09 de março de 2025
Iniciamos a Quaresma na Quarta-Feira de Cinzas e, hoje, celebramos o primeiro domingo desse tempo litúrgico. Durante este período, somos convidados a acompanhar Jesus em seu caminho para a paixão, morte e ressurreição. A Quaresma é um tempo privilegiado para viver mais intensamente a penitência e a conversão, o que ajudará a viver – no mais profundo do ser – a relação com Deus, consigo mesmo e com os irmãos e irmãs. A conversão tem uma dimensão social, pois transforma interiormente e gera mudança nas relações em comunidade, nas famílias, no ambiente de trabalho e na própria sociedade.
Este ano, o tema da Campanha da Fraternidade, “Fraternidade e Ecologia Integral”, é um apelo para que a conversão seja mais ampla e profunda. Quer dizer, somos chamados a viver a conversão de maneira a mudar nossa relação com a criação, a Casa Comum. Como criaturas, parte da obra criadora de Deus, temos a responsabilidade de trabalhar e cuidar da natureza, ajudando a criar ambientes saudáveis onde estivermos. Isso implica cuidar das relações com todas as criaturas.
Santa Maria Eugênia disse: “A terra é um lugar de glória para Deus.” E ela “sonha com uma sociedade onde nenhuma pessoa sofra a opressão de outros.” Olhando nossa realidade hoje, sabemos que a vida está sendo destruída e desvalorizada em diferentes contextos, através das guerras, da destruição da natureza, da poluição, das várias formas de violência, da exploração dos recursos naturais etc. Mas a Terra continua sendo lugar de glória para Deus, que está presente junto ao seu povo, principalmente dos excluídos, migrantes, doentes, escravizados e deslocados.
Nossa conversão é um processo que, guiado pelo Espírito, nos ajudará a viver mais concretamente nossa missão de batizados, membros do povo de Deus, Peregrinos de Esperança.
A primeira leitura deste domingo, do livro do Deuteronômio 26,4-10, faz memória da caminhada do Povo de Deus e de sua libertação da escravidão do Egito. Deus acompanhou seu povo durante todo o tempo de sofrimento e opressão. É importante fazer atenção aos verbos que aparecem nessa leitura: “clamamos ao Senhor, o Deus de nossos pais, e o Senhor ouviu a nossa voz e viu a nossa opressão, a nossa miséria e a nossa angústia. E o Senhor nos tirou do Egito […] e conduziu-nos a este lugar e nos deu esta terra, onde corre leite e mel…”
Toda a humanidade tem direito à terra para viver. Todos aqueles que vivem sem uma pátria, sem um lugar para viver dignamente, são membros do povo de Deus que ainda hoje busca uma terra “onde corre leite e mel”. A terra prometida é direito para todos. Este é o convite da Campanha da Fraternidade: engajarmo-nos na luta por uma sociedade justa e fraterna, a Casa Comum, onde há lugar para todos os homens e mulheres.
Como o povo apresentava a Deus os frutos da terra, nós somos convidados a partilhar com aqueles e aquelas que não têm o necessário. Esta é uma maneira de oferecer a Deus os frutos da nossa conversão: mudar nossas relações e nosso olhar sobre a outra pessoa, principalmente aqueles que discriminamos ou com quem temos dificuldade de convivência.
A segunda leitura da Carta aos Romanos 10,8-13 nos revela que a Palavra de Deus é vida em nossas vidas: “Ela está bem perto de ti, em tua boca e em teu coração.” São Paulo afirma que a salvação veio para todos. Mas, em uma comunidade dividida, é difícil vivenciar a salvação. Toda pessoa que acreditar em Deus, independentemente de sua origem, cultura ou condição, faz parte da mesma família. Deus não faz distinção de pessoas. Esta é a salvação anunciada por Jesus, o projeto de Deus a toda a humanidade, não importando de onde a pessoa veio. A leitura nos mostra que a salvação é cultivada no dia a dia, no cotidiano de nossas vidas. E não podemos prescindir, nós cristãos, da relação e da presença de Deus, se quisermos alcançar a salvação. Nenhuma pessoa é excluída do projeto de salvação de Deus, do seu Reino, por causa da cultura ou origem.
O evangelho de Lucas 4,1-13, que trata das tentações de Jesus, vem logo depois do relato de seu batismo. Foi o Espírito que conduziu Jesus ao deserto, mostrando a importância de se deixar guiar pelo Espírito de Deus. Ele nos sustenta diante das tentações de poder, ganância, exibicionismo e ilusões da riqueza. Jesus resistiu à tentação.
Depois do batismo, Jesus foi para o deserto, onde se preparou para sua missão. Os quarenta dias que Ele passou no deserto fazem alusão aos quarenta anos do povo de Deus no deserto, quando foi libertado da escravidão no Egito. O deserto é o lugar do encontro consigo mesmo e com Deus. Jesus jejuou e se deixou conduzir pelo mesmo Espírito de Deus, que o sustentou e fortaleceu diante das tentações, revelando que veio para fazer a vontade do Pai e realizar o projeto do Reino de Deus para todos.
Todos os cristãos, seguidores de Jesus, são convidados a fazer essa caminhada de quarenta dias durante a quaresma, atentos a tudo aquilo que é tentação em nossas vidas, contando sempre com a presença de Deus.
Irmã Raimunda Barbosa Pereira