada um e cada uma de nós que a ouve hoje… E é uma pergunta à qual não podemos ficar indiferentes… Trata-se de uma pergunta que inquieta, e que exige uma resposta pessoal.

No domingo passado, ouvimos como Jesus curou um homem que era surdo-mudo. E isto, Jesus fez diante de uma multidão… Certamente, dentre as pessoas que presenciaram a cena, pelo menos algumas devem ter voltado para casa com uma pergunta queimando seu coração: “Mas, afinal, quem é este homem? Quem é este Jesus de Nazaré que opera tantas maravilhas?”… Esta pergunta é a mesma, ainda que dita com outras palavras, que ouvimos hoje e que precisamos interiorizar e encontrar para ela a resposta que seja coerente com nossa própria vida… Mas, antes de chegarmos a esta pergunta, vamos refletir sobre as leituras que a precedem na liturgia deste domingo e que preparam o clima para que nossa resposta brote diretamente de nossa vivência pessoal. “Coerência” é uma palavra-chave para que possamos dar nossa resposta.

A Liturgia da Palavra de hoje (Is 50, 5-9 a) abre-se com a leitura de um trecho do profeta Isaías, que viveu vários séculos antes do nascimento de Jesus. Os escritos proféticos de Isaías davam força e esperança ao povo, abatido e entristecido no cativeiro da Babilônia. Depois de ter vivido uma experiência de liberdade, o povo estava de novo vivendo a servidão, debaixo do poder de uma outra nação. Mais uma vez, o povo ansiava por libertação… As palavras do profeta trazem ao povo um reforço de fé e de confiança no Deus que nunca os abandona. No início do texto de hoje, parece até que Isaías está vendo os sofrimentos pelos quais Jesus vai passar. E bem no meio do texto ressoa um grito de esperança, retomado no final: “Mas o Senhor Deus é meu auxiliador, por isso não me deixei abater…”

Esta mesma confiança ecoa no salmo (Sl 116 (114-115) :“Eu amo o Senhor porque ouviu o grito da minha oração…” O salmista entrega sua vida ao Senhor porque sabe, tem certeza, confia cegamente, que o Senhor o livrará.

A segunda leitura, da Carta de S. Tiago, (Tg 2, 14-18), baseia esta confiança na fé, numa fé viva, dinâmica, que produz obras em nossa vida.

Mas é no Evangelho (Mc 8, 27-35), que o que foi anunciado no início deste nosso texto se cumpre. É no Evangelho que Jesus dirige aos Doze uma pergunta, e também a dirige a nós, seguidoras e seguidores dele em pleno século XXI… Vejamos a cena: Jesus está caminhando com os Doze e, no caminho, pergunta a eles quem o povo diz que ele é. Ele está querendo saber, no fundo, qual a percepção que o povo tem dele, se estão entendendo sua mensagem, se estão crendo em suas palavras. Os discípulos respondem de acordo com o que ouvem o povo dizer: que ele é um dos antigos profetas que teria ressuscitado…

Mas aí Jesus vira a pergunta e se dirige diretamente a eles: “E vocês? Quem vocês pensam que eu sou?” Esta é uma pergunta diante da qual cada um deve desnudar seu coração e responder com a verdade de seu próprio ser… Por isso, no início deste nosso texto, dizíamos que a coerência é tão importante nesta resposta. Se respondemos que, para nós, Jesus é o Filho de Deus, enviado pelo Pai, não podemos deixar de comprometer toda a nossa vida em seu seguimento, continuando através dos tempos a missão que foi a dele…

Neste contexto, Pedro aparece realmente como nosso retrato… Impulsivo por temperamento, apaixonado em suas tomadas de decisão, ele aparece, apenas na distância de algumas linhas do evangelho, em duas posições opostas. Diante da pergunta de Jesus, Pedro responde em nome dos demais: “Tu és o Messias” (Mc 8, 29).

Nestas poucas palavras, ele coloca todo o ardor de sua fé e de seu amor para com o Mestre. É um homem que fala espontaneamente, muitas vezes sem parar para pensar… É o que acontece com a sua segunda fala nesta cena… Depois da primeira resposta de Pedro, Jesus começa a falar sobre os sofrimentos e a morte que vão cair sobre ele mesmo, o Messias. Mas Pedro não compreende que este é o caminho pelo qual Jesus vai ter que passar, e começa a dizer que nada disso iria lhe acontecer. E foi então que Jesus o censurou fortemente: “Vai para longe de mim, satanás! Tu não pensas como Deus, e sim como os homens”.

Deus nos conhece tal como somos: fracos, por vezes incoerentes, desdizendo-nos a nós mesmos, muitas vezes sem saber que rumo tomar… Ele sabe de tudo isto, mas nos ama apesar de tudo… Por esta razão podemos confiar nele cegamente, como o profeta na Primeira Leitura e como o salmista. Podemos colocar toda a nossa fé nele, sabendo que ela produzirá bons frutos, frutos agradáveis ao Pai. Podemos ainda afirmar e confirmar nossa fé e nosso amor para com Jesus, sabendo que ele nos dará forças para continuar fiéis aos compromissos de nossa vocação.

 

IRMÃ REGINA CALVACANTI  ITAPURANGA GO

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