08 de Setembro de 2024
“Efatá! Abra-se!”
Neste domingo a liturgia reforça o comprometimento de Deus com a felicidade de seus filhos, mostrando que Ele está sempre presente em nossas vidas, nos guiando, nos orientando e nos conduzindo à plenitude da vida.
Na primeira leitura (Is 35, 4-7a), o povo hebreu está há bastante tempo exilado na Babilônia. As pessoas já estão desencantadas, desanimadas, o desespero bate à porta e vem o pensamento de que Deus se esqueceu delas, as abandonou. O povo é retratado pelo profeta como coxo, pois não podia caminhar de volta para sua terra; cego, porque não enxergava a libertação; e mudo, por não conseguir louvar. Estão sem perspectivas para o futuro e por isso, esperam que Deus mande o messias que seria o libertador e os curaria de todos esses males. A resposta de Deus vem como uma ordem bem clara “Criai ânimo! Não tenha medo!” e, na sequência, mostra as maravilhas da vida após a libertação: o mudo cantará, brotará água no deserto, enfim, a vida se tornará mais alegre e frutífera. A fala do profeta serve como despertar para o povo, que recobra o ânimo e deposita na fé em Deus a certeza de que a libertação está próxima.
A segunda leitura (Tg 2,1-5) propõe uma reflexão sobre a mensagem de Jesus, como devemos seguir nosso caminho como cristãos, indicando que a fé se concretiza através das ações e do amor ao próximo. Fica a ideia de que pouco adianta termos uma vida de muita oração se, nos momentos em que nos deparamos com alguém diferente de nós, não colocamos o amor de Jesus em prática e fazemos distinção desta pessoa. O autor chama este hábito ruim de assepsia de pessoas, isto significa diferenciar as pessoas de acordo com suas características físicas, suas roupas ou pela forma como se comportam, se vão ou não à missa, se estão distraídas no celular. Somos todos filhos amados de Deus e não devemos controlar a experiência de fé do irmão. Nossa missão no mundo é aprender a acolher o outro, com seus defeitos e qualidades.
A passagem trazida no Evangelho (Mc 7, 31-37) acontece numa região chamada Decápole, que é um conjunto de dez cidades com forte influência grega, portanto considerada pelos hebreus como uma região de pagãos. Jesus faz seu caminho atravessando a Decápole, não para pegar um atalho, o caminho fica até mais longo, mas Ele é ousado e escolhe fazer este caminho, porque sempre tem algo para nos ensinar. Neste caminho, um homem surdo e mudo é trazido até Jesus e os que o trazem pedem a sua cura. Mesmo em meio ao povo pagão, a fé já se espalha e os amigos levam este homem até Jesus, intercedendo por ele. Jesus, então, se afasta com o rapaz e o cura num lugar separado, longe dos olhares de todos, porque Ele se atenta àquilo que é mais importante, a pessoa, evitando os curiosos que só estariam interessados no espetáculo. Para realizar esta cura, Jesus toca os ouvidos e a língua do homem, este gesto é repetido até hoje pela Igreja em todo batismo, porque ouvir é uma condição essencial para que se escute a Palavra de Deus, para que se possa louvar e professar a Palavra pelo mundo.
Todos nós temos a experiência de falar e sentir que não somos escutados, não é mesmo? Deus vivencia isto o tempo todo, Ele está constantemente falando conosco e não escutamos. Acontece que Deus fala diretamente ao nosso coração, só entra se for convidado e fala baixinho, precisamos fazer silêncio para ouvir. É diferente das coisas do mundo que roubam nossa atenção, que chegam arrebentando, fazendo barulho, sem pedir licença. Por isso é tão importante sabermos ouvir. Podemos começar a treinar nossos ouvidos com nossos familiares e amigos, abrindo o coração para compreender, fazendo silêncio enquanto o outro se abre, sem julgar, sem criticar de forma desconstrutiva. Como já vimos, devemos acolher o outro com seus defeitos e qualidades e quanto mais fizermos isso, mais fácil será praticar o silêncio necessário para ouvir a voz de Deus.
Ana Carolina Paiva Angelo
São Paulo – Brasil