“Senhor ressuscitou realmente e apareceu a Simão!”
A liturgia deste Segundo Domingo da Páscoa nos coloca frente aos acontecimentos que sucedem à morte de Jesus Cristo. Mesmo tendo caminhado com o Mestre, vivido com Ele, a morte na cruz os faz crer que tudo o que acreditavam acabou. Assim diz o livro do Deuteronômio 21,23 “…O que for suspenso no madeiro, é um maldito de Deus”. Como manter a esperança diante desta realidade?
Somente a experiência da Ressurreição, que vai se dando nos acontecimentos posteriores à morte de Jesus, é que pode cimentar a fé desta comunidade.
Neste domingo, a proclamação de que Cristo vive se dá no encontro do próprio Cristo com seus discípulos, reunidos a portas fechadas, ainda com medo da perseguição dos judeus.
Tomé, que no primeiro momento não está presente na experiência dos demais Discípulos, é convidado a tocar as mãos do Senhor. Nós, na liturgia deste segundo domingo, somos chamados a tocar o Cristo ressuscitado na experiência da fé de tantos irmãos e irmãs que, no decorrer da história, vivenciaram o Cristo vivo presente no outro.
Primeira Leitura (Atos dos Apóstolos 5,12-16), do livro dos Atos dos Apóstolos, que aparece na literatura Bíblica como o segundo livro do Evangelista Lucas. Nesta obra escrita pelo Evangelista, é possível perceber o desenvolvimento da Igreja primitiva, sob o impulso do Espírito Santo. Alguns estudiosos chegam a chamar o livro de atos de “O Evangelho do Espírito”.
A primeira leitura de hoje, nos faz refletir sobre o início da primeira comunidade cristã, um grupo de excluídos que aos poucos vai formando a sua identidade de fé.
“Muitos sinais e maravilhas eram realizados entre o povo pelas mãos dos apóstolos. Todos os fiéis se reuniam, com muita união…” Nesse versículo 12, temos os sinais que eram realizados pelos Apóstolos no meio do povo. Embora a população se maravilhasse com estas obras, ainda não tinham a coragem de se juntar a eles, o que nos leva a acreditar que a conversão neste primeiro momento acontece entre aqueles que não têm mais nada a perder; entre os que encontravam, nesta comunidade, abrigo e acolhida.
A vida em fraternidade, a comunhão entre os irmãos deveriam ser a marca dos que seguiam Jesus. A vivência da mensagem pregada por Jesus Cristo, era o fator principal na conversão daqueles que queriam aderir a esta fé; ou seja, a fé deveria provocar na vida dos seguidores de Jesus, um novo modo de ser, totalmente novo naquele ambiente.
Segunda Leitura (Apocalipse 1, 9-11ª. 12-13. 17-19). A palavra apocalipse, do grego apokalypsis, significa revelação; o capítulo 1, que estamos refletindo na liturgia de hoje, nos traz a visão preparatória do Apóstolo João, para o desenvolvimento dos demais capítulos do livro.
Não se trata de uma história profética, das coisas que estariam por acontecer. O livro, através de sua linguagem simbólica, apresenta a ação salvífica de Deus na história, dando à comunidade perseguida da época força para suportar toda tribulação e dor.
A leitura tem seu início com o testemunho do próprio João que, por testemunhar a Cristo, é levado ao exílio na ilha de Patmos. Lá, guiado pelo Espírito Santo, vê sete candelabros e, no centro deles o Filho do Homem (Jesus Cristo), ressuscitado, envolto em uma túnica branca e uma faixa de ouro no peito.
Diante desta visão, João cai como que morto e é levantado pela mão direita do Filho do Homem, que diz: “não tenha medo”. Sendo assim, aqueles que são perseguidos, mortos pelas tribulações, não precisam temer, pois a mão direita de Jesus está com eles, a força de Deus os sustenta no caminho.
Jesus que esteve morto, ressuscitou e em suas mãos estão as chaves da morte e da região dos mortos. Ele venceu a morte, vive eternamente em sua comunidade, a comunidade daqueles que acreditam em sua mensagem; esta é a principal mensagem deste capítulo do livro dos Atos.
O Evangelho de João (Jo 20,19-31), tido por muitos teólogos como o mais teológico dos quatro Evangelhos, tem pressa em apresentar para a sua comunidade os acontecimentos que marcaram a vida de Jesus.
Na liturgia deste Segundo Domingo da Páscoa, vemos o encontro da comunidade dos discípulos com o Cristo ressuscitado. Eles estavam trancados, com medo. Se Cristo foi crucificado, o que será que os aguardava?
Ao se fazer presente no meio de seus discípulos, Jesus lhes deseja a paz. Logo o medo se esvai, a alegria toma conta da comunidade ali reunida. É importante notar que a experiência com o Cristo ressuscitado muda a vida daqueles que antes se encontravam sem animo (alma).
Mas, esta experiência não pode permanecer naquela sala, com aquele grupo. Jesus convida os seus a anunciarem a alegria que tiveram ao verem o Senhor: “como o Pai me enviou, também vos envio”. É um convite para a mudança de postura: devo levar para o mundo a alegria deste encontro, para também transformar a vida daqueles que sofrem com tantas situações de morte e angústia.
É importante percebermos que nesta missão, eles não estariam sozinhos, Jesus sopra sobre eles o seu Espírito, o Espírito do amor, da coragem e principalmente do perdão. Assim, somos chamados a viver impelidos pelo mesmo Espírito.
Nesta comunidade ainda falta um personagem: Tomé não estava com o grupo no momento do encontro com o Cristo Ressuscitado. Ao ouvir o testemunho daqueles que vivenciaram o Cristo vivo, Tomé é chamado a manifestar um ato de fé. Mas, sua vontade de se encontrar com Jesus era tão grande que precisava tocar nas mãos, ver o seu Senhor.
Irmãos e irmãs, continuamos na experiência da Páscoa, Cristo vive, não ficou preso às amarras da morte. Ressuscitou, Aleluia, Aleluia!
A ressurreição de Jesus, apresentada na experiência dos primeiros discípulos, nos convida a transformar nossas vidas. Eles, que antes estavam trancados com medo da perseguição e da morte, agora são convidados a sair e anunciar a Boa Notícia para todas as nações.
A experiência é real, isto é visível na conversão, na mudança de vida daquelas primeiras testemunhas, na mudança que levava outros de fora a querer também estar no meio dos discípulos, vivendo com eles em comunhão de amor.
Assim, também nós hoje, comunidade fundada no carisma de Santa Maria Eugênia, precisamos gritar para o mundo que Cristo ressuscitou e, através de nosso exemplo, transformar a realidade que nos cerca em experiência de vida.
Quantos são aqueles que, jogados pelas ruas de nossas cidades, sofrem a dor da perseguição, da invisibilidade. Quantos têm seus corações partidos pela indiferença e o egoísmo que nos cerca!
Precisamos assim como as primeiras comunidades cristãs, viver em nosso meio o amor; que a ternura seja a marca de nossa comunidade, para que também hoje, aqueles que se encontram chagados pelo mundo, possam encontrar, em nosso meio, refúgio e paz.